Artistas na estrada – com Tony Carreira a cantar fado e mornas - TVI

Artistas na estrada – com Tony Carreira a cantar fado e mornas

Músico esgota concertos com as baladas de sempre e também com as novas, mas prepara-se para sair da sua zona de conforto e lançar um disco, “Mon Fado”, onde faz homenagem a Amália Rodrigues e Cesária Évora

Sábado, 15 de agosto. À entrada da Feira de São Mateus, as filas antecipam um concerto completamente esgotado. É Tony Carreira quem sobe ao palco esta noite. Encontramos-o nos camarins, bem-disposto ao lado dos músicos e de toda a equipa.

Nos quatro dias anteriores, o cantor passou por Portimão, Esposende e Bragança. Desta vez, volta a uma outra cidade que tão bem conhece, Viseu, onde não sobra nem um espaço vazio no recinto.

Tony entra em palco com a "A Vida que Eu Escolhi" e é a cantar em uníssono que a multidão o recebe para um espetáculo onde a par dos temas mais conhecidos, estão os inéditos do último disco lançado em Dezembro. "Sempre" dá título ao álbum e a esta digressão que arrancou em março com o Coliseu do Porto esgotado duas vezes. Desde então já soma mais de quarenta concertos entre Portugal, França, Suíça, Estados Unidos da América e Canadá. 


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O alinhamento inclui músicas que se tornaram êxitos, mas também os temas do novo álbum. "Foi maravilhoso ter canções novas para cantar e para o público também, porque de repente metade do concerto é completamente novo, e isso é muito bom". "A Vida é Para Viver" é a prova disso, o tema que fecha o alinhamento quase duas horas depois do artista ter subido ao palco da Feira de São Mateus. 

Poucos minutos depois, começam a formar-se as já tradicionais longas filas. Do local, por detrás do palco, onde Tony vai espalhando autógrafos, abraços e beijinhos, não se consegue ver o final da fila. Mas ninguém desiste. Nem fãs, nem Tony, com a dedicação de sempre. Ao mesmo tempo, em palco, a azáfama segue. É preciso desmontar tudo e pensar no próximo destino. 

Dois camiões TIR transportam não só em Portugal, mas também pela Europa, uma das mais complexas produções nacionais na estrada. São mais de duas horas a desmontar toda a estrutura, o mesmo tempo que Tony continua a receber os fãs. A noite arrefeceu em Viseu, são quase três da manhã quando tudo termina, amanhã é dia de mais um concerto. 

16 de agosto. O dia começa em Viseu, mas há um novo destino para o palco desta noite. São quase 400 quilómetros de distância até Reguengos de Monsaraz. O Alentejo recebe com o calor próprio proporcionado pelo clima da região, mas também das suas gentes. E ao sotaque alentejano juntam-se tantos outros do país que revelam a dedicação dos fãs que percorrem quilómetros para apoiar o cantor. Madalena, por exemplo, veio de Guimarães, faz parte de um grupo que está presente sempre que pode nos concertos de Tony Carreira, é assim há anos. O artista retribui partilhando conversas nos bastidores, horas antes do concerto desta noite. 

Aproxima-se a hora do jantar, seguimos com Tony Carreira no carro que o conduz ao restaurante onde já muitos o esperam. Nestes dez minutos de caminho, o músico surpreende-nos com uma revelação ao aumentar o som do rádio do carro: "Este é o disco francês que vai ser lançado em novembro", exclama. "Ando naquela fase de ouvir este disco porque não foi editado", acrescenta. Perguntamos-lhe se mais alguém ouviu este novo disco que se prepara para lançar. O músico responde com um “não” e um sorriso. 

Este é um dos seus segredos mais bem guardados, o disco no qual tem trabalhado ao longo dos últimos meses, um álbum de originais, onde há uma homenagem ao fado. A "Canção do Mar" ecoa no carro com a voz de Tony e as guitarras do fado. 

"Nunca me meti nisso e gravei um medley onde presto uma certa homenagem à Amália e canto, em cabo-verdiano, uma canção da Cesária Évora. (…) Gosto de fazer coisas novas, porque já gravei tantos discos, já fiz tantos espetáculos, apetece-me arriscar, correndo o risco. Não quero ficar naquela zona de conforto em que me vou repetir". 


