Barómetro de Notícias: O optimismo pessimista - TVI

Barómetro de Notícias: O optimismo pessimista

  • Gustavo Cardoso, Professor Catedrático ISCTE-IUL
  • 10 dez 2016, 12:31
Desemprego

A semana de notícias foi caracterizada, aparentemente, por desfechos positivos, mas todos têm as características para futuramente correrem mal

Os quatro temas mais destacados na semana noticiosa portuguesa não foram nem otimistas nem pessimistas, mas antes imbuídos de um “otimismo pessimista”.

Quando analisamos as notícias sobre polémicas na Caixa Geral de Depósitos, o futebol português nas competições europeias, o referendo italiano e o congresso do PCP, a conclusão óbvia é tratarem-se de notícias que, embora pareçam no imediato positivas, trazem consigo a antevisão de futuros problemas, ou seja, um otimismo pessimista.

A apresentação do nome de Paulo Macedo para liderar a equipa da Caixa, em conjunto com Rui Vilar, parece encerrar a polémica levantada pelo PSD. Por um lado nomeia alguém próximo do anterior Primeiro Ministro, Passos Coelho, e, por outro, agrada a PS, BE e PCP por afastar uma direção em rota de colisão com a Assembleia da República.

No entanto, aquilo que parece simples é, na realidade, o regresso à lógica de bloco central na CGD, deixando PCP e BE de fora das decisões. Além disso, a direção do CDS não deixará cair as críticas e o PSD acabará por ter de voltar ao tema.

Quanto ao otimismo pessimista do tema futebol, ele deriva do facto de duas equipas portuguesas, Benfica e Porto, continuarem nas competições europeias. Mas ambas sabem, bem como os seus adeptos, que a fragilidade das mesmas apenas augura uma permanência de curto prazo na Europa.

Por sua vez, o referendo Italiano foi celebrado por múltiplas forças políticas italianas, inclusive por membros do próprio partido de Matteo Renzi, mas para logo a seguir se cair na realidade e ser necessário solicitar ao Primeiro Ministro que não se demitisse antes de aprovar o orçamento para 2017.

Simultaneamente, numa clara lógica otimista pessimista, os que votaram para que Renzi perdesse começaram imediatamente a questionar-se se quem vier para substituir o ainda primeiro ministro não será pior do que o próprio Renzi.

Por sua vez, o referendo italiano teve o dom de estender o otimismo pessimista à totalidade dos governos europeus. Nomeadamente, porque após a alegria com o controle da subida das taxas das dívidas públicas, se começou logo a questionar como poderá um governo demissionário italiano resolver o potencial grande “crash” do híper endividado e quase-falido banco Monti di Paschi, que tem até segunda-feira para reunir 3 mil milhões de euros.

Por último, o congresso do Partido Comunista Português parece encerrar nele mesmo uma lógica de otimismo pessimista, pois pela primeira vez em muitos anos foi dada atenção mediática à reunião magna dos comunistas. Mas as dúvidas sobre até quando conseguirá o partido fazer política de “apoio-crítico” ao PS e “crítica fria” ao BE foi adiada até aos resultados das autárquicas de Setembro de 2017.

Ainda numa lógica de otimismo pessimista, o PCP mantém Jerónimo de Sousa como o seu líder, mas todos os militantes já navegam na saudade que virão a ter. Mesmo não tendo ainda decidido se o seu novo líder virá a ser João Oliveira, Bernardino Soares,  

João Ferreira ou, quem sabe, nenhum deles.

E já agora, não será também puro otimismo pessimista não prestar quase nenhuma atenção nas notícias à crise económica e política em Moçambique, ou à futura crise em torno das eleições em Angola?     

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de aproximadamente 411 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.  

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