Fugiram ao Estado Islâmico, mas perderam (quase) tudo - TVI

Fugiram ao Estado Islâmico, mas perderam (quase) tudo

  • Sofia Santana
  • 26 out 2016, 16:26
Residentes de Ninawa, no Iraque, de ascendência Yazidi fogem do exército do EI

Humilhadas em público, prisioneiras dentro das próprias casas, muitas mulheres iraquianas arriscaram a vida para fugir aos jihadistas. Uma reportagem da CNN no campo de refugiados de Debaga conta algumas destas histórias

Há muito que não é fácil ser mulher no Iraque - sobretudo desde que o país foi invadido pelos Estados Unidos, em 2003, - mas, com o Estado Islâmico, tornou-se um verdadeiro inferno. Humilhadas em público, prisioneiras dentro das próprias casas, muitas mulheres arriscaram a vida para fugir aos jihadistas. Uma reportagem da CNN no campo de refugiados de Debaga conta algumas destas histórias. Vidas que o Estado Islâmico mudou para sempre.  

O campo de refugiados de Debaga, na província de Ninawa, norte do Iraque, acolhe 8.000 mulheres e 15.000 crianças. São de Mossul, são de Qayara e de tantas outras localidades que foram tomadas pelos jihadistas no Iraque. O local é monitorizado pelas Nações Unidas, mas, mesmo aqui, as mulheres que escaparam ao Estado Islâmico sentem-se inseguras e vivem com medo de serem descobertas.

Zainab, de 17 anos, chegou ao campo há uma semana. Antes de o Estado Islâmico ter conquistado Hawija, a sua cidade, Zainab gostava de ir ao mercado e de passear pelas ruas com os amigos, outros adolescentes. Andava na escola e queria acabar o 12.º ano.

“Queria aprender a ler e a escrever a melhor. A vida era bonita antes do Daesh”, lembrou à equipa de reportagem da CNN. 

Mas depois tudo mudou. As histórias de horror começaram a correr a região: mulheres yazidi e cristãs eram violadas e escravizadas às mãos dos jihadistas. 

Para poder ter uma oportunidade de escapar à crueldade do grupo, casou-se aos 16 anos. Depois engravidou, mas quando fugiu de Hawija perdeu o bebé. 

Zainab é apenas um dos rostos cuja vida o Estado Islâmico mudou para sempre. Iman, de 26 anos, grávida de nove meses, é outro. 

A gravidez de Iman já estava num estado avançado quando fugiu de casa, nos arredores de Mossul, com o marido e os dois filhos. Andaram a pé cerca de dez horas até serem ajudados pelas forças iraquianas, que os levaram até Debaga, onde os médicos lhe disseram que tinha de ser vista num hospital com urgência.

Mas porquê fugir quando estava já com uma gravidez tão avançada? Porquê arriscar a sua vida e a do bebé? Para proteger a vida das duas crianças que já tinha, explicou.

“Tinha medo pela minha filha. Tinha medo pelo meu filho. Ele seria forçado a juntar-se às tropas jihadistas", frisou à CNN.

Aceitar as regras do Estado Islâmico ou sofrer às mãos dos jihadistas são as únicas duas opções para estas mulheres. Mulheres que têm de andar tapadas da cabeça aos pés, mostrando apenas os olhos, mulheres que deixam de poder olhar para outros homens que não sejam os maridos. Humilhadas em público, prisioneiras nas próprias casas, veem-se obrigadas a fugir.

Nesta região do norte do Iraque, cerca de 35.000 pessoas tiveram de fugiram de localidades que foram conquistadas pelo Estado Islâmico.

A reconquista de Mossul poderá trazer uma nova esperança a estas mulheres de vidas suspensas, de sonhos, não desfeitos, mas esquecidos. 

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