A história de Rui Patrício pelos olhos da história do Maisfutebol - TVI

A história de Rui Patrício pelos olhos da história do Maisfutebol

Rui Patrício

O guarda-redes cresceu lado a lado com o nosso jornal: esta sexta-feira completa 300 jogos. Ele, como nós, ainda com tanto para dar...

Relacionados
Esta história é mais ou menos como a festa da música tupiniquim, de Gabriel o Pensador: ainda há muito para chegar e não se sabe quando vai acabar.
 
Sabe-se, isso sim, quando começou: a 19 de novembro de 2006. Um domingo.
 
No Estádio dos Barreiros a lesão de Tiago lançou Rui Patrício para os convocados. O guarda-redes tinha 18 anos e somara apenas alguns minutos em dois jogos amigáveis: com o Real Massamá e com o Deportivo da Corunha.
 
Mas havia mais, claro.
 
Ricardo, o habitual titular, apresentou problemas físicos no aquecimento. Paulo Bento viu-se obrigado a lançar então Rui Patrício. Foi o primeiro jogo do guarda-redes.


 
O agora titular da baliza da Seleção e do Sporting chega esta sexta-feira às três centenas de jogos com a camisola leonina. Um marco histórico, e que merece ser lembrado.
 
Ora por isso cruzámos a história de Rui Patrício com a história do Maisfutebol: afinal de contas caminhámos lado a lado.
 
Convém nesta altura regressar então ao início e recordar como Rui Patrício entrou: mais ou menos como um penetra.
 
«Quis o destino que Rui Patrício saísse dos Barreiros como herói de um jogo dos mais complicados que o Sporting teve até ao momento. O jovem de 18 anos substituiu Ricardo na baliza e imitou-o na perfeição. Falhou saídas e defendeu uma grande penalidade. Haveria melhor conto para esta história madeirense?», escreveu o Maisfutebol.
 
É verdade, Rui Patrício defendeu um penálti na estreia. Aconteceu aos 74 minutos, quando Kanu correu para a bola, rematou... e viu Patrício voar para ela.


 
«Se fosse Ricardo a defender o penalty, o realce talvez já não fosse tanto. Mas Rui Patrício soube imitar o mestre na perfeição e saiu dos Barreiros como um herói...mesmo depois daquilo que ficou para trás. E, no final, é isso que conta.»
 
A estreia foi auspiciosa, mas mudou pouca na carreira de Rui Patrício: o guarda-redes que chegara a Alvalade com 12 anos, a troco de 1500 euros para o Marrazes, continuou a ser apenas um miúdo da formação. Treinava com os séniores e jogava pelos juniores.
 
Só um ano depois voltou a defender a baliza leonina.
 
Foi um ano incomum, no mínimo: Ricardo tinha saído para o Bétis, Stojkovic tinha sido contratado para ser titular mas acumulava erros e mais erros, até Tiago tinha sido recuperado mas não convencia. Por isso à 11ª jornada, em Matosinhos com o Leixões, Paulo Bento decide apostar no miúdo que fizera um grande Mundial sub-20 no Canadá.
 
Foi a 24 de novembro de 2007.
 
«Chegou a vez de Rui Patrício, numa campanha de substituição de Ricardo que continua a ser encarada com algumas desconfiança», relatou o Maisfutebol.
 
«O jovem internacional português acabou por ser infeliz na primeira intervenção de monta, saindo da baliza para socar uma bola no chão, entre um cacho de jogadores. Tabela em Pedro Cervantes, tabela em Abel, golo do Leixões. A noite estava estragada.»



 
O Sporting empatou 1-1, mas Paulo Bento é um homem de ideias fixas e manteve a aposta no miúdo que conhecia dos juniores. Seguiu-se um exame exigente, três dias depois: Old Trafford. O Sporting perdeu o jogo, mas ganhou um guarda-redes.
 
«Tem 19 anos, é? Em Old Trafford, Rui Patrício portou-se como gente grande. Autoritário, deu instruções aos companheiros e viu-se sempre sereno. A segurar a bola, a sair da baliza e a responder a cada remate quando o Manchester United acentuou a pressão», podia ler-se no Maisfutebol.
 
«Sofreu um golo que resultou de uma enorme confusão na área, outro num livre com assinatura de Ronaldo, feitas as contas o saldo é positivo. Esta noite, em Old Trafford, o Sporting ganhou um guarda-redes.»
 
Os elogios chegaram até do adversário: de Cristiano Ronaldo, por exemplo.
 
«Lembro-me que quando estava no Sporting era um miúdo como eu. Agora já está grande e a jogar como titular. Tem muita qualidade, vai dar muito nas vistas.»
 
Ronaldo não se enganava: a partir daí Patrício foi sempre titular. Defendeu a baliza em todos os jogos da Liga, da Liga Europa e até ganhou o primeiro título. A Taça de Portugal.
 
Pelo meio recebeu uma notícia que altura caiu como uma bomba: tinha sido convocado para o Euro 2008. Mesmo sem nunca ter jogado (tinha estado apenas no banco no amigável com a Geórgia), o jovem guarda-redes foi chamado por Scolari.
 
