Bas Dost: «Fiquei no chão a levar pontapés de dois homens» - TVI

Bas Dost: «Fiquei no chão a levar pontapés de dois homens»

O relato impressionante do avançado holandês sobre o ataque à Academia de Alcochete

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Bas Dost contou esta quarta-feira os momentos de terror que viveu no dia do ataque à Academia de Alcochete em que, além da agressão na cabeça, foi pontapeado até perder a consciência. O avançado holandês dá conta depois do «medo» que o perseguiu nos dias seguintes, que o levaram, inclusive, a procurar um terapeuta, primeiro em Lisboa, depois na Áustria.

O avançado holandês falou em inglês, via Skype, e começou por contar que «estava no ginásio a fazer exercícios quando tudo começou. «Começámos a ver muita gente. A maior parte dos jogadores foi para os balneários, mas eu fiquei no corredor. A minha primeira reação, quando ainda estava no ginásio, foi perguntar porque estavam ali e o que queriam, uma vez que já era jogador do Sporting há algum tempo», começa por referir.

Bas Dost ficou, assim, à porta do balneário e terá sido o primeiro a ser confrontado pelos adeptos. «O Vasco Fernandes mandou-nos de volta para os balneários, eu não estava a perceber porquê, decidi ficar no corredor, ao contrário da equipa. No momento em que a porta abriu, vi um homem grande com máscara a entrar. Fez um sinal de polegar para cima, sinal ok, pensei que queriam falar, que estava tudo ok», prosseguiu.

Num primeiro instante, Bas Dost achou que os adeptos queriam apenas conversar. «Tive o impulso de falar com aqueles homens porque senti que era um dos líderes da equipa e na Holanda há o hábito de falar com as pessoas. Sabia que tínhamos perdido o jogo contra o Marítimo e que tínhamos perdido o acesso à Liga dos Campeões, pensei que eles estavam zangados e iriamos conversar», destacou.

Depois tudo se precipitou. «Entraram todos e começaram a bater à porta e eu fiquei sozinho com eles ali. Comecei a ficar com medo e o sexto homem virou-se para mim e deu-me com um objecto na cabeça. Não vi o que tinha na mão. Caí no chão. Depois começou a dar-me pontapés. Disse a outro para também me dar pontapés. E eu fiquei no chão a levar pontapés de dois homens», conta.

No meio dos pontapés, o jogador perdeu a consciência. «Depois só me lembro do João Rolão Duarte me ajudar. Tinha muito sangue na cabeça. Estava com imenso medo, nem queria que o Rolão Duarte fosse ajudar os outros. Trataram o meu ferimento da cabeça. Tudo aconteceu muito depressa e os meus colegas entraram na sala onde eu estava. Perguntei se os homens já tinham ido embora. Fiz tudo para eles não entrarem, mas não sei como entraram no corredor. A porta do balneário estava fechada mas pode ser aberta facilmente», contou.

Bas Dost não consegue identificar nenhum dos agressores, aliás, de todos os arguidos diz que só conhece Bruno de Carvalho. «Não sei quem me acertou na cabeça. Sé me lembro que estavam todos vestidos de preto. Gritavam e havia muito barulho no balneário. Não ouvi ameaças, apenas insultos», acrescentou.

Do incidente, sobre ainda a cicatriz na cabeça e a memória dos dias seguintes. «Depois deste episódio, os dias seguintes foram terríveis. Mesmo passados alguns meses, continuava com medo, tinha receio de falar com as pessoas, não queria andar sozinho, nem no supermercado. Tive segurança à porta da minha casa durante semanas. Só deixei de ter porque a minha mulher pediu para tirar os seguranças», relata.

«Perguntei a Bruno de Carvalho, como é que isto é possível?»

Um episódio que deixou marcas, para além das físicas, no jogador. «Estar aqui a falar sobre esse episódio não é agradável, atualmente já não sinto medo como no início, mas ajudou falar com especialistas em trauma. Fui acompanhado por um terapeuta em Lisboa, logo após o ataque. Sugeriu que saísse do país e fui logo de férias. Foi horrível, pois não sabia o meu futuro. A minha mulher estava grávida, queria ter o bebé em Lisboa e decidi que ia para a Áustria três semanas. Fui sozinho e estive lá acompanhado por outro terapeuta», conta.

Bas Dost conta ainda como foi a reação de Bruno de Carvalho depois do incidente. Segundo o avançado, o então presidente do Sporting chegou à academia uma hora depois das agressões. «Viu-o entrar e eu estava furioso pelo que tinha acontecido. Perguntei-lhe em tom zangado: como é que isto é possível? Ele disse que não sabia e eu gritei como é possível? E fui embora».

O avançado holandês, como se sabe, acabou por rescindir com o Sporting, mas depois acabou por voltar, já sob a presidência de Sousa Cintra. «Foi difícil regressar. Falei com o Sousa Cintra que me garantiu que ia correr melhor e fizeram-me sentir mais confinante. Por isso decidi regressar. Quando perdíamos não me sentia bem, mas o presidente Varandas prometeu que nada ia acontecer. Mesmo quando ganhámos as taças, a celebração não foi de felicidade», contou ainda.

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