Sauditas usaram duplo para esconder homicídio de jornalista - TVI

Sauditas usaram duplo para esconder homicídio de jornalista

  • Élvio Carvalho
  • 22 out 2018, 16:17
Jamal Khashoggi

CNN teve acesso a imagens que mostram um homem, com idade e aparência semelhante a Jamal Khashoggi, a deixar o edifício do consulado, com as mesmas roupas com que o jornalista entrou

Imagens de câmaras de vigilância sugerem que os responsáveis pela morte do jornalista saudida, Jamal Khashoggi, terão usado um duplo para simular a saída da vítima do consulado onde foi morto, em Istambul.

A estação norte-americana CNN teve acesso a imagens, que estão na posse das autoridades turcas, que mostram um homem com idade e aparência semelhante a Khashoggi a deixar o edifício do consulado, com as mesmas roupas com que o jornalista entrou. O duplo terá, ainda, usado uma barba falsa, para tentar uma melhor caracterização.

Uma fonte do canal, que pediu permanecer anónima, identificou o duplo. Trata-se de Mustafa al-Madani, um homem de 57 anos que fará parte do alegado grupo de 15 pessoas envolvidas na morte do jornalista saudida.

Madani foi filmado a entrar pela porta da frente do consulado horas antes de Khashoggi. O duplo estava sem barba e usava umas calças azuis escuras e uma camisa azul e branca. Quando saiu trazia já as roupas do jornalista - um blazer cinza escuro e calças pretas - e barba falsa. Usou a porta traseira, juntamente com um cúmplice, e foi, depois, filmado por outras câmaras espalhadas pela cidade em locais públicos, como a conhecida Mesquita Azul. Apenas o calçado se manteve igual: Madani não trocou as sapatilhas pretas que trazia pelos sapados de Khashoggi.

As roupas de Khashoggi ainda deviam estar quentes quando Madani as vestiu”, disse a fonte à CNN, garantindo que o homem foi chamado a Instambul com o propósito de servir como duplo.

“A nossa convicção não mudou desde 6 de Outubro. O homicídio foi premeditado e o corpo retirado do consulado”, acrescentou.

Jamal Khashoggi, 60 anos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, no dia 02 de outubro, para obter um documento para se casar com uma cidadã turca e nunca mais foi visto.

Khashoggi era apontado como uma das vozes mais críticas da monarquia saudita e residia nos Estados Unidos desde 2017, sendo colaborador do jornal The Washington Post.

Depois de negar repetidamente não saber do paradeiro do jornalista, o governo saudita admitiu que Khashoggi morrreu no consulado de Istambul. Numa entrevista, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, afirmou que não sabe "onde se encontra o corpo" do jornalista, considerando que a sua morte foi "um erro monumental".

Os indivíduos que fizeram isso atuaram fora do seu campo de responsabilidade. Foi feito um erro monumental, agravado pela tentativa de o esconder", disse o ministro, acrescentando que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, "não foi informado" da operação, que não foi autorizada pelo poder.

O caso está a provocar reações ao mais alto nível, com países como a França, Alemanha e Reino Unido a exigirem explicações à Arábia Saudita. 

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