Aos 100 anos, este homem ainda está no corredor da morte - TVI

Aos 100 anos, este homem ainda está no corredor da morte

  • VC
  • 18 out 2018, 11:28

Há 18 anos que Celestine Egbunuche está atrás das grades, os últimos quatro à espera que o matem. Foi condenado por planear um homicídio, partilha a cela com o filho e outros condenados à morte e há um movimento a pedir a sua libertação

Tem uma expressão alheada, as costas foram curvando com a idade e aumentam-lhe a pequenez. Tem 100 anos e vive no corredor da morte há quatro. Está preso há mais tempo: 18 anos. Celestine Egbunuche é o recluso mais velho da Nigéria.

Passa o tempo em silêncio, está quase cego, e só levanta a cabeça para que quem o visita perceba que está consciente de que tem companhia.

Quando lhe perguntamos algo, ele responde outra coisa. O médico disse que é por causa da idade, que voltou a ser criança”

É o filho, Paul Egbunuche, 41 anos, preso pelo mesmo crime que terá cometido com o pai, que conta a sua história e reclama inocência de ambos. Foram condenados por alegadamente terem contratado pessoas para matar um homem durante um conflito no estado de Imo. Presos desde junho de 2000, a condenação à morte foi decretada em 2014. Estão, assim, há quase vinte anos na prisão de segurança máxima de Enugu, no sudeste da Nigéria.

Dividem a cela com outros condenados à morte. O filho cuida do pai, dá-lhe banho e de comer. Outros prisioneiros também vão ajudando. Paul conta que, por vezes, o pai pergunta: “o que é que estas pessoas estão a fazer aqui?”.

A organização Global Society for Anti-Corruption (Sociedade Global AntiCorrupção, em português) fez recentemente apelos no Twitter, dizendo que este velho “ainda precisa da nossa voz para tirá-lo” da cadeia, pedindo perdão do Estado e apoio internacional para ainda veja a liberdade antes de dizer adeus à vida.

O presidente desta organização, Franklin Ezeona, defende que não faz sentido manter uma pessoa naquele funil tantos anos.

O trauma e a tortura são demasiados. (…) Todas as pessoas merecem uma segunda oportunidade".

Na carta que dirigiu ao presidente Muhammadu Buhari  e ao governador do do Estado de Imo, Rochas Okorocha, argumentou que a condição de saúde deste homem se está a degradar muito, cada vez mais, e a cada dia.

Sofre de diabetes há anos, caiu após logo depois do seu aniversário; e para piorar, ele vai perder a visão em breve. Está atualmente incapacitado e já não controla as fezes e a urina"

"Castigo para pobres"

Celestine completou os 100 anos a 4 de agosto e foi nessa altura que a sua história começou a chegar à imprensa local, com um jornal a publicar um artigo a assinalar o seu centenário.

A fotografia de pai e filho acabou por ir parar às redes sociais e tornou-se viral, desencadeando ao mesmo tempo um debate sobre a pena de morte e a longa espera nos corredores da morte no país. Há mais de 2 mil pessoas nesse funil escuro na Nigéria.

Dados da Aministia Internacional indicam que nos últimos dez anos, entre 2007 e 2017, concretizaram-se apenas sete execuções, a última delas em 2016.

Citada pela BBC, a advogada do Projeto de Defesa e Assistência Jurídica, Pamela Okoroigwe, disse que há pessoas que estão “há 30 anos” no corredor da morte. Algo “comum” no país. Um “castigo para os pobres”.

Alguma vez viu um homem rico no corredor da morte?”.

Ficam ali num limbo, sem as autoridades ordenarem as execuções, nem concederem indultos. Com o apelo da  Sociedade Global Anti-Corrupção, o procurador do Estado de Imo, Miletus Nlemedim, sugeriu que Celestine seja libertado.

Veremos se sim, e se ainda a tempo de voltar a ver a luz do dia.

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