"Não sabemos onde é que as negociações vão dar", admitiu esta segunda-feira Martin Schulz, líder do Partido Social-Democrata (SPD) alemão. "Todas as opções estão em cima da mesa", garantiu.
As declarações de Schulz mostram a cautela com que os social-democratas alemães estão a lidar com o convite de Angela Merkel, atual chanceler, para reeditar a "grande coligação" centrista que governou o país nos últimos quatro anos.
Nas recentes eleições legislativas, em setembro, Schulz excluiu imediatamente a hipótese de se juntar à União Democrática Cristã (CDU) de Merkel, anunciando que passava a oposição, depois do SPD ter obtido o seu pior resultado no pós-Segunda Guerra Mundial. E a posição social-democrata assim se manteve até à semana passada, altura em que falharam as negociações entre CDU, liberais e verdes. Pouco confiante na hipótese de convocar eleições e sem interesse num governo de minoria, a líder conservadora deu o mote.
Todavia, o homem-forte dos social-democratas avança para a mesa das negociações com distância, sublinhando que o SPD dependerá "da força dos seus argumentos" e não terá problemas em abandonar o diálogo se não houver flexibilidade.
A CDU está ciente disso. Em declarações à agência Reuters, David McAllister, eurodeputado e membro da comissão executiva do partido de Merkel, disse que os conservadores deviam sinalizar "vontade de compromisso" e evitar traçarem "linhas vermelhas" nas negociações que se avizinham.
O primeiro encontro entre Schulz e Merkel será esta quinta-feira, para uma conversa em que também estarão presentes Franz-Walter Steinmeier, Presidente alemão, e Horst Seehofer, líder dos aliados bávaros da CDU. Mas tudo não passará ainda de uma página em branco. O líder do SPD declarou que o partido irá discutir "a linha completa de opções possíveis" durante um congresso, na próxima semana. Depois decidirá se segue para negociações com o objetivo de formar um governo de coligação.
Auf Einladung des Bundespräsidenten werde ich am Donnerstag an einem Gespräch mit ihm und den Vorsitzenden von CDU und CSU teilnehmen. Wir setzen bei den anstehenden Gesprächen auf die Kraft unserer Argumente, nicht auf Kraftmeierei in den Medien. Das rate ich auch CDU und CSU.
— Martin Schulz (@MartinSchulz) November 27, 2017
Se o social-democrata parte com todas as hipóteses em aberto, já deixou antever, no entanto, uma das cartas decisivas para fechar acordo: "fortalecer a União Europeia". Segundo Schulz, há dossiers imperativos nesta altura.
"A questão sobre se precisamos de um orçamento para a zona euro e, se sim, como será financiado; a questão sobre se precisamos de um ministro das Finanças europeu que possa combater a evasão fiscal dentro dos estados-membros da união monetária... Estas são questões para as quais precisamos de uma resposta", frisou o dirigente do SPD.
Uma mensagem que Merkel recebeu. No final de uma reunião com líderes da CDU, em Berlim, a chanceler afirmou que há agora "uma oferta para negociar", reconhecendo que existem "grandes expetativas na Europa para respostas [da Alemanha] a questões urgentes". Incluindo uma tomada de posição dos alemães quanto à possibilidade de reformar a União Europeia, que a França de Emmanuel Macron tanto aguarda e que Schulz pretende colocar nas prioridades do próximo executivo.
A Alemanha entrou no segundo mês sem governo.