Brasileiro Raduan Nassar é o vencedor do Prémio Camões 2016 - TVI

Brasileiro Raduan Nassar é o vencedor do Prémio Camões 2016

  • Redação
  • VF (atualizada às 20:18)
  • 30 mai 2016, 19:07
Raduan Nassar vence Prémio Camões 2016

Nassar é autor de uma obra de intervenção com vista à promoção de uma consciência política e social contra o autoritarismo. Duas das suas obras já foram adaptadas ao grande ecrã

O Prémio Camões 2016 foi atribuído ao escritor brasileiro Raduan Nassar. A revelação foi feita, esta segunda-feira, pelo Secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, no seguimento da reunião do júri que decorreu em Lisboa.

Através da ficção, o autor revela, no universo da sua obra, a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso. Muitas vezes essa revelação é agreste e incómoda, e não é raro que aborde temas considerados tabu. Essa possibilidade dá-se no uso rigoroso de uma linguagem cuja plasticidade se imprime em diferentes registos discursivos verificáveis numa obra que privilegia a densidade acima da extensão", lê-se na justificação do júri. A decisão do júri foi por unanimidade.

O secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, que anunciou o vencedor, disse que o premiado reagiu "com surpresa" à distinção, e que a acolheu com o "maior agrado e com orgulho".

A editora Cotovia, que publicou o autor, em Portugal, considera-o "um dos maiores escritores das letras brasileiras, originalíssimo autor de uma obra muito reduzida e depurada".

O presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, considerou que Raduan Nassar é um autor com “propriedade” e um dos mais “destacados narradores da atualidade” do Brasil.

Trata-se da distinção de um dos mais destacados narradores brasileiros da atualidade, cuja obra, pela intensidade da ligação a um real e tantas vezes violento, fantasmático e não raro transfigurado em fantasia, o coloca, sem sombra de dúvidas, na linha de alguns dos escritores maiores do país irmão”, afirmou à Lusa, José Manuel Mendes.

Para José Manuel Mendes, de entre os narradores da atualidade, Raduan Nassar “era aquele que de certo modo se considerava desde há muito como podendo merecer uma distinção para além das fronteiras do seu país no âmbito da língua portuguesa”.

Raduan Nassar tem 80 anos e nasceu em Pindorama, São Paulo, em 1935. O escritor é descendente de libaneses, estudou Direito e Letras na Universdade de São Paulo, e concluiu a sua formação académica em Filosofia.

O brasileiro é autor de uma obra de intervenção, com vista à promoção de uma consciência política e social contra o autoritarismo.

Estreou-se na literatura em 1975, com o romance "Lavoura Arcaica". Em 1978, foi publicada a novela "Um Copo de Cólera" e em 1997 a coletânea de contos "Menina a Caminho". Com apenas três livros publicados, é considerado pela crítica como um grande escritor e comparado a nomes consagrados da literatura brasileira, como Clarice Lispector e Guimarães Rosa, graças à extraordinária qualidade da sua linguagem e da força poética da sua prosa.

Os seus livros tornaram-se conhecidos do público em geral com as versões cinematográficas de "Um Copo de Cólera" (veja o trailer abaixo) e "Lavoura Arcaica".

Com a obra traduzida em várias línguas, Raduan Nassar está publicado pela Penguin, no Reino Unido, tendo feito parte, em 2016, da lista do MAN Booker International Prize com a tradução de "Um Copo de Cólera".

O Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1989 e é o prémio de maior prestígio da língua portuguesa. O escritor Miguel Torga foi o primeiro autor a ser distinguido. 

Com a sua atribuição, é prestada anualmente uma homenagem à literatura em português, recaindo a escolha num escritor cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento da língua portuguesa.

O júri desta 28.ª edição do Prémio Camões foi constituído pela professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Paula Mourão, pelo escritor português Pedro Mexia, pela escritora e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Flora Sussekind, pelo escritor e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Sérgio Alcides do Amaral, pelo reitor da Universidade Politécnica de Maputo, Lourenço do Rosário, e pela professora da Faculdade de Letras de Lisboa e da Universidade de Macau Inocência Mata, natural de São Tomé e Príncipe.

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