Oito mais ricos têm tanto dinheiro como metade dos mais pobres - TVI

Oito mais ricos têm tanto dinheiro como metade dos mais pobres

Dinheiro

Por detrás dos números há pessoas, mas neste caso as estatísticas espelham bem as dimensões da desigualdade no mundo. Com Bill Gates à cabeça, há mais sete bilionários no topo do ranking. E em Portugal? Veja de que valores e pessoas estamos a falar

As oito pessoas mais ricas do mundo têm tanto dinheiro como metade da população. Esta grande discrepância, espelhada em números, tem rosto: metade da população é o mesmo que dizer 3,6 mil milhões de pobres. Os resultados deste estudo da Oxfam surgem em antecipação do Fórum Económico Mundial de Davos, que decorre esta semana entre terça e sexta-feira.

O retrato deste ano da desigualdade é mais claro, mais preciso e mais chocante do que nunca. Além do grotesco que é um grupo de homens que poderia caber facilmente num único carrinho de golfe possuir mais do que a metade mais pobre da humanidade, uma em cada nove pessoas no planeta vão para a cama com fome esta noite. Um pequeno grupo de bilionários tem tanta riqueza que precisaria de várias vidas para gastá-la".

A concentração de riqueza no topo "está a impedir a luta para acabar com a pobreza global", realça o estudo. Embora o número de pessoas que vivem em extrema pobreza tenha diminuído nas últimas décadas, 700 milhões de pessoas poderiam ter saído dessas estatísticas negras se tivesse sido feito algo para reduzir o fosso entre ricos e pobres.

Bill Gates, o homem forte da Microsoft, lidera a lista de milionários (ou bilionários neste caso), acompanhado por outras sete pessoas:

Bill Gates (Microsoft) 75 mil milhões de dólares (70,4 mil milhões euros)
Amancio Ortega (Inditex) $ 67 mil milhões (€ 63 mil milhões)
Warren Buffett (Investidor) $ 60,8 mil milhões (€ 57 mil milhões)
Carlos Slim  $ 50 mil milhões (€ 47 mil milhões)
Jeff Bezos (Amazon) 45,2 mil milhões (€ 42,4 mil milhões)
Mark Zuckerberg (Facebook) $ 44,6 mil milhões (€ 41,9 mil milhões)
Larry Ellison (Oracle e ex-presidente da câmara de Nova Iorque  $ 40 mil milhões (€ 37,6 mil milhões)
Michael Bloomberg (Bloomberg) $ 40 mil milhões (€ 37,6 mil milhões)

Cálculos da Oxfam baseados em dados da Forbes e da distribuição da riqueza global fornecidos pelo Credit Suisse

Ainda segundo a Oxfam, o salário médio do presidente-executivo de uma das empresas que compõem o FTSE 100, a bolsa de Londres, é 129 vezes superior ao dos funcionários médios. Cerca de 10.000 pessoas têm de trabalhar em fábricas de vestuário no  Bangladesh para ganhar o mesmo.

Outra conclusão alarmante é que, sobretudo na Índia e na China, os mais pobres têm ainda menos dinheiro do que se pensava.

A diferença entre ricos e pobres é muito maior do que se temia, e a caridade espelha aquilo que o estudo considera ser uma economia "deformada". É que, atualmente, uma em cada nove pessoas passa fome. 

Entre 1988 e 2011, os rendimentos dos 10% mais pobres aumentaram apenas cerca de 61 euros, enquanto os rendimentos dos 1% mais ricos cresceram 182 vezes mais para 11.100 euros.

A Oxfam pede, por isso, à elite empresarial e política que vai reunir-se em Davos que melhore a cooperação internacional para impedir a evasão fiscal. Ao mesmo tempo, apela a que se incentive as empresas a agir em benefício dos seus recursos humanos, com salários dignos e impostos justos, bem como dos acionistas, que haja impostos sobre a riqueza para financiar a saúde, a educação ea  criação de empregos. A igualdade de género, melhorando as oportunidades para as mulheres, é outro dos pedidos expressos.

Os milionários portugueses

Em Portugal, 20% dos mais ricos têm um rendimento cerca de seis vezes superior àquilo que detêm os mais pobres. O indicador de desigualdade na distribuição do rendimento (que podemos ver no gráfico a seguir) compara o rendimento dos 20% mais ricos com o rendimento dos 20% mais pobres de uma população. Quanto maior é este indicador, maior é a desigualdade na distribuição do rendimento entre a população. Neste caso, o rácio está perto de seis, daí a discrepância ser de cerca de seis vezes.

 

PORDATA com base em dados do INE, Eurodtat e Inquérito às Condições de Vida e Rendimento

As fortunas, em Portugal, têm uma dimensão diferente dos bilionários à escala mundial, mas ainda assim bastante grande para o contexto nacional. Os últimos dados conhecidos, de um estudo do Credit Suisse, indicam que surgiram mais 1.300 novos milionários em Portugal no ano passado. Ainda assim, a proporção de adultos com património acima de um milhão de dólares é de apenas 0,6% no conjunto da população.

Os três mais ricos estão ainda mais ricos: Américo Amorim 3.071 milhões de euros; Alexandre Soares dos Santos, patrão do grupo Jerónimo Martins (2.078 milhões) e família Mello (1.285 milhões) que dirige empresas como a Brisa, Cuf e Mello Saúde.

Há outra fatia que tem também um mealheiro recheado, os portugueses com uma riqueza entre 100 mil e 1 milhão de dólares. São 15% do total da população.

Também entre quem tem menos há melhorias: a riqueza média de cada português adulto subiu este ano. para 77.113 dólares (72.664 euros), mais 1,3% face a 2015.

Só que a grande maioria - 84,4% - tem menos de 100 mil dólares. Destes, 55,7% possui entre 10 mil e 100 mil dólares e 28,7% não chegam aos 10 mil.

A Oxfam realça que "é óbvio que, nas últimas décadas, muitos governos não têm atuado no sentido de efetivamente reduzir a desigualdade". E especifica: " A falta de uma política governamental adequada para o salário mínimo e para proteger os direitos do trabalhador, negociações coletivas e a greve, tem impedido o estabelecimento de um padrão mais elevado para o que seria trabalho decente. As políticas fiscais e de gastos não têm sido suficientemente robustas para redistribuir a renda dos mais ricos para os mais pobres".

Elenca, por isso, várias falsas premissas das quais partem muitos governos e empresas para não mudar o estado de coisas. Desde logo, que "o mercado está sempre certo e que o papel do Governo na economia deve ser minimizado"; que as empresas "devem maximizar os seus lucros e retornos aos acionistas a todo o custo",  que "a riqueza individul extrema é boa e um sinal de sucesso" e que "a desigualdade não é relevante", que "o crescimento do PIB deve ser o principal objetivo de formulação de políticas"; que "o modelo de crescimento impulsionado pelo lucro é neutro em relação ao género"; que "o planeta fornece recursos ilimitados para a economia". 

 

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