O primeiro-ministro considerou que seria uma "grande insensibilidade" se o Governo não concedesse tolerância de ponto a 12 de maio, quando o Papa Francisco chega a Portugal.
António Costa falava aos jornalistas no final de um almoço debate promovido pela Associação dos Administradores e Gestores de Empresas, em Lisboa, depois de confrontado com a contestação de deputados do PS à concessão pelo Governo de tolerância de ponto nos serviços públicos a 12 de maio.
"É natural que muitos portugueses desejem participar na visita do Papa Francisco a Portugal, um momento que distingue o país. Por isso, também é natural que o Governo dê tolerância de ponto para facilitar quem deseja participar nas cerimónias o possa fazer e diminuam as condições de congestionamento."
Para o primeiro-ministro, pelo contrário, "seria estranho se o Governo não tomasse essa decisão".
"Tenho um grande à-vontade sobre esta matéria, porque não só defendo a laicidade, como não sou crente, mas respeito a crença dos outros e não ignoro que muitos portugueses perfilham a fé católica e que muitos portugueses desejarão estar em Fátima. Acho que seria uma grande insensibilidade da parte do Governo não o fazer, como temos feito em outras ocasiões."
Confrontado com as críticas feitas a esta decisão do Governo pelo deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro, conotado com a ala esquerda do PS, António Costa desdramatizou, argumentando que "as críticas são todas legítimas".
"Agora, a liberdade religiosa e a laicidade implicam também o respeito pelas crenças dos outros. Eu não sou crente, mas respeito as crenças dos outros", frisou.
BE e PCP afirmaram esta quinta-feira não se opor à tolerância de ponto no primeiro dia da visita do Papa a Fátima, uma competência do Governo, mas os comunistas têm dúvidas devido à "separação entre as Igrejas e o Estado”.
O PSD e o CDS-PP concordam com a tolerância de ponto. Em declarações à Lusa, o deputado do PSD Duarte Pacheco declarou-se favorável à decisão, afirmando que o Governo "compreendeu que o país é maioritariamente católico" e que, em Fátima, com a visita do Papa, o centenário das aparições e a canonização de dois pastorinhos "é um acontecimento excecional".
"E para acontecimentos excecionais, tomam-se medidas excecionais", disse, recusando a ideia de que, com esta decisão, se está a colocar em causa o Estado laico.
Pelo CDS, o deputado Filipe Anacoreta Correia também concorda com a decisão, interpretando-a como o "reconhecimento da importância do Papa Francisco, da Igreja Católica em Portugal e que esta visita mexe com milhares de pessoas que vão deslocar-se a Fátima".
"Com esta decisão, o Governo teve a preocupação de se associar a uma circunstância de grande alegria para os portugueses", concluiu.