Asma al-Assad, bela e perigosa - TVI

Asma al-Assad, bela e perigosa

Primeira-dama da Síria controlou campanha para divulgar uma imagem ocidentalizada da família. Com a repressão, desapareceu das revistas

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Bashar e Asma tornaram-se um dos casais mais apetecíveis do mundo da política. Ele presidente de um país árabe e bem-falante em inglês, ela bonita e bem vestida. Mas o interesse das revistas e dos jornais ocidentais não foi espontâneo e ingénuo. Afinal, por trás de uma imagem imaculada da família que manda na Síria, estava toda uma campanha para esconder os seus defeitos.

Quando Bashar al-Assad foi para o Reino Unido formar-se em oftalmologia, conheceu Asma, uma britânica de ascendência síria. Os pais são de Homs, uma cidade agora completamente devastada pela repressão do regime do marido. Asma cresceu em Londres, formou-se em ciência computacional e literatura francesa e trabalhou como banqueira de investimentos no Deutsche Bank Group e na J.P. Morgan. Em 2000, quando Bashar assumiu a presidência, Asma largou tudo e foi para a Síria com ele. O casal têm três filhos: Hafez, Zein e Karim.

Mas Asma al-Assad não quis ficar-se por acompanhar o presidente nos atos oficiais. Durante anos, a primeira-dama foi o rosto dos valores democráticos, dos direitos das mulheres e da educação. Fundou uma Organização Não-Governamental para ajudar os jovens, recebeu chefes de Estado e monarcas e dava sinais de abertura e prosperidade.

Ao lado dela, o presidente sírio era um homem feliz, apoiado pela família e sempre bem visto pelos jornalistas. No entanto, segundo uma reportagem do «The New York Times», tudo não passou de uma encenação.

Asma contratou vários relações públicas e assessores, pagos a peso de ouro, para divulgarem uma imagem da família Assad que não correspondia à realidade. A estratégia foi resumida pelo especialista em assuntos da Síria, Andrew Tabler: «Ele fala inglês e a sua esposa é gira».

A campanha começou em 2006, quando Asma contactou a empresa de relações públicas Bell Pottinger, em Londres, após várias primeiras-damas terem começado a organizar um ciclo de reuniões e conferências anuais. «Ela queria fazer parte do clube», explicou Tim Bell, co-fundador da empresa e ex-conselheiro para os media de Margaret Thatcher.

Em pouco tempo, a revista «Paris Match» já a apelidava de «Diana do Oriente» e a «Elle» considerava-a uma das mulheres mais bem vestidas do mundo da política. Também o «The Huffington Post» publicou um artigo elogiando a sua beleza. «Ela aderiu muito bem [à campanha], porque fala bem e é bonita», afirmou Gaia Servadio, escritora italiana que trabalhou para Asma em Damasco, acrescentando que a primeira-dama síria esperava que estes artigos desviassem as atenções do país.

Entretanto, a empresa de relações públicas Brown Lloyd James recebia cinco mil dólares por mês (cerca de três mil euros) do casal Assad apenas para servir de elo ligação entre Asma e a «Vogue». Assim, não foi surpreendente que, em março de 2011, exatamente na mesma altura em que Bashar começava a matar dezenas de milhares de sírios, a Vogue tenha publicado um perfil da primeira-dama, intitulado «Uma rosa no deserto», elogiando a sua beleza e as suas atitudes. Com o avançar da repressão na Síria, o artigo acabou por ser apagado online e a sua autora, Joan Juliet Buck, mostrou-se arrependida por o ter escrito. Ainda assim, lembrou que Asma «é muito magra e veste-se muito bem, logo está qualificada para aparecer na Vogue».

Os jornais britânicos divulgaram alguns e-mails de Asma que a comprometem com a violência na Síria, ao garantir todo o seu apoio ao marido. O mundo ocidental esqueceu Asma al-Assad, que já não aparece nas revistas de moda ou nos tablóides. Na Síria, os jornalistas só conseguem entrar clandestinamente, arriscando a sua vida, e já não são bem-vindos pelo casal. A rosa do deserto secou.
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