Barómetro de notícias: Todos para a prisão - TVI

Barómetro de notícias: Todos para a prisão

  • Gustavo Cardoso, Professor Catedrático ISCTE-IUL
  • 24 fev 2017, 21:37
Prisão

Nem CGD, nem offshores. Esta foi a semana da grande evasão da prisão de Caxias e da captura dos fugitivos, dentro e fora de fronteiras.

O título deste barómetro é claramente populista. Pois, na voz popular "todos para a prisão" é, neste período da nossa democracia, sinónimo de dizer que todos os políticos são corruptos e que o seu lugar é na prisão. Sabemos que não é assim, pois a política e os políticos são muito mais sérios e trabalhadores do que a voz popular e os próprios argumentos dos políticos, usados para se denegrirem mutuamente, deixariam antever.

No entanto, "todos para a prisão" é o corolário da semana noticiosa, pois a fuga de dois chilenos e um português foi alvo das atenções ao longo de vários dias, inclusive destronando o futebol de um possível primeiro lugar na nossa atenção.

A prisão de Caxias, para além do mais, é também um espaço simbólico da memória. Caxias fez cem anos enquanto estabelecimento prisional em 2016, mas foi a sua utilização como prisão política até ao 25 de Abril que marcou mais a memória social dos portugueses. Daí, que uma fuga de presos de Caxias ganhe tanto relevo na nossa atenção, pois cruza memórias e medos.

A título de curiosidade, esta fuga não terá sido o episódio mais insólito da história de Caxias, pois numa recolha de imprensa da época pós-revolucionária cruzei-me, há largos anos, com uma notícia sobre uma manifestação de militantes de um partido de extrema-esquerda, envolvendo protestos frente à prisão de Caxias, uma carga da polícia militar, uma fuga para o Jamor, tudo misturado com uma prova internacional de atletismo e a demonstração que correr e fugir se misturam facilmente.

A semana das notícias teve também a normal polémica semanal sobre a Caixa Geral de Depósitos, num mimetismo da lógica das novela, na qual há um tema central e depois se multiplicam as pequenas histórias que alimentam o tempo necessário para chegar à centena de episódios.

Curiosamente, duas velhas ameaças a Portugal, a financeira e a nuclear, surgiram esta semana de braço dado na atenção jornalística, demonstrando que a velha crise do Novo Banco/BES e a velhíssima central nuclear espanhola de Almaraz continuam a prender a nossa atenção.

Se a fuga da prisão foi o número um nos destaques noticiosos, esta também foi a semana em que os dois políticos com mais ódios de estimação entre os portugueses, de diferentes cores partidárias, regressaram ao Top 10. Os seus nomes são Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates. O ex-Presidente da República regressa pela segunda semana consecutiva à ribalta da atenção mediática por via de um livro muito centrado em José Sócrates.

Tudo isto enquanto, para os portugueses, as notícias teimam em querer mostrar-nos um mundo onde Portugal parece orgulhosamente sozinho junto com os EUA e a Espanha, pois mais nenhum outro país alimentou os destaques da semana - tirando, é claro, locais com nomes exóticos mas que na realidade são offshores.

 

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de aproximadamente 411 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.

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