Barómetro da semana: Quanto custa o nosso vinho em euros - TVI

Barómetro da semana: Quanto custa o nosso vinho em euros

  • Gustavo Cardoso, Professor Catedrático ISCTE-IUL
  • 24 mar 2017, 19:38
Jeroen Dijsselbloem e Mário Centeno

A semana noticiosa foi marcada pelas declarações propositadamente polémicas de Dijsselbloem e de múltiplas desgraças, quase todas envolvendo a Europa

Nos programas de televisão abertos à participação dos cidadãos, como o “Discurso Direto” da TVI24, muitas vezes surge a crítica de que se deveria falar mais do quotidiano e não tanto da Europa, pois o que interessa ao cidadão português seriam os problemas do quotidiano dos portugueses. No entanto, a Europa é o nosso quotidiano. Desde 1986 que tudo o que se passa no nosso dia-a-dia está ligado, subordinado ou influenciado pela geringonça original que é a União Europeia. Pois, geringonça é sinónimo de “aparelho ou máquina considerada complicada, uma coisa consertada que funciona a custo”, e nenhuma outra definição assentaria melhor na União Europeia.

Muito se discutiu e muitas foram as declarações políticas sobre o 5º tema noticioso da semana ou, se preferirmos, sobre Dijsselbloem. O Presidente da República, o Primeiro-Ministro e os deputados, em uníssono, condenaram o Presidente do Eurogrupo por ter dito que a Sul da Europa se gastava o dinheiro todo em mulheres e vinho.

No entanto, o que deveria ser notícia é que na política europeia passou a ser prática corrente (e genericamente aceite) culpar diretamente o “outro” e defender a posição pública de isso ser lícito. Marine Le Pen diz que quer “acabar com a imigração legal e ilegal” culpando os emigrantes, sejam eles da Europa ou de fora dela, e Dijsselbloem diz que nos países onde se cultiva a vinha (todos os a sul do Reno) é tudo gente à qual deve ser apontada alguma culpa, pois são europeus tolerados, mas que na realidade talvez não devessem estar na Europa – ou, pelo menos, que não merecem ter euros.

Mesmo que esse comentário pareça excessivo, a realidade do nosso quotidiano é que aquilo que antes era alvo de piada de café sobre os estereótipos de cada um dos habitantes dos diferentes países da Europa (por exemplo que os Finlandeses são “isto” ou que os Italianos são “aquilo”) passou a ser parte central do discurso político, tendo por objetivo encontrar culpados para os diferentes problemas que não se sabe ou não se quer resolver e, por consequência, fazendo sempre outros cidadãos deixarem de se sentir bem naquela que era até agora a sua “casa”.

Os atentados de Londres, capital de um país europeu em vias de sair da União Europeia, foram o tema da semana, lembrando-nos que tudo isto começou com a última invasão do Iraque, organizada nos Açores, e que agora nada mais nos resta senão prevenir o terrorismo e lutar pela paz no Médio Oriente, na expetativa que seja possível não eternizar este conflito que também tem o seu campo de batalha na Europa.

A banca portuguesa e a Caixa Geral de Depósitos continuaram o seu périplo de desgraças, passando pela audição do Governador do Banco de Portugal (título que deve ser o último reminiscente das lógicas coloniais dos “governadores”, pois já nem governadores civis há), o Montepio Geral e os juros dos empréstimos da Caixa. Tudo embrulhado sempre em temáticas ou personagens de cariz europeu, seja porque a CGD se financiou através do Luxemburgo com “edge funds” europeus ou porque o BCE tem governadores em todas as capitais do Euro.

As únicas temáticas da semana iminentemente nacionais, ou se preferirmos portuguesas, foram os desastres, acidentes, incêndios, poluição, homicídios e Sócrates.

 

 

 

 

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de aproximadamente 411 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.

 

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