Fogo de Mação alastra com violência - TVI

Fogo de Mação alastra com violência

  • Notícia inicialmente inserida às 18:13 e atualizada às 20:40
  • 17 ago 2017, 19:42

Dois bombeiros feridos em Abrantes. Mais um dia em que as chamas não dão descanso, um pouco por todo o país, e colocam aldeias e populações em perigo

O fogo de Mação, em Santarém, alastrou com violência à freguesia de Belver, concelho de Gavião, já distrito de Portalegre, provocando, inclusive, o corte da A23. Os seis incêndios acompanhados com maior preocupação pela Proteção Civil mobilizavam ao final da tarde 1.584 operacionais, 449 viaturas e 24 meios aéreos, nos distritos de Aveiro, Santarém, Vila Real e Viseu.

A situação é muito complicada e o fogo ameaça duas aldeias em Portalegre. "O incêndio veio do Rosmaninhal, em Mação, e entrou na freguesia de Belver com muita violência e está a dirigir-se para as aldeias de Arriacha Fundeira e Torres", disse à agência Lusa a presidente da junta de freguesia local, Martina Jesus.

"O vento está muito forte, a mudar sempre de direção, e com grandes projeções das chamas", disse a autarca de Belver, freguesia que no final de julho já havia sido atingida pelas chamas provenientes de um outro incêndio de Mação, e que devastou, então, "cerca de 5 mil hectares da freguesia, quase 80% do território".

Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Gavião, José Pio, relatou que a situação é "muito complicada", uma vez que o incêndio está a aproximar-se das aldeias de Torre Cimeira e Torre Fundeira.

Está a progredir com uma violência verdadeiramente infernal".

José Pio acrescentou ainda que a "próxima hora" vai ser "crucial" para decidir se avançam com o plano de evacuação das populações das duas aldeias, que contam com cerca de 150 habitantes.

Bombeiros feridos em Abrantes

Também no distrito de Santarém, mas em Abrantes, dois bombeiros ficaram hoje feridos quando combatiam as chamas. Sofreram queimaduras de 1º e 2º grau, tendo um deles sido transferido para Lisboa. 

"Os dois elementos feridos estavam com um autotanque de Abrantes e sofreram queimaduras de 1º e 2º grau, um num braço e numa mão e o outro numa perna, no combate ao incêndio que lavra em Lercas", Mouriscas, concelho de Abrantes, detalhou à Lusa fonte do comando das operações.

O incêndio em Abrantes decorre daquele que começou às 00:01 de quarta-feira no concelho de Mação e que também já se propagou para o Sardoal e já provocou mais de 100 deslocados.

A presidente da Câmara Municipal de Abrantes indicou que o fogo encontra-se com “uma frente ativa entre as aldeias de Lercas e de Entre Serras” e tem “vários pontos quentes”. Há registo de “muitas reativações”, disse à Lusa.

Maria do Céu Albuquerque disse ainda que o incêndio lavra, “para já, sem perigo para as populações”, ainda que se mantenham desde quarta-feira 28 pessoas realojadas, preventivamente, nas instalações da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes e do Regimento de Apoio Militar de Emergência.

O vento que se faz sentir é muito forte e estamos neste momento com meios preposicionados para podermos combater eventuais projeções e evitarmos que este incêndio propague a outras regiões”.

Relativamente ao concelho de Sardoal, o fogo lavra ao longo da freguesia de Alcaravela, desde o lugar de Tojeira até a aldeia de Vale Formoso, com vários reacendimentos, alguns deles preocupantes, afirmou o autarca Miguel Borges.

"O grande desafio é a capacidade de resposta perante os reacendimentos que possam surgir”, declarou à Lusa o presidente da Câmara de Sardoal, sublinhando que a temperatura está muito elevada e o vento sopra com alguma intensidade.

Nota-se colunas de fumo muito grandes e de muita extensão”.

Miguel Borges disse que não há registo de feridos, nem danos em habitações, informando que foram retiradas 30 pessoas das habitações, por questões de segurança.

Em declarações à Lusa, o vice-presidente da Câmara Municipal de Mação, António Louro, disse que o "incêndio continua descontrolado e tem três frentes ativas a lavrar com muita intensidade perto das aldeias de Rosmaninhal, Serra, e de Mação, em Cabeça da Cruz".

Pelas 17:15 estavam no terreno a combater as chamas 1.005 bombeiros, apoiados por 290 veículos terrestres e 13 aéreos.

Sete meios aéreos em Viseu

Mais a norte, no distrito de Viseu, há sete meios aéreos e cerca de 250 operacionais a combater dois incêndios, nos concelhos de Castro Daire e de Resende.

De acordo com a página na Internet da ANPC, pouco depois das 13:00 de hoje teve início um incêndio num povoamento florestal da localidade de Mosteiro, freguesia de Cabril, no concelho de Castro Daire.

Cerca das 17:30, o fogo tem uma frente ativa e está a ser combatido por 121 operacionais, 34 meios terrestres e cinco meios aéreos (três helicópteros e dois aviões).

Os bombeiros estão também a combater as chamas mais a norte, no concelho de Resende, onde às 03:00 de hoje deflagrou um incêndio em mato, na localidade de Vila Verde, freguesia de São Martinho de Mouros.

A página da Internet da ANPC refere que estão no local 131 operacionais, apoiados por 33 meios terrestres e dois meios aéreos.

