«Marquei na Luz e já sabia que ia para o Benfica, não foi fácil» - TVI

«Marquei na Luz e já sabia que ia para o Benfica, não foi fácil»

Jorge Soares

«A História de Um Jogo» arranca com as memórias de Jorge Soares sobre um Benfica-Farense muito especial. Em 1996, o antigo defesa central fez o golo solitário na única vitória dos algarvios em casa das águias

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A História de Um Jogo é uma rubrica semanal do Maisfutebol. Escolhemos um dos encontros da Liga portuguesa e partimos em busca de histórias e heróis de campeonatos passados. Todas as quinta-feiras.

Benfica-Sp. Farense. 18 anos e alguns meses depois, aí está. A jornada 3 da Liga 2020/21 assinala o reencontro entre águias e leões de Faro no escalão maior. O registo histórico do duelo é importante e diz-nos que esta será a 24ª visita dos algarvios à casa benfiquista para a primeira divisão. O saldo não lhes é propriamente simpático.

Nos 23 duelos anteriores, o Benfica venceu 20 vezes e cedeu dois empates. Vitórias do Farense? Só uma. No dia 21 de abril de 1996, com as bancadas da Luz quase vazias, Paco Fortes libertou os seus felinos para um triunfo por 1-0. O golo solitário foi marcado por Jorge Soares, que três meses antes assinara contrato com o… Benfica.

Jorge Soares tem 48 anos e é o co-responsável há 13 por uma escola de futebol em Loulé. Jorge trabalha diretamente com Portela, um antigo lateral do Farense e do Sporting. A escola tem a tutela do Benfica, mas compete nos escalões distritais da AF Algarve sob uma designação sui generis: Geração de Génios.

Jorge Soares com Nuno Gomes num treino do Benfica

«Cheguei ao fim e pensei: ‘eh pá, marquei ao meu futuro clube’»

O antigo internacional sub21 – sete internacionalizações e presença no Torneio de Toulon em 1992 – é o primeiro convidado da rubrica A História de Um Jogo e recua 24 anos para falar sobre a vitória única do Farense no estádio do Benfica.

«São boas memórias. Fiz o golo que deu ao Farense a única vitória na Luz e, acima disso, deu-nos três pontos fundamentais para a manutenção», lembra Jorge Soares. Assim é. O Farense chega à Luz, para jogar a 31ª jornada, um ponto acima da linha de água. Atrás só tem Tirsense, Desportivo de Chaves e Campomaiorense.

O Benfica não está muito melhor. Segue a 13 pontos do líder FC Porto e, com a derrota, confirma o adeus à luta pelo título. O Farense acaba por se salvar e fica no décimo lugar, a três pontos de distância da zona de despromoção.

«Apesar dos resultados maus, o Farense até fazia exibições engraçadas em casa do Benfica. Chegámos a empatar duas vezes e perdemos outras vezes pela margem mínima. Tínhamos boas equipas. O Paco Fortes era o nosso treinador e uma figura incrível, foi ele que me lançou na I Liga.»

O mais curioso no meio disto tudo, insistimos, é que três meses antes de marcar ao Benfica, Jorge Soares assinara um contrato de longa duração com o clube.

«Já tinha assinado pelo Benfica em janeiro. Marquei na Luz e já sabia que ia para lá. Não foi fácil, mas na altura só quis festejar o golo. Estávamos a precisar de pontos, mas depois do jogo claro que pensei ‘eh pá, marquei ao meu futuro clube’. Enfim, eu era um bom profissional e teve de ser assim.»

O golo aparece já muito perto do fim. Pontapé de canto batido por Hajry na direita e cabeceamento de Jorge Soares ao primeiro poste, com a bola a passar pelo meio das pernas de Michel PreudHomme. «Fiz alguns golos assim ao longo da carreira, mas claro que esse foi marcante, pelos motivos que já indiquei.»

No Benfica, Jorge Soares fica de 1996 a 1998. Na primeira temporada ainda faz 28 jogos, e dois golos, mas na segunda desaparece das opções. Jorge tem uma boa explicação para isso.

«Até comecei a titular na segunda época, com o mister Manuel José. Infelizmente, sofri uma rotura de ligamentos no joelho e parei muitos meses. O Benfica, entretanto, mudou de treinador e o senhor Graeme Souness tinha outras ideias, não contava comigo.»

Adivinham em que jogo Jorge Soares se lesiona? Pois é, este é um mundo pequeno e estranho: Benfica-Farense, a 19 de outubro de 1997. E agora, Jorge, o que conseguirá fazer este Farense na Luz?

«O Benfica é sempre favorito, principalmente a jogar em casa. Em condições normais, o Benfica irá ganhar. O Farense vai espreitar um deslize e tentar fazer golos, é o normal. Ver o Farense na I Liga é uma alegria. Cheguei ao clube nos juvenis e fiz depois muitos anos no escalão maior, antes de sair para o Benfica. Nunca devia ter saído da primeira divisão.»

A HISTÓRIA DE UM JOGO

21 de abril de 1996
Estádio da Luz, 5000 espetadores
Árbitro: José Pratas

BENFICA: PreudHomme; Marinho (Calado, 69), Hélder, Paredão e Dimas; Iliev, Bruno Caires e Kenedy (Hassan, 45); Valdo; João Vieira Pinto e Mauro Airez.

Suplentes não utilizados; Brassard (GR), Luiz Gustavo e Paulão
Treinador: Mário Wilson

FARENSE: Peter Rufai; Luís Miguel, Jorge Soares, Idalécio e Eugénio; Paiva, Barrigana e Punisic (Carlos Costa, 70); Helcinho (Marco Nuno, 77), Hajry e Cacioli.

Suplentes não utilizados: Candeias (GR), Camilo e Christian
Treinador: Paco Fortes

VÍDEO: o resumo da única vitória do Farense na Luz (imagens RTP)

MAIOR VITÓRIA DO BENFICA: 6-0, 1984/1985
. Golos de Nené, Manniche, Pietra, Diamantino, Nunes e Jorge Silva

MAIOR VITÓRIA DO FARENSE: 0-1, 1995/1996
. Golo de Jorge Soares

SALDO DE RESULTADOS: 23 jogos
. 20 vitórias para o Benfica, 2 empates e 1 vitória para o Farense

PRIMEIRO JOGO: 21 de março de 1971, 5-0
. Golos de Eusébio (2), Artur Jorge, Diamantino Costa e Humberto Coelho

ÚLTIMO JOGO: 18 de março de 2002, 5-0
. Golos de Simão Sabrosa (2), Tiago, Drulovic e Miguel

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