Tony Carreira assume que não tem “medo de correr riscos” porque “enquanto tiver prazer em fazer coisas novas as pessoas podem também gostar”. No carro, a música nova continua a tocar. Segue-se "Uma Casa Portuguesa" e Tony exclama, claramente orgulhoso no novo trabalho: "Dei a esta canção, que é completamente popular, um arranjo pop com a mistura das guitarras de fado". 

O novo disco intitula-se “Mon Fado” e será lançado, em França, a 6 de novembro. A viagem é curta, mas ainda antes de chegarmos ao restaurante, temos tempo para surpreender-nos com a versão da morna "Sodade", de Cesária Évora, num dueto gravado com Yura Silva. 

A viagem pelo novo disco termina quando o carro chega ao restaurante. A multidão  - que é habitual em cada lugar onde é esperado - aguarda por Tony Carreira. Repetem-se cumprimentos, enquanto lá dentro a equipa já está sentada. É o momento de pausa e convívio antes do concerto desta noite. 



É tempo de regressar ao recinto da Feira de Exposições e não resistimos em conhecer o autocarro onde viaja a equipa, durante os dias de concertos consecutivos. É uma verdadeira casa sobre rodas preparada com camas, lugares onde se partilham refeições e até mesmo uma mini-sala com televisão.

É noite de jogo de futebol e Tony dispara uma pergunta para a equipa: "Isto é só benfiquistas aqui?" São já uma espécie de família que partilha muitos quilómetros de estrada em conjunto. Só nesta digressão já lá vão mais de 25 mil quilómetros. 

Desde março contam mais de 40 concertos entre Portugal, França, Suíça, Estados Unidos e Canadá. O jogo do Benfica continua a dominar a noite, Tony brinca com a sua equipa "Estão a sofrer. Eu não sofro com o futebol, exceto com a Seleção, com a Seleção isso é de morrer, agora, no clubismo sou um adepto pacífico, sportinguista pacífico. Estes são doentes", revela. A boa disposição continua até à subida ao palco. 

Pouco depois das dez da noite os músicos fazem a introdução ao concerto. O público de Reguengos de Monsaraz chama por Tony. A noite está amena e no Alentejo canta-se em coro as músicas do cantor. Quase duas horas depois cumpre-se aquele que é um ritual que se mantém inalterado há anos, mais uma sessão de autógrafos, fotografias e beijinhos. "Eu faço isto porque gosto", justifica. 

Sobre o palco não tem dúvidas "É o objetivo final na minha profissão. Os discos só existem para cantar as canções em palco. É, sem dúvida, onde eu me sinto como um peixe na água. Gosto de comunicar com as pessoas, gosto de as ver". É assim há 27 anos, cantor romântico por convicção.

"Correndo mesmo o risco de ser catalogado como alguém fora de moda, assumidamente o que eu gosto são baladas. É aquilo que eu mais gosto, sem dúvida, tanto na minha música como na dos outros". 





Segunda-feira, 17 de agosto. O dia amanhece com os leves sons da natureza em pleno Alentejo. Ouvem-se os pássaros, o som do vento nas copas das árvores. Tudo o resto é silêncio. Para trás ficou o palco, a música, mais de 600 quilómetros de estrada a acompanhar Tony Carreira. 

E a nossa estrada ainda assim é curta comparada com a distância percorrida pelo cantor nos últimos dias. Foram quase 2 mil quilómetros para concertos em cinco cidades de norte a sul do país. Reguengos de Monsaraz fechou esta série de espectáculos. Foi numa praça cheia e com o calor do Alentejo, que também nós terminamos a nossa reportagem.

Tony Carreira conta 27 anos de canções. Pelo sucesso que conquistou será difícil encontrar alguém que não saiba quem é o cantor de 51 anos. Todos já viram tudo ou quase tudo sobre ele na televisão ou na imprensa. Tudo isto é o que fica para lá do palco, sem filtros, da vida que escolheu.
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