"Justiça terrena" não será suficiente para punir Pedro Dias - TVI

"Justiça terrena" não será suficiente para punir Pedro Dias

  • Andreia Marques
  • Com Lusa, atualizada às 14:47
  • 16 fev 2018, 10:55

As palavras são do advogado das famílias de Luís Pinto e Liliane Pinto, esta sexta-feira, durante as alegações finais, no julgamento que decorre no Tribunal da Guarda

Para o advogado dos familiares de Luís Pinto e Liliane Pinto, João Paulo Matias, Pedro Dias matou o casal para levar o carro. Para isso, montou um cenário de uma operação stop, que acabou em tragédia, pretendendo, desta forma, lançar a confusão na investigação e desviar a atenção dele próprio. João Paulo Matias diz que foi por isso que usou a Glock da GNR e não a sua própria arma.

Há um fio condutor nesta história e é o arguido. Um fio condutor de violência gratuita, frieza e calculismo”, disse o advogado

O advogado do casal Pinto pediu 25 anos de cadeia, à semelhança do que já tinha feito o Ministério Público, apesar de considerar que a “justiça terrena” não será suficiente para o punir.

A mãe de Liliane Pinto não aguentou ouvir as alegações proferidas pelo advogado e teve de sair da sala. Poucos minutos depois voltou a entrar e chorou a ouvir falar da filha. 

Durante as alegações finais, o advogado João Paulo Matias afirmou não ter dúvidas de que as mortes de Liliane e de Luís Pinto aconteceram depois de Pedro Dias ter baleado os militares da GNR Carlos Caetano (que morreu) e António Ferreira (que sobreviveu).

Na sua opinião, este é um dos casos em que o ordenamento jurídico português “devia repensar a pena máxima de prisão”.

Nesse âmbito, o advogado disse esperar que “a justiça divina também faça a sua parte do trabalho, além da justiça terrena”.

Segundo João Paulo Matias, o casal saiu de Palhais, no concelho de Trancoso, entre as 05:20 e as 05:30 de 11 de outubro de 2016 com destino a Coimbra, para uma consulta.

Atendendo às horas a que as viaturas do casal e da GNR foram filmadas pela câmara do posto de combustível da Quinta da Lameiras a passar na Estrada Nacional 229 e à distância de 1,4 quilómetros até à zona onde Luís e Liliane foram encontrados, o advogado considerou que os disparos terão ocorrido entre as 06:25 e as 06:40.

Estes crimes terão acontecido depois de já ter matado Carlos Caetano junto ao hotel em construção nas Caldas da Cavaca, onde a patrulha da GNR o abordou, e de ter disparado contra António Ferreira na Serra da Lapa, acrescentou.

Na sua opinião, “foi para lançar confusão na investigação, para desviar a atenção de si próprio, que [Pedro Dias] criou este novo cenário de crime”, fazendo crer que se tratava de “uma operação Stop que terá corrido mal”.

Isto porque, acrescentou, o arguido sabia que estava referenciado no posto da GNR de Aguiar da Beira e que, depois de Carlos Caetano e António Ferreira serem encontrados, “iria ser um dos suspeitos”.

João Paulo Matias mostrou-se convencido de que todos estes crimes aconteceram apenas porque Pedro Dias não queria correr o risco “de poder perder a guarda da filha, que tinha a muito custo conseguido, a escassos dias dos acontecimentos”.

"Execuções sumárias"

Também o advogado da companheira de Carlos Caetano, Miranda Carvalho, pediu a pena máxima para Pedro Dias, considerando que, na versão que o arguido contou na quinta-feira ao tribunal, arranjou “lógicas quase absurdas para justificar o injustificável”.

Dirigindo-se ao coletivo de juízes, o advogado afirmou: “Ninguém perdoará se vossas excelências, com a prova que existe nos autos, a fundamentação e os depoimentos das testemunhas, não aplicarem ao arguido a pena de 25 anos”.

O advogado Miranda Carvalho diz que os homicídios de que Pedro Dias está acusado se trataram de "execuções sumárias", uma vez que os disparos foram todos dirigidos à cabeça. Para o advogado, isso demonstra bem a intenção do arguido. 

Tiago Gonçalves, que representa Lídia da Conceição, disse não ter dúvidas de que a mulher foi sequestrada e violentamente agredida por Pedro Dias numa casa de Moldes, no concelho de Arouca.

As lesões resultaram de uma violência desmedida, procurando calar a assistente para não ver posto em causa o seu plano de fuga”, considerou o advogado.

No entanto, como o relatório médico-legal refere não haver relação direta entre as lesões e o AVC que Lídia da Conceição sofreu 44 dias depois, o advogado disse que Pedro Dias deve ser condenado pelo crime de ofensa à integridade física qualificada e não pelo de homicídio qualificado sob a forma tentada (o que já tinha sido também defendido pelo Ministério Público).

Pedro Dias está acusado de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.

O julgamento prossegue durante a tarde. Neste momento, já fala a advogada de defesa do arguido, Mónica Quintela.

 

 

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