Há casos assim - TVI

Há casos assim

    Constança Cunha e Sá
    Constança Cunha e Sá é formada em Filosofia pela Universidade Católica de Lisboa. Antes do jornalismo, foi professora de filosofia. Começou a sua carreira de jornalista na revista Sábado e um ano depois integrou o jornal INDEPENDENTE. Foi aqui que se revelou o seu estilo jornalístico, tendo assinado uma coluna de opinião no jornal. Foi ainda Diretora-adjunta e Diretora do INDEPENDENTE. Ainda nos jornais foi redatora-principal no Diário Económico. Depois da imprensa escrita integrou a TVI como Editora de Política e mais tarde como jornalista e comentadora. Escreve semanalmente no jornal I, com a coluna de opinião «FEIRA DA LADRA», anteriormente escreveu no Jornal de Negócios, Público e Correio da Manhã. Na TVI24 modera o programa A PROVA DOS 9 às 5ªas feiras, e tem o seu espaço de opinião diário às 21h00.
Mário Centeno

Constança Cunha e Sá, jornalista e comentadora da TVI, escreve sobre a Caixa Geral de Depósitos

E, de repente, o folhetim da nomeação da antiga administração da Caixa Geral de Depósitos regressou em força por via de um e-mail mais ou menos comprometedor. Em menos de um fósforo, os ânimos, até então, entretidos com outros assuntos menores (como o défice, a dívida ou a situação da banca), exaltaram-se, dividindo-se entre os que exigem a demissão de Mário Centeno, os que defendem a manutenção de Mário Centeno e os que se ficam pela fragilização de Mário Centeno. Na base, como se sabe, está um hipotético acordo (que todos sempre souberam que existiu, nomeadamente o Presidente da República, como é óbvio) entre o ministério das Finanças e a equipa de António Domingues.

Este acordo que Mário Centeno admite, agora, ser fruto de “um erro de percepção mútuo” - uma expressão a reter – teve a sua confirmação quando o próprio António Domingues foi nomeado para a Caixa, depois de ter imposto as suas condições. E quando o ministério das Finanças, na altura, esclareceu que não era “por lapso” que o diploma do Governo isentava a administração do banco público de apresentar as declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional. Depois descobriu-se que havia uma lei de 1983 que inviabilizava este feliz arranjo e o resto da história é conhecido.

Isto para dizer que no essencial não há nada de substancialmente novo nos últimos episódios conhecidos. O Governo geriu mal – para não dizer pior – a nomeação da antiga administração da Caixa, assente no equívoco de que um banco público pode ser gerido como um banco privado. António Domingues, ao não perceber o que lhe era exigido enquanto presidente de um banco público, mostrou que não estava à altura do cargo para que tinha sido nomeado. O PSD e o CDS, como habitualmente, brilharam pela irresponsabilidade. Os mesmos que, ainda há pouco tempo, conviveram amenamente com as mentiras de Maria Luís Albuquerque, no Parlamento, exigem agora a demissão de Mário Centeno e a divulgação das suas mensagens telefónicas. Pelo meio, como é evidente, fragilizam a Caixa Geral de Depósitos, põem em causa a sua recapitalização e ameaçam a estabilidade do sistema financeiro português. Mas a sobrevivência política não se compadece com estes pequenos detalhes. Nem de propósito, acabei de ouvir, na Assembleia da República, o sr. Montenegro declarar que a democracia está em perigo porque a maioria de esquerda o impede de bisbilhotar as mensagens telefónicas de Mário Centeno. Elucidativo!  

Por fim, o Presidente da República – e aí, sim, alguma coisa mudou – depois de ter dado o seu apoio a Mário Centeno e ao Governo (e foi isso que Marcelo fez apesar de algumas hermenêuticas recentes o quererem suavizar) acabou, ele próprio, e a crer nos jornais, vítima da perfídia do ministro Centeno que não lhe terá dado conta das mensagens telefónica que enviou a António Domingues. Daí a um comunicado da Presidência que fragiliza ainda mais o ministro das Finanças foi um passo que Marcelo não se coibiu de dar. Há casos assim, em que ninguém se sai bem.

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