O incêndio encontra-se com uma frente ativa.

Muitas ignições em Vila Real

Ainda mais a norte, em Vila Real, o presidente da Federação dos Bombeiros advertiu que se tem registado “um número bastante significativo” de incêndios no distrito, ultrapassando as três dezenas em alguns dias, o que “dificulta o combate a este flagelo”.

Tem atravessado situações bastante complicadas um pouco por todo o lado, mas sem dúvida que os incêndios que deflagraram em Alijó e Sabrosa foram os mais preocupantes e os que causaram prejuízos mais avultados as suas populações”.

Em Alijó, o fogo lavrou durante quase três dias, destruindo zonas de pinhal, vinha e olival e rodeando várias aldeias. Já esta semana, em Sabrosa, o incêndio aproximou-se de três aldeias praticamente ao mesmo tempo e destruiu uma casa de habitação, mais duas que não eram habitadas, e queimou cerca de 200 toneladas de lenha que abastecia uma padaria, um trator e diversa maquinaria.

“Infelizmente há ocorrências de difícil resolução e que atingem proporções alarmantes que resultam essencialmente da falta de acessos, ordenamento florestal, limpeza das florestas, êxodo rural e consequente abandono da agricultura, edificações degradadas, falta de limpeza em volta dos aglomerados urbanos”, afirmou.

E isto faz com que, na sua opinião, “muitas vezes a concentração de meios se posicione na proteção das edificações e das próprias pessoas, fazendo com que os incêndios continuem a lavrar de forma descontrolada”.

José Pinheiro disse não ter dúvidas que a Autoridade Nacional de Proteção Civil, através do Centro Distrital de Operações de Socorro de Vila Real, tem feito um “esforço significativo na distribuição de meios pelos diversos teatros de operações”.

O que nem sempre é fácil devido ao elevado número de ignições que surgem ao mesmo tempo e uma grande parte no período noturno o que me leva a concluir que se trata de um ato criminoso”.

José Pinheiro referiu não conseguir “compreender como há pessoas que são capazes de uma atitude destas” porque, “além dos danos ambientais irreversíveis e económicos que causam, colocam em risco a vida de muita gente, inclusive as vidas dos seus próprios familiares e amigos” e, por isso conclui que, “só pode ser um problema de sanidade mental”.

“Apesar do elevado número de ignições, das condições meteorológicas adversas, a resposta por parte dos bombeiros tem sido bastante positivas, graças ao seu empenho, entrega, dedicação e espírito de sacrifício, que tem sido uma constante ao longo deste período”, salientou.

Mesmo os incêndios de maior dimensão, como o de Vila Real, que rodeou aldeias e obrigou à retirada de algumas pessoas por precaução, ou o de Ribeira de pena, que lavrou em pinhal cerrado e de difícil acesso e que empurrado pelo vento pela serra acima, foram controlados num período de 24 horas.

Em Valpaços, na quarta-feira e quase em simultâneo, ocorreram dois incêndios obrigando a uma dispersão dos meios de combate. Esta tarde, já houve um novo alerta para um fogo neste concelho, na zona de Vilarandelo.

Boticas com duas frentes ativas

O incêndio que deflagrou ao início da tarde em Boticas, também em Vila Real, lavra em “duas frentes muito ativas” e está a ser combatido por cerca de 120 operacionais, apoiados dois meios aéreos.

O alerta para este fogo, que está a queimar uma zona de mato e alguns castanheiros, foi dado às 12:43, na zona da aldeia de Ardãos.

O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, disse à agência Lusa que a “situação está complicada” e explicou que o vento forte reativou o incêndio que já tinha estado praticamente dominado.

O vento forte e os fracos acessos são, segundo o autarca, as principais dificuldades sentidas pelos operacionais no combate a este fogo.

O autarca referiu que as ”chamas avançam em duas frentes muito ativas”, ainda longe das aldeias, e salientou que o combate foi reforçado por um grupo de bombeiros proveniente de Braga.

Os meios estão a também ser posicionados perto de alguns armazéns agrícolas, para que não se verifiquem problemas nestes locais.

Espalhados pelo terreno estão, segundo a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), quase 120 operacionais e 20 viaturas, que estão a ser apoiados por dois meios aéreos.

Mais de 450 militares no terreno

O Exército tem hoje no terreno 467 militares, 111 viaturas e três máquinas de rasto no apoio ao combate aos incêndios, confecionando, diariamente, 1.000 refeições em cozinhas de campanha nas localidades de Vila de Rei e Mação.

Em comunicado, no qual faz o ponto da situação do apoio no combate aos incêndios, o Exército refere que, no âmbito da colaboração em missões de proteção civil, tem empenhados no dia de hoje no “apoio à Autoridade Nacional de Proteção Civil, ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a diversos municípios, um total de 467 militares, 111 viaturas e três máquinas de rasto”.

O Exército tem, assim, no terreno 59 patrulhas que “exercem ações de vigilância em 11 áreas de patrulhamento nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Leiria, Lisboa e Faro”.

Estão ainda no apoio ao combate aos incêndios “11 Pelotões de Rescaldo e Vigilância Pós-Incêndio e três Destacamentos de Engenharia” nas regiões de Vila de Rei (Castelo Branco), Mata Loba (Braga), Aboboreira (Mação) e Louriçal do Campo (Castelo Branco).

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