Costa, médicos e direções de hospitais perdem paciência com enfermeiros - TVI

Costa, médicos e direções de hospitais perdem paciência com enfermeiros

Classe profissional mostra-se "surpreendida" com declarações do primeiro-ministro - "Chegámos ao limite! - e um dos sindicatos acusa hospitais de agirem de má fé para dar argumentos à requisição civil a que o chefe de Governo admite recorrer

"Chegámos ao limite". António Costa admite recorrer às medidas "legalmente necessárias" e, "se necessário", vai mesmo usar a requisição civil. Os enfermeiros mostram-se surpreendidos, respondem ao primeiro-ministro e também criticam as administrações de hospitais, acusando-as de má fé para darem argumentos à requisição civil. 

Surpreende [o que disse António Costa], porque espero que por parte da tutela e do ministério da Saúde que haja abertura para continuar a negociar. Pelo menos que se continue a negociar. (...) Esperemos que seja um braço de ferro que termine entretanto. Da nossa parte, não é nossa intenção manter esta posição. No entanto, é bom que se perceba que os enfermeiros não estão dispostos a deixar cair por terra as suas reivindicações. Esperamos ser novamente chamados para negociações  chegar a um consenso, que é isso que se espera"

Foi esta a reação da enfermeira Sara Rego, do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal, quando questionada pela TVI24, no Hospital de São João, sobre as declarações do primeiro-ministro, em entrevista ontem à noite, na SIC. 

Para além de ter dito que os enfermeiros chegaram ao limite do aceitável, Costa foi taxativo: "O que iremos fazer é avançar com o diploma (....) Aceitámos a reivindicação principal, que nos pareceu justa: repor uma carreira com várias categorias".

Não queremos uma escalada de tensão. Queremos agir com a firmeza necessária, mas com a justiça devida. Chegámos ao limite daquilo que podíamos aceitar. Se for necessário, iremos utilizar esse instituto jurídico". 

A paciência do primeiro-ministro esgotou-se também para a bastonária da dos enfermeiros, acusando Ana Rita Cavaco de violar as regras por incitamento sucessivo ao protesto - "é expressamente proibido a Ordem ter uma atividade sindical". Por isso, vai avança com uma queixa.

A resposta de Ana Rita Cavaco não se fez esperar. Diz a bastonária que "os enfermeiros se sentem acicatados e desrespeitados" e pede a António Costa que concretize a queixa que vai fazer.

Serviços mínimos: queixas de parte a parte com intenções?

Também o bastonário da Ordem dos Médicos criticou ontem os enfermeiros - acusando os seus representantes de "declarações falsas". O diretor clínico do Hospital de Santo António chegou mesmo a referir que os serviços mínimos não estão a ser cumpridos.

Ontem, apenas duas salas das doze estavam a operar e apenas cinco dos 26 doentes que deviam ter sido operados - considerados prioritários - é que efetivamente foram. 

Sobre isto, a mesma representante sindical ouvida pela TVI24 assegurou que os serviços mínimos "estão a ser cumpridos e estão a ser dotados de todos os recursos humanos que vêm descritos no acórdão emitido pelo tribunal arbitral".

Essas acusações não correspondem à verdade".

Os enfermeiros dizem que há administrações hospitalares a agendarem cirurgias para a totalidade das salas operatórias, como se não houvesse greve, para dar argumentos ao Governo para que possa avançar para a requisição civil.

"Má fé"

Lúcia Leite, da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), disse à Lusa que a administração hospitalar agiu de má fé.

O senhor diretor fala em 12 salas que foram agendadas, ora 12 salas são todas as salas do bloco operatório do Hospital de Santo António”, afirmou Lúcia Leite, sublinhando: “O que os senhores que se põem a jeito para fazer favores ao Governo fizeram foi marcar doentes prioritários, alguns já com tempo de resposta mínima ultrapassados, em todas as salas, como se não estivéssemos em greve".

Esta representante sindical considera que esta foi uma atitude "de má fé" para dar argumentos ao Governo para avançar par a requisição civil, e diz que houve uma atitude concertada por parte das várias instituições”. “O que aconteceu foi uma atitude concertada por parte das várias instituições (…) para agendamentos por períodos mais longos, com doentes a mais para o período operatório. Quem faz o plano sabe que, no fim do dia, por muito que todos trabalhássemos, iam sobrar doentes para operar”.

Esta nova greve dura até final de fevereiro. Não se sabe se haverá outros períodos de paralisação: o que se sabe é que ose enfermeiros deixam essa porta em aberto

A greve tem tido uma adesão superior a 80%, nalguns casos mesmo 100%. 

Continue a ler esta notícia