Jason Padgett, habituado à vida noturna de bares, namoradas e saídas, sofreu um golpe na cabeça, durante um assalto numa dessas noites, que lhe mudou por completo a vida. Tornou-se, nesse momento, um génio dos números e da geometria.
O norte-americano foi atacado na noite de 13 de setembro de 2002, mas o que podia configurar um momento de pouca sorte de uma sexta-feira 13 tornou-se, segundo o próprio, uma experiência mágica.
Eu levava uma vida muito superficial. Só me interessavam as raparigas, as festas e o álcool", contou à BBC, no programa "Sentidos extraordinários".
Mas naquela noite tudo mudou e hoje, apesar dos problemas e dos anos de dor, Jason está feliz.
Passaria pelo mesmo novamente para poder alcançar este despertar matemático. É mágico", afirmou o homem.
O que aconteceu
Jason, naquela altura um típico jovem do Alasca, gostava muito de sair e divertir-se, mesmo durante a semana, com a obrigação de acordar cedo para trabalhar no dia seguinte.
A minha vida consistia em sair para bares, beber e ir trabalhar no dia seguinte com ressaca. Eu fazia isso de seis a sete noites por semana", contou, considerando-se "aquele estereótipo do idiota que se vê a entrar num bar", descreveu, rindo-se.
Uma noite, já em Washington – para onde se tinha mudado há pouco tempo –, depois de umas horas num bar com amigos, sentiu um golpe na cabeça, que o deixou caído no chão, no meio da rua.
Vi uma luz branca, como se alguém me tivesse tirado uma fotografia", lembrou o homem.
O objetivo dos agressores era, conta, roubarem-lhe o casaco. Quando o conseguiram, fugiram, e Jason foi até um hospital perto do local do incidente.
Na recuperação, foi diagnosticado um transtorno obsessivo-compulsivo como consequência do golpe na cabeça. A falta de ajuda naquele momento e o medo que sentiu criaram em Jason o medo de sair de casa e de estar com outras pessoas.
Eu tinha um medo irracional de germes, lavava as minhas mãos centenas de vezes por dia", afirmou o norte-americano que, na altura, passou a viver trancado em casa, obcecado por limpezas.
"Era lindo, mas ao mesmo tempo assustador"
Além do transtorno que desenvolveu, houve um fenómeno que mudou a forma de Jason ver o que o rodeia.
Tudo parecia ligeiramente pixelizado, as nuvens, o sol... Observava a água descer pelo ralo e via tangentes, com linhas como ondas, que se cruzavam", começou o homem por explicar. "Era lindo, mas ao mesmo tempo assustador".
Pesquisou na Internet e encontrou a explicação para a geometria fractal, uma abordagem matemática que explora o mundo dos fractais, elementos descritos como blocos que constroem tudo o que existe no universo. Trata-se de figuras que se repetem, para formar outras maiores.
É como num ecrã: os pequenos quadradinhos de cor formam quadrados maiores, e é assim que o todo é formado", comparou Jason.
Desta forma, percebeu que tudo o que via "podia ser separado em pedaços menores, mas idênticos".
A procura por mais explicações levou este génio da matemática a procurar ajuda psicológica e a matricular-se num curso de matemática numa universidade norte-americana.
Além disso, decidiu procurar um especialista para saber se tinha a síndrome do sábio, facto que veio a comprovar-se com exames médicos.
Exames esses que mostraram, também, um diagnóstico de sinestesia, um distúrbio que faz com que os sentidos se troquem no cérebro, razão pela qual Jason conseguia “ver” a matemática.
A minha vida melhorou drasticamente", confessou.