Passou a falar inglês de manhã e alemão à tarde, após acidente de bicicleta - TVI

Passou a falar inglês de manhã e alemão à tarde, após acidente de bicicleta

  • MC
  • 18 out 2018, 12:50
Bicicletas no Instagram

Hannah Jenkins teve um acidente de bicicleta que a deixou sem sentidos. Quando acordou, apercebeu-se de que não reconhecia a língua que falava no dia-a-dia, o inglês. Só quando falou com a irmã na língua materna, o alemão, soube que algo não estava bem

Durante um passeio de bicicleta, Hannah Jenkins circulava num parque, quando virou uma esquina e bateu com um ciclista que vinha a 32 km/hora. Caiu da bicicleta e perdeu os sentidos, após bater com a cabeça no chão. 

Hannah foi identificada através dos documentos que tinha na carteira, quando chegou ao Royal Bershire Hospital. Quando acordou, não sabia onde estava nem o que tinha acontecido. Para piorar, não percebia nada do que os médicos lhe diziam.

Eu não conseguia entender nada. Senti como se tivesse acordado num país estrangeiro”, lembra Hannah.

A língua com a qual os médicos se dirigiam a Hannah parecia-lhe ser desconhecida e eles não conseguiam compreender por que é que ela não entendia inglês. Isto porque os documentos de Hannah mostravam que ela trabalhava e vivia no Reino Unido.

A explicação médica

Os médicos ligaram para a família de Hannah e quando Margaret, a irmã da jovem falou com ela, Hannah conseguia percebê-la, porque falaram em alemão, língua materna de ambas.  

Aparentemente, o acidente retirou o inglês do cérebro de Hannah e apenas manteve o alemão que ela aprendeu em criança.

Hannah e Margaret foram criadas no Reino Unido e aprenderam a falar alemão e inglês porque os pais tinham ambas as nacionalidades e eram poliglotas. A mãe falava quatro línguas e o pai falava sete.

O alemão foi a primeira língua que aprendi. Era uma regra que tínhamos em casa: quando estávamos em família, usávamos o alemão para manter a língua viva nas nossas cabeças.”

Segundo o neurocirurgião, Colin Shieff, Hannah estava a passar por uma perda de linguagem secundária.

O cérebro é muito sensível e qualquer coisa que tenha a capacidade de perturbar as suas funções pode afetar as ações dele”, diz o neurocirurgião, citado pela BBC.

De acordo com o médico, várias partes do cérebro estão relacionadas com a fala e a linguagem. Assim, qualquer tipo de lesão nessas zonas pode afetar a fluência da fala e o vocabulário que já tinha sido adquirido. Existem casos em que uma pessoa que sofra essas lesões e que seja fluente em dois ou mais idiomas pode perdê-los e reter apenas um deles, aquele que tenha sido aprendido há mais tempo.

A linguagem do amor falou mais alto

Apesar da lesão cerebral de Hannah, a jovem teve alta do hospital em poucos dias porque apenas tinha uma perna e um ombro magoados.

Quando Hannah foi para casa, tinha o namorado, Andrew, à sua espera. Como não conseguia perceber o que o namorado lhe dizia em inglês a jovem percebeu que a lesão cerebral que tinha era significativa e que iria levar algum tempo a recuperar totalmente.

Foi através da irmã Margaret, que foi tradutora de alemão para inglês, que Hannah conseguiu falar com Andrew e voltar ao seu dia-a-dia. Hannah e Andrew passaram a falar por escrito para se conseguirem entender quando Margaret não estava presente. Com o passar do tempo, o inglês escrito de Hannah melhorou mais rápido do que o oral.

Quando não conseguíamos comunicar recorríamos à escrita, seja por mensagens de texto ou e-mails. Mesmo se estivéssemos na mesma sala", lembra a jovem.

 

É difícil ter paciência, mas eu não conseguia ter chegado até aqui sem ele.”

Como o amor ultrapassa barreiras, Andrew deixou mesmo de trabalhar durante 18 meses, para se dedicar à recuperação da namorada. Pouco a pouco, Hannah conseguiu recuperar o inglês falado, mas ainda não totalmente. Hannah já conseguia falar inglês, mas com o cansaço o cérebro começava a pensar em alemão. O que era a sua primeira língua tornou-se a segunda.

De manhã estou bem, mas à tarde o cansaço é muito e passo a pensar e a falar em alemão”, diz a jovem.

 

Tento desligar essa parte do cérebro, que lida com a comunicação, para, à noite, quando o meu namorado volta, eu conseguir falar com ele em inglês.”

O casal teve ainda de aceitar que a personalidade de Hannah poderia mudar. A jovem reconhece algumas mudanças na sua personalidade porque diz que não é tão paciente como era antes.

O acidente naquela tarde de outubro de 2015 alterou a vida, a comunicação e a personalidade de Hannah, mas a jovem conseguiu aprender a viver com essas circunstâncias.

Mentalmente, tenho que reconhecer que esta sou eu agora. Estou feliz comigo mesma novamente”, afirmou Hannah.

Continue a ler esta notícia