“Não houve interrupção no funcionamento da rede SIRESP, nem houve nenhuma Estação Base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio", conclui o relatório de desempenho da entidade operadora do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal, na sequência do trágico incêndio de Pedrógão Grande, disponibilizado nesta terça-feira no site do Governo.
A empresa privada que gere a rede de comunicações de emergência do Estado garante que esta "esteve à altura da complexidade do teatro de operações, assegurando as comunicações e a interoperabilidade das forças de emergência e segurança", contrariando a versão da própria Proteção Civil, que assumiu a existência de falhas, particularmente no período crítico, das 19 horas.
A prová-lo, segundo o relatório, estão as "mais de cem mil chamadas processadas no período crítico, das 19:00, de dia 17, às 09:00, de dia 18, através de 1092 terminais".
A SIRESP assegura, ainda, que "não houve estações fora de serviço por falha de energia elétrica", mas admite que se registaram situações de saturação.
Registaram-se situações de saturação na Rede, embora, durante o dia 17, primeiro dia do incêndio, estas não tenham sido significativas, particularmente até às 23 horas. A saturação da Rede não foi originada por nenhuma falha da Rede, mas foi originada por uma procura de tráfego superior à capacidade disponível."
De acordo com o relatório, das 16 Estações Base que cobrem a zona do incêndio, "cinco entraram em modo local", devido à "destruição dos cabos de fibra ótica e outros da rede de telecomunicações que asseguram contratualmente a interligação ao resto da Rede" na sequência do incêndio que lavrava na região.
O SIRESP explica que este "modo local" está previsto no seu desempenho e permite, no caso de uma Estação Base perder a interligação com as restantes, "assegurar [localmente] as comunicações nos terminais que estão na sua área de cobertura e mesmo no caso de falha total da Estação base permitir que terminais próximos comuniquem entre si em modo direto (walkie-talkie)".
Mesmo em situações extremas como a que se verificou em Pedrógão Grande, ficada demonstrado que a Rede SIRESP funcionou de acordo com a arquitetura que foi desenhada para esta Rede", defende o documento.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro ordenou, num despacho, à titular da pasta da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, que providenciasse junto da secretaria-geral do seu ministério um "cabal esclarecimento" sobre as falhas ocorridas na rede SIRESP.
Este despacho surge na sequência da resposta da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) ao primeiro-ministro, assumindo as falhas na rede SIRESP, entre sábado e terça-feira [de 18 a 20 de junho], no teatro de operações de combate ao incêndio de Pedrógão Grande, mas alegando que foram supridas por "comunicações de redundância".
A 'fita do tempo', uma espécie de ‘caixa negra' que permite registar a sequência ordenada dos principais acontecimentos e decisões operacionais, das comunicações registadas pela ANPC revela falhas "quase por completo" nas primeiras horas do incêndio em Pedrógão Grande, "impedindo a ajuda às populações".
Os incêndios que deflagraram na região centro, há uma semana, provocaram 64 mortos e mais de 200 feridos, consumiram 53 mil hectares e só foram dados como extintos no sábado.
Mais de 10 mil chamadas enfrentaram saturação
Cerca de 8% das 115.255 chamadas feitas no incêndio de Pedrógão Grande, entre as 19:00 de 17 de junho e as 09:00 do dia seguinte, não foram feitas à primeira tentativa devido à saturação da rede, revela o SIRESP.
O relatório de desempenho do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal indica que o número de chamadas processadas nas 16 estações base, entre as 19:00 de 17 de junho e as 09:00 do dia seguinte, foi de 115.255, representando uma média de 8.233 chamadas feitas por hora.
Segundo o mesmo documento, o número de situações de saturação foi de 10.395, representando 8,3% das tentativas de chamada.
“A estação base de Serra Cabeço do Pião foi aquela que mais chamadas processou e simultaneamente mais ‘busies’ (não consegue estabelecer a comunicações à primeira tentativa) teve, porque atingiu a sua capacidade disponível, tendo sido processadas em média 1.646 chamadas por hora”, indica o documento.
O primeiro registo da ‘fita do tempo' das comunicações registadas pela Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) é das 19:45 de sábado, hora em que começaram os problemas na rede de comunicações.
Segundo esta, foi nestas primeiras horas que existiram vários pedidos de ajuda de pessoas cercadas pelo fogo, a que os comandos operacionais não conseguiram dar resposta imediata, devido às falhas nas comunicações.
Na primeira comunicação registada, a Proteção Civil informa que o 112 comunicou existirem "três vítimas no interior de uma habitação", que eram da zona do Porto e que estavam numa habitação devoluta, cercadas pelo incêndio na localidade de Casalinho e que diziam não conseguir sair sozinhas, lê-se no documento.
O relatório do SIRESP avança que, entre as 14:00 e as 19:00 do dia 17 de junho, início do fogo, não foram feitas à primeira tentativa 246 chamadas das 7.877 processadas naquele período.
Durante o período analisado no relatório, entre as 12:00 de 17 de junho e as 12:00 de 22 de junho, não foram feitas à primeira tentativa 15% das mais de um milhão e cem mil chamadas processadas.
Veja aqui o relatório completo do SIRESP:
O que diz o SIRESP sobre os incêndios de Pedrógão Grande e Castanheira de Pera by TVI24 on Scribd