A Web Summit retirou o convite a Marine Le Pen, na sequência das queixas registadas em Portugal sobre a presença da líder da extrema-direita francesa no evento.
O CEO da Web Summit, Paddy Cosgrave, assumiu no Twitter ser "agora claro" que a "decisão correta" é "retirar o convite" à líder da extrema-direita francesa.
It’s clear to me now that the correct decision for @WebSummit is to rescind Marine Le Pen’s invitation.
— Paddy Cosgrave (@paddycosgrave) August 15, 2018
Paddy Cosgrave assumiu que as críticas geradas online na última noite estão na origem da decisão, assumindo que a presença de Marine Le Pen é "desrespeitosa para o país anfitrião" e "desrespeitosa para os milhares de participantes" no evento.
Based on advice we have received and the large reaction online overnight, her presence is disrespectful in particular to our host country. It is also disrespectful to some of the many tens of thousands of attendees who join us from around the world.
— Paddy Cosgrave (@paddycosgrave) August 15, 2018
“A questão do ódio, liberdade de expressão e plataformas tecnológicas é decisiva em 2018”, pelo que a Web Summit “vai redobrar esforços para abordar esta difícil questão com mais cuidado”, escreveu, ainda, acrescentando: “Estamos abertos a quaisquer sugestões sobre quem pode ser adequado, mas também desadequado, para falar sobre um amplo conjunto de questões que afetam a sociedade e a tecnologia.”
Na sequência de várias queixas, a organização da Web Summit disse, na terça-feira, que retiraria o convite a Le Pen se o Governo português pedisse, o que não aconteceu.
Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o gabinete do ministro da Economia, Manuel Caldeira, assumiu que não iria fazer esse pedido.
Segundo a nota emitida, "o Governo português, estando, pelo seu impacto, empenhado no acolhimento deste evento privado, não tem, como em outros eventos, intervenção na seleção de oradores", justifica.
Para o executivo, a Web Summit "trata-se de um fórum alargado de discussão de tendências de mercado, cujo alinhamento - oradores e programa - é da exclusiva responsabilidade da organização".
Numa longa mensagem publicada no site Medium, Paddy Cosgrave justificou, na terça-feira, o convite à líder da extrema-direita francesa com a defesa da liberdade de expressão, mostrando-se, também, recetivo às críticas e à retirada do convite a Marine Le Pen.
I’ve published some thoughts on Marine Le Pen
— Paddy Cosgrave (@paddycosgrave) August 14, 2018
“What are militant anarchists, leftist trade union leaders, right-wing populists and libertarians all doing at a tech conference?”https://t.co/rVXTX54KAv
Se os nossos anfitriões em Portugal, o Governo português, nos pedirem para cancelar o convite a Marine Le Pen, iremos, evidentemente, respeitar esse pedido e fazê-lo imediatamente", afirmou o cofundador da Web Summit, que este ano se vai realizar pela terceira vez em Portugal, no mês de novembro.
A situação surgiu depois de, na terça-feira, o Bloco de Esquerda ter criticado o uso de dinheiros públicos para convidar Le Pen para a Web Summit.
Neste momento, tem de haver uma tomada de posição e tem de ficar esclarecido qual é que é a posição do Governo e da Câmara de Lisboa sobre este convite", defendeu a bloquista Isabel Pires.
Na segunda-feira, a associação SOS Racismo exigiu que as entidades envolvidas na organização da Web Summit assumissem uma posição pública sobre o convite feito à líder do partido francês Frente Nacional, Marine Le Pen, e que esta seja desconvidada. Em comunicado, a SOS Racismo sublinhou que “o racismo não é uma opinião” e que, por isso, condena que a líder da extrema-direita francesa tenha sido convidada para estar presente como oradora na Web Summit.
BE saúda retirada de convite
O Bloco de Esquerda saudou hoje a decisão da Web Summit, defendendo que seria importante uma posição do Governo e da Câmara Municipal de Lisboa.
É a decisão mais acertada, também considerando as pressões que foram feitas e a própria pressão social que existiu relativamente ao convite que tinha sido feito à Marine Le Pen" para participar na Web Summit, disse à agência Lusa a deputada e dirigente do BE Isabel Pires.
No entanto, "apesar de saudarmos esta decisão, a única incógnita que se mantém é de facto [que] o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa não tiveram uma única palavra sobre o assunto e isso lamentamos", acrescentou.
Para Isabel Pires, "seria importante haver uma tomada de posição considerando que existem dinheiros públicos nesta organização".
A declaração do organizador retirando o convite a Marine Le Pen "denota que assumiram o erro e não tinham talvez noção da importância que teria este convite", considerou ainda a deputada do Bloco de Esquerda.
SOS Racismo congratula-se com decisão
A associação SOS Racismo congratulou-se hoje com a decisão de ser retirado o convite à líder da extrema-direita francesa, considerando que ganha a democracia e ganham todos.
É a decisão que se impõe, veio 'tarde e a más horas', aliás, o convite nem devia ter acontecido, mas ainda bem que foi desconvidada porque assim ganha a democracia e ganhamos todos nós. Todo este jogo de empurra entre a organização e o próprio Governo era dispensável, uma vez que não podemos permitir que o erário público seja utilizado para legitimar um discurso racista e fascista que é o discurso de Marine Le Pen", disse à agência Lusa Mamadou Ba, da direção da SOS Racismo.
Tendo em conta "tudo o que sabemos, inclusive informações vindas a público recentemente de que o próprio Estado estaria muito preocupado com a reorganização da extrema-direita no nosso país, seria absolutamente inacreditável que se permitisse que viesse [a Portugal] uma das figuras mais importantes da extrema-direita para legitimar essa reorganização", salientou.
Sabemos que a nossa Constituição proíbe a existência de organizações que professam a ideologia racista, fascista e nazi que professa [o partido de] Marine Le Pen", acrescentou ainda a SOS Racismo.