Barómetro de notícias: Feiras, festivais e política de carrossel - TVI

Barómetro de notícias: Feiras, festivais e política de carrossel

  • Gustavo Cardoso, Professor Catedrático ISCTE-IUL
  • 27 ago 2016, 20:44
Gráfico

Marcelo, Costa e Passos viveram em Agosto, ao sabor da polémica política, um sobe e desce na opinião pública online

Da Feira de São Mateus em Viseu até à Feira de Agosto em Grândola, feira é sinónimo de carrosséis. Se não há feira que não tenha carrossel, também não há feira em agosto que não tenha políticos. Pois, os políticos buscam as multidões e, em agosto, as multidões durante o dia estão junto à água e à noite estão nas feiras e festivais.

Se as feiras servem para os políticos criarem empatia com o eleitorado e obter simpatias, também é verdade que as notícias continuam a fluir e os portugueses continuam no Twitter e no Facebook a apoiar ou criticar os nossos políticos. Por essa razão, o Barómetro de Notícias inicia neste final de agosto um painel semanal sobre a variação da opinião pública nas redes sociais a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Pedro Passos Coelho.

O mês de agosto costuma ser apelidado de “Silly Season”, mas este agosto foi dominado pela luta política transformando-o num verdadeiro carrossel de feira com notícias que fizeram subidas e descidas abruptas na opinião pública online.

Entre 29 de julho e 25 de agosto de 2016 foram recolhidas 7205 peças válidas através da plataforma de codificação da Crimson-Hexagon para o Twitter, Tumbler, Google Plus e Facebook. A análise do sentimento considera as categorias ‘positivo’, ‘negativo’, ‘neutro’ ou ‘fora de âmbito’.

O mês de agosto, para os três principais protagonistas portugueses, saldou-se por um aumento da opinião positiva sobre o líder da oposição (15% para 34%) e por um reforço da opinião sobre o Primeiro Ministro (32% para 54%). 

Quanto ao Presidente da República termina o mês de agosto com uma perda de opiniões positivas (de 19% para 15%) e um aumento de opiniões negativas (de 20% para 40%).  No entanto, o aumento das opiniões negativas e a variação das opiniões positivas do final de agosto sobre Marcelo Rebelo de Sousa seguem-se a uma subida abrupta até aos 57% de opiniões positivas - conseguidas pela sua intervenção pública a propósito dos fogos e dos seus comentários a propósito do caso da GALP, vincando a necessidade de transparência na política. A descida de popularidade na última semana nas redes sociais fica a dever-se ao apoio de Marcelo Rebelo de Sousa à recapitalização da CGD, que criou opiniões negativas à direita, e às suas críticas sobre atuação do Governo no caso da alteração da leis relativas aos gestores da CGD e do sigilo bancário, as quais produziram críticas junto de parte da esquerda nas redes sociais.

Já quanto a Pedro Passos Coelho, o aumento das opiniões positivas sobre a sua atuação parece centrar-se no seu regresso às iniciativas políticas e às suas críticas ao processo CGD. No entanto, continua a ser fortemente penalizado pelas posições sobre as sanções a Portugal e sobre a política de austeridade mantendo o record de opiniões negativas nas redes sociais variando, em agosto, entre os 80% e os 56%.

Por sua vez, António Costa obtém o melhor score do mês aumentando em 22% as opiniões positivas nas redes sociais e fazendo decrescer as opiniões negativas. A gestão do mês de agosto parece ter sido assim positiva para o Primeiro Ministro, assentando o crescendo de opiniões positivas nas suas iniciativas políticas no terreno e no apoio às atividades nas olimpíadas, mas também, ainda, na “vitória na batalha das sanções”. Já quanto à vertente mais negativa da sua atuação política as críticas são essencialmente centradas na gestão dos fogos florestais e Madeira. Curiosamente, a polémica em torno da CGD e de Rocha Andrade/GALP têm uma repercussão pública relativamente reduzida não contribuindo muito para o sentimento negativo sobre o Primeiro Ministro.

Quanto às notícias que fizeram esta semana, após três semanas de crítica e contracrítica política, regressou a típica “Silly Season” de verão com notícias desportivas, internacionais e, também as mais inusitadas mas sem uma componente política excessiva. Assim, as agressões de Ponde de Sor foram a notícia mais presente na passada semana, seguindo-se o futebol, os jogos Olímpicos e o sismo em Itália. Para encontrar notícias com implicações políticas diretas na gestão de governo, oposição e Presidência da República é preciso ir até ao quinto tema da semana com os fogos florestais, seguindo-se a banca e os impostos. 

Depois do verão com a maior área ardida dos últimos anos e, também, mais quente em temperaturas, antecipa-se um Setembro quente politicamente mas também de fria estratégia política para segurar os ganhos e conter as perdas das “férias políticas”.

 

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN. 

 

 

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