Ministra da Saúde "não tem vergonha" de pedir desculpa aos enfermeiros - TVI

Ministra da Saúde "não tem vergonha" de pedir desculpa aos enfermeiros

  • CE/CM
  • 18 dez 2018, 20:55

Marta Temido convidou todos os sindicatos que representam a classe para uma reunião na sexta-feira, esperando uma aproximação

A ministra da Saúde assumiu, esta terça-feira, não ter vergonha de pedir desculpa aos enfermeiros por uma declaração em que usou o termo “criminoso” e mostrou-se convicta de que será possível “encontrar pontes” de entendimento com os profissionais em greve.

Em declarações aos jornalistas, Marta Temido assumiu que usou uma “expressão menos feliz” ao fazer uma “caracterização genérica sobre as posições em situações de diálogo ou não diálogo”, mas garante que não teve intenção de “pôr em causa nenhuma profissão”, “muito menos os profissionais de enfermagem”.

Numa entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, ao ser questionada sobre as negociações com os sindicatos dos enfermeiros em greve, Marta Temido afirmou que entrar nesse diálogo não seria correto para com os outros sindicatos. “Isso estaria a privilegiar, digo eu, o criminoso, o infrator”, disse, então.

O pedido de desculpas aos enfermeiros por parte da ministra já tinha sido veiculado pela bastonária da Ordem destes profissionais, Ana Rita Cavaco, num comunicado divulgado na segunda-feira.

Hoje, a ministra foi confrontada pelos jornalistas com este pedido de desculpa e admitiu que seja uma “nova forma de fazer política”.

Usei uma expressão menos feliz, por isso fiz o pedido de desculpa. Não temos de ter vergonha de pedir desculpa quando, ainda que inadvertidamente, causamos aos outros uma sensação de lesão”, afirmou hoje no final de um debate promovido na sede do PS em Lisboa sobre a nova Lei de Bases da Saúde.

Sobre uma aproximação às estruturas sindicais em greve, Marta Temido disse que convidou todos os sindicatos para uma reunião na sexta-feira, indicando que espera uma aproximação.

Espero que possamos conversar sobre o que preocupa os portugueses. Uma circunstância de greve no SNS que está a por em causa o normal funcionamento dos serviços e portanto é essa a minha expectativa, que possamos fazer pontes, entendermo-nos e repor a normalidade de funcionamento do SNS”, indicou.

A greve dos enfermeiros em blocos operatórios de cinco hospitais públicos decorre desde o dia 22 de novembro e prolonga-se até final deste mês, estando a levar ao adiamento de cerca de 500 cirurgias por dia.

Encontro na sexta-feira

O Ministério da Saúde anunciou hoje que "convidou os sindicatos dos enfermeiros" para uma reunião na sexta-feira, à margem das negociações, com o propósito de "desenvolver uma reflexão conjunta" sobre o setor, em especial a profissão de enfermeiro.

Numa nota à imprensa, o Ministério afirma-se "empenhado em discutir com os profissionais de enfermagem", assinalando "a necessidade de consensos que dignifiquem a profissão e respondam às necessidades de cuidados de saúde de todas as pessoas".

O Ministério da Saúde assegura que está "a envidar todos os esforços" para "garantir a continuidade das negociações que estão em curso" com os sindicatos dos enfermeiros.

A nota da tutela surge depois de a Ordem dos Enfermeiros ter defendido um acordo entre o Governo e os sindicatos em relação à 'greve cirúrgica', a decorrer até ao fim do ano nos blocos operatórios de cinco hospitais, alertando para o adiamento de mais de sete mil cirurgias.

O anúncio da convocatória da reunião foi feito pelo Ministério da Saúde depois de a Federação Nacional dos Sindicatos dos Enfermeiros, que não está vinculada à 'greve cirúrgica', ter desmarcado uma paralisação agendada para 26, 27 e 28 de dezembro.

Por outro lado, a Comissão Negociadora Sindical dos Enfermeiros, da qual fazem parte o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e o Sindicato dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira (SERAM), indicou que não iria comparecer na reunião de hoje com a tutela, invocando falta de propostas sobre progressões e o pagamento do suplemento aos especialistas, que considera imprescindíveis para a continuidade das negociações.

Não há divergência ideológica no PS sobre a Lei de Bases

A ministra da Saúde disse hoje acreditar que não há uma divergência ideológica nem de princípios no PS quanto à proposta do Governo da Lei de Bases da Saúde, embora assuma que há uma divisão.

Quero acreditar que estamos perfeitamente alinhados em termos de princípios dentro das várias sensibilidades que o PS tem. Aquilo que nos divide não é uma questão de princípios. É uma questão do que alguns gostariam de ver explicitado com maior pormenor e outros entendem que uma Lei de Bases não é a sede própria”, afirmou a ministra Marta Temido, no final de um debate promovido pelo PS.

Para a ministra, não estão em causa divergências ideológicas, “estão em causa divergências sobre aspetos que alguns consideram muito importantes e outros consideram que a sua sede própria não é a lei de bases. Muitos desses aspetos são essenciais para uma regulamentação complementar, mas não talvez para a lei de bases”.

Marta Temido respondia assim a questões levantadas hoje durante o debate na sede nacional do PS, em Lisboa, nomeadamente a críticas de Maria de Belém Roseira, coordenadora da comissão de revisão da Lei de Bases nomeada pelo anterior ministro, Adalberto Campos Fernandes.

Maria de Belém Roseira lamentou que a comissão tivesse feito um trabalho tão transparente e prolongado e que, por vontade da ministra, esse trabalho tenha sido alterado e reduzido.

Em declarações aos jornalistas, Marta Temido garantiu ainda que o primeiro-ministro está totalmente alinhado com a proposta entregue pelo Governo ao parlamento e que se revê nela inteiramente.

Continue a ler esta notícia