Uma descoberta que é mais do que uma mão cheia. Uma equipa internacional de astrónomos, incluindo a portuguesa Catarina Fernandes, detetou fora do sistema solar sete planetas semelhantes à Terra, onde a água, elemento fundamental para a vida, poderá existir em estado líquido.
Os sete exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar) têm um tamanho e uma massa aproximados ao da Terra e orbitam uma estrela anã extremamente fria, a TRAPPIST-1, localizada a cerca de 39 anos-luz do Sol, revela o estudo da equipa, divulgado hoje pela revista científica Nature.
Apesar de a estrela ser 'ultrafria', o estudo sugere que em seis dos planetas extrassolares potencialmente habitáveis, os que estão mais perto da TRAPPIST-1, a temperatura à superfície pode oscilar entre os 0ºC e os 100ºC.
O grupo de cientistas estima que estes seis planetas sejam rochosos como a Terra.
A investigação surge na continuidade de uma outra, em que a equipa de astrónomos, liderada por Michaël Gillon, da Universidade de Liège, na Bélgica, concluiu haver três exoplanetas em torno da estrela anã, mais pequena do que o Sol.
Motivado pela descoberta, anunciada em maio, o grupo, do qual faz parte Catarina Fernandes, encetou uma campanha de monitorização fotométrica (medição da luz) da estrela, a partir de telescópios espaciais, como o Spitzer, e terrestres, que permitiu identificar mais quatro exoplanetas no sistema estelar TRAPPIST-1.
No trabalho agora publicado, e que levou a agência espacial norte-americana NASA, que opera o telescópio Spitzer, a convocar uma conferência de imprensa para hoje, Michaël Gillon e colegas ressalvam que são necessárias mais observações para caraterizar em pormenor os planetas, em particular o sétimo, o mais afastado da estrela e cujo período orbital e interação com os restantes planetas continua a ser um mistério.
A estrela anã deve o seu nome ao telescópio belga TRAPPIST, instalado no Chile.
Em agosto, uma outra equipa internacional de investigadores, liderada pelo astrónomo Guillem Anglada-Escudé, da universidade britânica Queen Mary, anunciou a descoberta de um planeta extrassolar a orbitar a estrela mais perto do Sol, a Próxima de Centauro, uma anã vermelha relativamente fria localizada a 4,22 anos-luz da Terra.
De acordo com o grupo de cientistas, o planeta em causa, o mais próximo da Terra, o Próxima b, tem uma temperatura adequada para ter água líquida à sua superfície, pelo menos nas regiões mais quentes, e eventualmente vida tal como se conhece.
Ao contrário dos exoplanetas do estudo hoje divulgado, o Próxima b tem uma massa 1,3 vezes superior à da Terra. O clima do Próxima b é igualmente muito diferente do do 'planeta azul', sendo pouco provável que tenha estações devido à sua rotação e à forte radiação emitida pela sua estrela.
Provas do sistema solar caótico
Outro anúncio científico de relevo, também de hoje. Investigadores das universidades norte-americanas Wisconsin-Madison e Northwestern dizem ter encontrado provas da teoria do sistema solar caótico em sedimentos rochosos no Colorado, nos Estados Unidos, de há cerca de 90 milhões de anos.
A teoria do sistema solar caótico foi apresentada em 1989 pelo astrónomo francês Jacques Laskar, depois de cálculos matemáticos terem apontado que a órbita de Plutão, despromovido a planeta-anão, é 'caótica'.
Segundo a teoria, a instabilidade (variações das órbitas dos planetas) no Sistema Solar deve-se a Mercúrio, Vénus, Terra e Marte, planetas mais próximos do Sol.
A tese que tem prevalecido, desde o século XVIII, é que os planetas orbitam o Sol como um mecanismo de relógio, tendo trajetórias quase periódicas e muito previsíveis.
Para os cientistas, a descoberta agora anunciada, e cujos resultados são publicados na quinta-feira na revista Nature, permite compreender melhor a mecânica do Sistema Solar e a ligação entre as variações nas órbitas dos planetas e as alterações climáticas ao longo das épocas geológicas.