"Juntos por todos": o espetáculo que uniu os portugueses por uma causa - TVI

"Juntos por todos": o espetáculo que uniu os portugueses por uma causa

Concerto solidário "Juntos Por Todos" juntou 14 mil pessoas no MEO Arena e arrecadou mais de 1.153 milhões de euros para as vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande

E todos se juntaram a uma só voz para mostrar que Pedrógão Grande não está sozinha. Esta terça-feira à noite, dez dias depois dos fatais incêndios que lavraram naquelas regiões, o pavilhão do MEO Arena encheu-se de portugueses, conhecidos e anónimos, para mostrar toda a sua solidariedade. 

Entre esses portugueses estavam 25 artistas, e respetivos músicos, que se disponibilizaram a custo zero para atuar para 14 mil pessoas ali presentes e milhões que assistiram ao concerto pela televisão ou pela rádio numa iniciativa inédita que juntou as três televisões e todas as rádios numa só transmissão. Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, - que enalteceu "a força de unidade e solidariedade dos portugueses - e o ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, marcaram presença no evento.

As portas da sala de espetáculos abriram às 19:00, mas as filas começaram cerca de duas horas antes. Cá fora, pais, filhos e avós aguardavam pacientemente o momento para entrarem no edifício. Às perguntas do porquê de ali estarem, a resposta era unânime: "por solidariedade".

Os portugueses são solidários. E estas pessoas aqui mostram isso mesmo", ouviu-se várias vezes ao longo da noite.

E foi isso mesmo que se viu ainda antes do espetáculo começar. No momento em que dois bombeiros entraram na sala, a plateia levantou-se em peso para os aplaudir. Uma ovação que viria a ser repetida no meio do concerto. Uma homenagem aos heróis que combateram os incêndios que devastaram a região centro.

Em conversa com a TVI24, Jorge Mendes, da Associação Comandos de Bombeiros de Portugal, mostrou-se impressionado com a mobilização dos portugueses por esta causa. 

Eu sei que o nosso povo é solidário, estou habituado a assistir a isso dia-a-dia, mas assim tão rápido, foi espetacular", afirmou.

Uma mobilização que foi sendo apontada também pelos artistas que não deixaram de mostrar o seu apreço por verem a sala completa e o valor dos donativos da linha solidária a aumentar a cada minuto. No final, mais de 1.153 milhões de euros foram arrecadados, sendo esse valor entregue à União das Misericórdias Portuguesas.

Um mar de luz

O espetáculo arrancou às 21:15 com os DJ ‘Beatbombers’ a abrir a cerimónia. Os seguintes artistas seguiram-se por ordem alfabética, com exceção das duplas: AGIR, Amor Electro, Ana Moura, Aurea, Camané & Carlos do Carmo, Carminho, D.A.M.A, David Fonseca, Diogo Piçarra, Gisela João, Hélder Moutinho, João Gil & Luís Represas, Jorge Palma e Sérgio Godinho, Luísa Sobral, Matias Damásio, Miguel Araújo, Paulo Gonzo, Pedro Abrunhosa, Raquel Tavares, Rita Redshoes, Rui Veloso e Salvador Sobral.

AGIR subiu ao palco para cantar "Como ela é bela" e pediu a toda plateia que ligasse as luzes dos telemóveis em honra de Pedrógão Grande - um gesto, aliás, repetido ao longo de toda a noite - e o recinto tornou-se num mar de luz. 

Seguiram-se os Amor Eletro que garantiram, a meio da atuação, que "o dinheiro vai para as pessoas certas", ideia seguida por Carminho que afirmou que este concerto servirá para "ajudar a vida das pessoas que sozinhas não conseguem fazer a reconstrução.”

Reconstrução essa, que na opinião de vários artistas, tem de ser célere e que deve servir de lição para que não volte a acontecer, uma vez que “é quase impossível minimizar algum sofrimento das pessoas que perderam a vida e daquelas que perderam os seus entes queridos" como afirmou Camané, que atuou ao lado de Carlos do Carmo.

Outro dos artistas a subir ao palco foi David Fonseca, músico de Leiria, próxima da região onde se aconteceram os incêndios, para cantar "Someone that cannot Love".

Somos um país pequeno mas temos uma ideia de comunidade muito forte. Quando acontece algo isto que aconteceu temos uma extraordinária capacidade de ajudar.”

Ajudar e estar "Juntos por Todos". O nome da iniciativa mostrou em pleno o espírito vivido por todos na noite de terça-feira. Estavam todos unidos para homenagear quem partiu e tentar aliviar a dor de quem sobreviveu ao mais mortífero incêndio que atingiu o país.

Gisela João entrou em palco a pedir à plateia que dançasse “pelos bombeiros portugueses”, antes de rodopiar pelo palco. Uma atitude repetida por Raquel Tavares, que quis trazer um pouco de alegria a quem assistia ao concerto.

Esta noite significa que as pessoas de Pedrógão não estão sozinhas. E prometemos que não nos vamos esquecer deles.”

Antes de Salvador Sobral subir ao palco (já lá vamos), foi tempo de Pedro AbrunhosaRui Veloso subirem a palco, com o primeiro a lembrar que "os músicos e os feirantes são quem melhor conhece o país" e que é terrível ter a noção da destruição que assolou Pedrógão Grande.

Já o intérprete de "Primeiro Beijo" quis deixar "um recado para os nosso políticos, que tanto falam, tanto põem as culpas nuns como põem nos outros": “Já toda a gente ouviu essa conversa mas nós temos que nos unir e resolver a questão de uma vez por todas. O país e os Homens estão a ser destruídos.”

E por fim, Salvador Sobral que encerrou o concerto de forma peculiar. Sentado ao piano, o vencedor da Eurovisão começou por tocar o que a plateia não esperava ouvir: uma versão de “A Case of You”, de Joni Mitchell. As caras do público mostraram de imediato a "desilusão" que era difícil de esconder. Assim como mostraram o entusiasmo ao ouvirem os primeiros acordes de "Amar pelos dois". A música foi entoada a uma só voz por toda a plateia que mostrou, no dia 27 de junho, que Portugal consegue "amar por muitos".

A ideia do espetáculo partiu do promotor Vasco Sacramento, que, no passado dia 18, anunciou na rede social Facebook a intenção de fazer um concerto solidário, sensibilizado com as vítimas do incêndio e que se mostrou "sem palavras" pelo que foi feito esta terça-feira à noite.

O fogo que deflagrou em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos e mais de 200 feridos.

As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra, mas o fogo foi dado como dominado na quarta-feira à tarde.

incêndio que teve início no concelho de Góis, no distrito de Coimbra, atingiu também Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais. Ficou dominado na manhã de quinta-feira e como extinto este sábado.

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