O cómico que destronou Marcelo - TVI

O cómico que destronou Marcelo

    António Prata
    Diretor Adjunto de Informação TVI
Bruno de Carvalho

Opinião do diretor-adjunto de Informação da TVI

Ele é um cómico.

Faz rir a criatura mais sorumbática.

As  horas que os canais lhe concedem têm proporcionado aos espectadores (e são muitos) alguns dos momentos mais divertidos e caricatos  do audiovisual português.

Nas redes sociais germinam e crescem como ervas daninhas as piadas que o cómico semeia diariamente. Escreve-se o nome dele no Google e instantes depois começamos a rir. Lá estão fotos bem divertidas, frases desconcertantes,  os printscreen de posts inenarráveis ou  outras graças para animar o dia.

É um cómico de primeira. Tem momentos que relegam Herman José para a segunda divisão. Nunca o velho Zé Estebes se lembraria de algumas das  pérolas assinadas pelo cómico. Como aquela de pedir aos sócios e adeptos para só verem o Tal Canal.  Depois vemos o cómico horas seguidas colado à TVI e à TVI24 (e também à concorrência), a ligar para todos os canais e para insultar quem pensa diferente.

Um cómico que parodia de forma notável a liberdade de expressão, o direito à opinião e à diferença.   

A convicção do cómico é fantástica. O ar sério com que faz o contrário do que diz é único. A  capacidade de fazer dois papéis distintos no mesmo show levanta a dúvida. Mas ele tem um sósia?   

Não. Ele é o cómico. Não é o único em Portugal, mas é o cómico do momento.

E tem expressões faciais e corporais fantásticas. Nesse particular, está ao nível de um Jim Carrey ou Jerry Lewis. É um cómico de mão cheia.

E a voz?  Dêem-lhe um papel e ele afina o timbre. Mais ou menos grave. É um cómico com o domínio de todas as áreas da representação.

E na imitação? Com um corte de cabelo diferente vemos ali Kim Jong-un. A estatura e a barriga ajudam, mas na base do sucesso está a genialidade do cómico.

E o cómico a correr pelo relvado? Imitação notável de José Mourinho, depois de vencer a taça UEFA em Sevilha. E o cómico no banco, a imitar os treinadores de futebol? Ou a coxear, apoiado no staff, como um jogador lesionado... O cómico encarna o papel!

Faz sempre  rir, mesmo quando introduz na cena umas pitadas de drama.

Ele é um cómico inspirador. E inspira. Há ano e meio que os media de todo o mundo vivem em alerta permanente com o Twitter de Donald Trump. O cómico foi pioneiro com os jornalistas portugueses. Popularizou o Facebook com posts divertidos. Mas não são só os post. Tudo no cómico tem graça. Vejam como entra e sai do FB. Ele fecha conta, ele abre conta, ele fecha conta, ele abre conta. De rir até cansar.

E a energia do cómico. Em meses destronou Marcelo Rebelo de Sousa. Na TV, nas redes sociais, em todo lado. Um cómico fantástico e bem mais hiperativo do que o PR.

O irracional deste  espectáculo é que a maioria  só agora quis perceber que o artista é um cómico.

Até há três meses levaram-no a sério. Deram-lhe apoio incondicional.

Doutores em leis, doutores em medicina, empresários, génios da finança e anónimos. Todos juntos na entronização do homem que só agora consideram um cómico.

Estiveram calados quando o cómico reclamava o poder absoluto, insultava ou desrespeitava tudo e todos.

Mas ele não é o único. Há outros cómicos, também eles rodeados de gente cega, surda e muda. Que agora nada vê, nada ouve, nada sabe. Mas está no palco para fazer coro.

Se não fosse triste era cómico.

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