Histórias da Casa Branca: Estados Divididos da América  - TVI

Histórias da Casa Branca: Estados Divididos da América 

  • Germano Almeida
  • 9 dez 2016, 21:47
Donald Trump

Donald Trump foi eleito com apenas 46,6% dos votos expressos e menos dois milhões e duzentos mil votos que Hillary. A transição política não tem sido fácil. Os EUA estão retalhados em várias ‘mini-Américas’

Há vários anos que a política americana tem sido palco de divisões muito fortes e tendencialmente insanáveis.

Mas o processo eleitoral de há um mês agravou ainda mais esse problema. 

Donald Trump foi eleito 45.º Presidente dos EUA obtendo apenas 46,6% dos votos expressos. Menos 1.5% que os 48.1% de Hillary Clinton. 

A candidata democrata arrecadou mais dois milhões e duzentos mil votos que o nomeado republicano, mas a sucessão de Obama decidiu-se em dez mil votos no Wisconsin, 68 mil no Michigan e cerca de 100 mil na Pensilvânia.

Não se pode, por isso, sequer dizer que os americanos tenham “escolhido” Donald Trump. Pela segunda vez num espaço de cinco eleições, quem teve mais votos não foi eleito.

É certo que as regras do sistema são essas. Mas também é verdade que, em nosso tempo de vida, nunca se tinha verificado paradoxo tão agudo: uma diferença de mais de dois milhões de sufrágios no voto popular não pode ser ignorada. 

O processo de recontagens ainda não terminou, mas uma decisão de um juiz no Michigan, considerando que Jill Stein não tinha base legal para exigir a recontagem, terá afastado em definitivo a hipótese de Hillary vir ainda a reverter esta eleição: Clinton precisava de vencer no Michigan, Wisconsin e Pensilvânia para passar para a frente no Colégio Eleitoral. 

A transição para Trump tem sido tudo menos pacífica. 

Barack Obama tem dado a entender que continua muito desconfortável com o facto do seu sucessor vir a ser Donald Trump. 

A indicação de que o ainda Presidente dos EUA decidiu, como uma das suas últimas ações executivas, ordenar uma investigação exaustiva sobre uma possível interferência russa nas eleições americanas dá conta do clima de mal-estar que persiste na Casa Branca em relação ao que se passou. 

Mas a coroação de Trump, a 20 de janeiro de 2017, parece já inevitável, por muito que alguns dos Grandes Eleitores republicanos mostrem reservas em ter que votar em Trump, a 19 de dezembro. 

Os primeiros sinais sobre como virá a ser uma futura Administração Trump são preocupantes. 

Ao contrário do que algumas análises chegaram a apontar, o presidente eleito não mostra, no essencial, intenções de moderação.

Trump chegou à Casa Branca com um suporte eleitoral extremado – e é a essa agenda que está amarrado. 

Com exceção da escolha de Nikki Haley, a ainda governadora republicana da Carolina do Sul, para Embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, quase todas as opções de Donald Trump para postos influentes da sua administração indicam forte componente de direita e, por vezes, extrema-direita. 

A escolha de Steve Bannon para conselheiro-chefe indicou o caminho: a base ideológica da Casa Branca de Trump será muito encostada à direita. Mais ainda do que o «core» do Partido Republicano indicaria. 

Wall Street, tão criticado pelo candidato Trump, estará em peso na futura Administração americana. Wilbur Ross, indicado para secretário do Comércio, foi um dos exemplos. 

A escolha de Gary Cohn, vindo da Goldman Sachs, para liderar o Conselho Económico Nacional, retirou qualquer tipo de ilusão sobre o que possa acontecer nessa área.

Restam muitas dúvidas sobre quem vai chefiar a diplomacia americana. 

Mitt Romney é demasiado moderado para ser aceite pelo ‘inner circle’ de Trump. Rudy Giuliani tem um perfil demasiado agressivo para ser Secretário de Estado. 

Um senador mais respeitado ou um chefe militar da linha de David Petraeus pode ser a alternativa para resolver a questão diplomática.

Donald Trump tem adiado o assunto, mas o perfil da pessoa que vier a escolher para o Departamento de Estado pode vir a ser a sua última oportunidade de subir o nível de credibilidade do seu governo.

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