Barómetro de Notícias: a verdade da mentira - TVI

Barómetro de Notícias: a verdade da mentira

  • Miguel Crespo ISCTE-IUL
  • 19 nov 2016, 18:21
Mark Zuckerberg

Não teve destaque: as eleições presidenciais americanas foram marcadas pela batalha da verdade. Mas quem venceu foi o discurso da mentira, propagada pelos meios de comunicação falsos

Uma investigação do Buzzfeed afirma que, durante a campanha eleitoral, 38 por cento das notícias dos media pró republicanos eram falsas ou enganadoras. Do lado pró democrata foram registadas 19%. Em ambos os casos, um volume brutal de mentiras, publicadas como verdades com o objetivo de manipular os eleitores e ganhar viralidade nas redes sociais.  

O número é tão expressivo que os gigantes Google e Facebook se apressaram a dizer que vão penalizar os meios de informação falsos nas suas indexações. Mas nos EUA, no mês eleitoral, o site de informação mais votado foi um projeto de informação falsa. Por acaso, claramente pró republicano.

O problema da informação falsa não é novo. O que é novo é a avalanche de informações que aparenta ser credível e não é. Além de enganar os leitores, de manipular a realidade e, quem sabe, alterar resultados eleitorais, os media da falsidade destroem a credibilidade daqueles que fazem do rigor a palavra de ordem.

E quando essas histórias falsas se multiplicam como vírus agressivos pelas redes sociais, chegando a milhões de pessoas, há dois efeitos possíveis: ou os leitores assumem essas narrativas como verdadeiras, interiorizando a mentira e agindo em função dela (além de a partilharem), ou a ignoram, permitindo que a falsidade perdure.

Mark Zuckerberg negou que o Facebook ajudasse a mentira a propagar-se. Mas, como 44 por cento dos adultos norte-americanos diz que recebe as suas notícias pela rede social, o que for partilhado serão as verdadeiras “notícias” para esses leitores. De todos os casos, destaca-se o grupo de jovens macedónios que publicou milhares de “notícias” pró republicanas em centenas de sites falsos. O objetivo era ganhar dinheiro, pois recebiam receita publicitária sempre que uma das histórias se tornava viral no Facebook.

Mas como identificar a mentira? Além de desconfiar de fontes que não conhece, o leitor pode usar as “seis pistas para identificar uma notícia falsa” do Mashable: título hiperbólico, com promessas milagrosas, maiúsculas ou citações de outro media, com fotos que fazem o protagonista parecer criminoso ou atribuindo citações às pessoas erradas.

Para ajudar os leitores, um jornalista da revista “New York” criou uma extensão para o browser Chrome, “Fake News alert”, que ajuda a identificar sites de informação falsa.

Por cá o problema ainda não é tão grave, mas qualquer utilizador das redes sociais mais atento percebe que recebe dezenas de informações falsas ou enganadoras por dia. E se há quem discuta online o problema que as narrativas falsas, os media portugueses não deram qualquer destaque noticioso ao assunto, como se não fosse necessário refletir sobre a sua própria atividade (e sobrevivência).

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.

 

Continue a ler esta notícia

Mais Vistos

EM DESTAQUE