Viaja pelo mundo para colecionar cheiros, por vezes os mais inusitados. Sissel Tolaas já acumulou cerca de 7.000 amostras de odores e utiliza-as tanto na criação de objetos artísticos como na de produtos mais comerciais. Esta especialista em cheiros, da Noruega, até já fez sabonetes com os cheiros de ex-namorados.
O que eu faço é literalmente cheirar a realidade”, explicou Sissel Tolaas à BBC.
Formada em química, linguística e artes visuais, esta especialista norueguesa de 57 anos tem um laboratório de investigação em Berlim, na Alemanha, onde desenvolve os mais diversos projetos relacionados com cheiros, trabalhando de perto com universidades, museus e grandes empresas.
Começou nesta aventura nos anos 90, quando esta era ainda uma área pouco trabalhada.
Quando eu comecei, no início dos anos 90, ninguém fazia nada com cheiros”, contou numa entrevista ao Financial Times.
Foi nessa altura que, numa viagem à Polónia, saiu de uma estação de comboios em Varsóvia e capturou de imediato o cheiro a lignite (carvão). Acabou por viajar por todo o Leste Europeu e recolheu uma panóplia de cheiros, incluindo os mais inesperados e os menos agradáveis, como o do lixo.
Viaja sempre munida de vários materiais: luvas, sacos de plástico e todos os tipos de dispositivos analógicos.
Desde que ingressou nesta atividade, já desenvolveu dos mais diversos projetos em cidades de todo o mundo, como Paris, Londres, Nova Iorque, Estocolmo, Istambul, Xangai, Singapura e Tóquio.
Um destes trabalhos foi recriar o cheiro da Primeira Guerra Mundial para uma exposição em Dresden, na Alemanha. Diz que foi o odor mais repugnante que já criou em toda sua vida.
Baseei-me em livros de História e relatos de militares que tiveram alguma experiência em guerra. Criei o cheiro mais repulsivo que consegui imaginar para representar o campo de batalha", descreveu à BBC.
Outro projeto em que esteve envolvida foi a produção de queijo a partir de bactérias recolhidas da chuteira do ex-jogador de futebol David Beckham. O trabalho, realizado em parceria com a Universidade de Harvard, tinha como objetivo mostrar a importância das bactérias presentes na nossa flora. O queijo foi servido nos Jogos Olímpicos de Londres de 2012.
Mas as suas experiências abrangem também os odores corporais. Tolaas tem dispositivos que lhe permitem recolher as moléculas emitidas pelas fontes dos cheiros.
Vocês têm um smartphone e tiram fotos, eu tenho um dispositivo semelhante que tira fotos da realidade invisível.”
A especialista revelou que recolheu amostras dos cheiros de todos os ex-namorados e que até fez sabonetes com alguns deles.
Mais, Tolaas confidenciou ainda que também utiliza os cheiros para fugir de festas e eventos sociais.
Quando vou a uma festa e não quero falar sobre o tempo mais uma vez, coloco um cheiro que permite que isso aconteça. As pessoas ficam à procura da fonte do cheiro, não fazendo ideia de que sou eu."