«É sinal que os treinadores me conhecem, sabem o meu valor, apesar de algumas pessoas lançarem algumas críticas. Custa um bocado ouvir isso, ao princípio.»


 
No Europeu não jogou, a primeira internacionalização chegaria no fim da época seguinte, num amigável com a Roménia a 1 de abril: entrou a cinco minutos do fim na vitória por 2-0.
 
Não foi aliás chamado para o Mundial 2010, mas no Sporting era titular absoluto: no Sporting e na seleção sub-21. Em dois anos soma 70 jogos, todos como titular.
 
Pelo meio ainda viveu aquele que será provavelmente o pior jogo da carreira: a segunda mão da eliminatória com o Bayern Munique. Sofreu sete golos, na pior derrota de sempre (1-7)  do Sporting na Europa.
 
«Despedida muito triste dos leões. Anderson Polga e Rui Patrício nem deviam ter saído de casa, tamanha foi a troca de equívocos.»
 
Rui Patrício, pelo menos, manteve a capacidade de memória.
 
«Não é fácil sofrer sete golos, mas é assim o futebol, só temos de levantar a cabeça. Já tinha sofrido sete golos, mas nas camadas jovens, há muitos anos»
, garantia.


 
Ora como sofrer sete golos não era nada de novo, Rui Patrício manteve-se seguro na baliza leonina. Paulo Bento é que nem tanto: caiu pouco depois. Seguiram-se Carvalhal, Paulo Sérgio e José Couceiro. Mais Domingos, Sá Pinto, Vercauteren e Jesualdo Ferreira.
 
O Sporting, depois de Paulo Bento, entrou numa espiral de turbulência e maus resultados. Os adversários convenceram-se que era possível ganhar e só tinham um obstáculo a separá-los desse objetivo: Rui Patrício.
 
Nessa altura o guarda-redes tornou-se São Patrício.
 
«O Sporting é uma equipa, nos bons e sobretudo nos momentos delicados. Uma equipa assim merece ter um guarda-redes de qualidade superior como é hoje em dia Rui Patrício, o homem que, se tudo decorrer bem, defenderá a baliza de Portugal nesta década», escrevia Luís Sobral em 2012.
 
Pelo meio chegou Paulo Bento à seleção nacional e Rui Patrício tornou-se dono da baliza. A primeira vez que foi titular foi num amigável com a Espanha, em novembro de 2010, numa vitória por 4-0 com sabor a vingança. A partir de 2011 foi sempre titular.
 
Paulo Bento era mais uma vez fundamental na carreira de Rui Patrício.


 
Ora no meio desta história Rui Patrício já tinha atingido o jogo 100 e o jogo 200 com a camisola leonina: o primeiro a 16 de janeiro de 2010, em Alvalade, com o Nacional, e o segundo no terreno do Manchester City, a 15 de março de 2012 para a Liga Europa.
 
« Cumpriu cem jogos pelo Sporting. Sofreu um golo sem hipótese, viu passar ao lado um remate de Ruben Micael, ainda na primeira parte, e tirou bilhete de plateia para quase toda a segunda metade. Teve de correr ao relvado, no entanto, para evitar um desgosto leonino. Sofreu o segundo golo, mas evitou o terceiro com uma grande defesa a garantir três pontos», escreveu o Maisfutebol sobre o primeiro.
 
«Mas para ser épico, mesmo épico, Joe Hart subiu à área do Sporting, cabeceou e Rui Patrício, num duelo improvável de guarda-redes, defendeu com a mão direita. Pode não ser a mão de Deus de Maradona, mas vai fazer com que os sportinguistas saiam à rua com orgulho numa equipa que nunca se entregou e na qual, provavelmente, só eles acreditavam. Foi uma derrota maravilhosa, não foi?»
, escreveu outra vez o  Maisfutebol sobre o segundo.
 
Foi sim senhor.
 
Como foram maravilhosas tantas noites de Rui Patrício. A última das quais, por exemplo, na receção ao Chelsea, que obrigou Mourinho a dirigir-se a ele para cumprimentá-lo no fim de tudo.


 
«O que fui dizer a Rui Patrício no final do jogo? Bem, o vocabulário não posso repetir porque sairia com alguns pis. Mas de uma forma sarcástica, e basicamente, disse-lhe que me queria estragar a noite. Estragar... a noite», disse o treinador português.
 
Rui Patrício tem esse hábito, de estragar coisas: esta sexta-feira vai rebentar por exemplo com uma sequência de 300 jogos com a camisola leonina.
 
Em breve pode romper no top 10 de jogadores do Sporting com mais jogos: vai ficar a 39 encontros de Vasques, 42 de Polga e de Pedro Barbosa. Aos 26 anos, quem se atreve a garantir que até o recorde de 471 jogos com a camisola leonina de Hilário está seguro?
 
Afinal de contas, e tal como na festa da música tupiniquim, de Gabriel o Pensador: ainda há muito para chegar e não se sabe quando vai acabar.
 
Na história de Rui Patrício e na do Maisfutebol.
Continue a ler esta notícia

Relacionados

EM DESTAQUE