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Só Ronaldo e Messi bateram a «lenda» luso-brasileira de Ponferrada

Yuri de Sousa chegou a Portugal com cinco anos, inserido numa família de jogadores. Fez a formação no Maia, jogou no Boavista, Gil Vicente e Estoril, mas foi em Espanha que brilhou, com quase 200 golos marcados

Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do Mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências. Sugestões e/ou opiniões para djmarques@tvi.pt ou rgouveia@tvi.pt

«El Mago», «El Capitán», «o Fenómeno». Há um luso-brasileiro goleador que é um verdadeiro «matador» pouco conhecido dos portugueses. Chegou a Portugal com apenas cinco anos, quando o pai, Alex, veio jogar para o Gil Vicente. Fez a formação no Maia, depois jogou no Boavista, Gil Vicente e Estoril-Praia antes de emigrar para Espanha onde anda a marcar golos, entre o segundo e o terceiro escalão, desde 2005. Aos 39 anos está muito perto de chegar à marca redonda dos 200 golos em Espanha, números apenas ultrapassados por Cristiano Ronaldo e Lionel Messi entre os máximos goleadores das três ligas espanholas.

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Falamos de Yuri de Souza que, já perto dos quarenta anos, é uma verdadeira lenda do Ponferradina, clube do segundo escalão, da província de León, que representou ao longo de quinze temporadas, com uma experiência na China pelo meio. Chegou a jogar na Liga Europa com o Boavista de Jaime Pacheco, jogou no Gil Vicente, onde também tinha jogado o pai, e no Estoril, antes de dar o salto para Espanha, para o Pontevedra, onde formou um trio de ataque demolidor com o irmão Igor e com o primo Charles. Mas foi em Ponferrada que adquiriu definitivamente o estatuto de «lenda» em Espanha.

Nasceste em Maceió, a 8 de agosto de 1982, mas vieste cedo para Portugal, quantos anos tinhas?

- Tinha cinco anos.

E vieste porque o teu pai, Alex, veio jogar para Portugal?

- Sim, ele veio jogar para o Gil Vicente. O meu pai também jogava futebol. Jogou no Regatas, no Náutico, no Vitória e veio para Portugal. Primeiro jogou no Bragança, depois no Gil Vicente, no Desp. Aves, no Marialvas. Por coincidência ou não acabei por jogar no mesmo clube que ele, no Gil Vicente.

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Ainda te lembras de ver o teu pai jogar?

- Era muito pequeno, tenho poucas memórias.

Mas os Souza são uma família de jogadores, o teu tio, irmão do teu pai, também jogou em Portugal…

- É isso, é uma família de jogadores. Além do meu pai e do meu tio, eu, o meu irmão e o meu primo também chegámos a jogar juntos, aqui em Espanha, no Pontevedra. Somos uma família de futebol.

Quando a família se junta, quase que dá para formar um plantel…

- [risos] É um plantel mesmo, só falamos de futebol.

O teu pai Alex de Souza [jogou no CRB, CSA, náutico, ABC, Ferroviário, Bragança. Gil Vicente, Desp. Aves, Marialvas e Anadia], jogava em que posição?

- Era trinco.

O teu tio Raimundo do Carmo de Oliveira Barbosa [jogou no Paysandu, Santos, Remo, Paços de Ferreira e Maia], que ficou conhecido no Paços de Ferreira como Careca?

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- Jogava de extremo e também como segundo avançado, um número dez.

E o teu irmão Igor [jogou no Sp. Braga, V. Setúbal, Estrela, Pontevedra, Ipatinga, Girona, Levante, Tenerife, Salamanca, Panathinaikos…], ainda joga no Maia Lidador, aos 41 anos?

- O meu irmão venceu a Taça de Portugal com o V. Setúbal, ganharam ao Benfica em 2005. É avançado, ainda joga no Maia Lidador.

Já agora, o teu primo Charles [jogou no Feirense, Pontevedra, Córdoba, Almeira, Celta, Málaga, Eibar], que ainda joga no Pontevedra?

- Também é avançado. Em Portugal acho que só jogou no Feirense, depois foi cedo para Espanha.

E há mais algum jogador na família? A próxima geração também vai dar jogadores?

- Por enquanto ainda não, vamos ver se os filhos também vão dar jogadores. Primeiro têm de estudar, que é o mais importante, mas os meus três filhos gostam todos muito de futebol. Jogam os três e o mais velho, que já tem treze anos, já vai bem adiantado, mas todos os três têm dotes para serem jogadores.

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O Yuri também começou cedo…

- Comecei nos Marialvas, tinha seis ou sete anos.

Mas foi no Maia que fizeste a formação...

- Sim, depois mudámo-nos para a cidade da Maia e foi onde fizemos o início da carreira. Assinei o meu primeiro contrato profissional aos 16 anos no Maia.

Depois jogaste no Boavista, Gil Vicente e Estoril, como surgiu a oportunidade de ires para Espanha?

- Joguei nesses três depois e, quando estava no Estoril, o meu empresário disse que tinha uma proposta boa para ir para Espanha e por, por coincidência, era o mesmo clube onde estava o meu primo Charles. Foi importante ele estar ali, disse-me que o clube era bom, a cidade era muito boa. Bateu tudo certo.

O Pontevedra, para onde também foi o teu irmão. Três Souzas no ataque?

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- O meu irmão chegou na janela de inverno, em dezembro ou janeiro. Fizemos os três um grande campeonato, marcámos muitos golos. Nesse ano fomos o segundo melhor ataque de Espanha, ficámos apenas atrás do Barcelona do Giuly, Etoo e Ronaldinho.

Marcaste 23 golos na primeira época em Espanha, em 2005, depois nunca mais paraste de marcar…

- É, sempre a marcar, graças a Deus. Ponferrada já é a minha casa, são muitos anos aqui.

Já vais na 15.ª temporada no Ponferradina, onde já és uma lenda, é assim que te sentes?

- É verdade, estou aqui há muitos anos, sempre fui muito bem tratado. Tenho um carinho enorme, tanto pela cidade como do clube.

Tens várias alcunhas no Ponferradina. «El capitán», «Mago de Maceió», «Fenómeno»…qual preferes?

- Na verdade gosto de todas, mas se tiver de escolher uma pode ser o Fenómeno porque o Ronaldo também era o meu ídolo.

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Estavas muito perto da barreira dos 200 golos em Espanha, como está essa contabilidade?

- Se não me engano, estou nos 178, ainda faltam alguns para chegar aos 200 na carreira.

Ainda assim, são números impressionantes, nas três primeiras ligas espanholas, ficas só atrás de Cristiano Ronaldo (337 golos em Espanha) e Messi (544)…

- Sim, estar ao lado de Cristiano Ronaldo e Messi é um orgulho. Estar nessa lista com esses dois é uma história que vou poder contar aos meus filhos com muito orgulho.

Pelo meio dessa maratona de golos no Ponferradina, tiveste uma curta passagem pela China, como correu?

- Joguei uma época no Qingdao Huanghai, foi uma experiência espetacular, não só a nível de clube, mas também a nível pessoal. Gostei muito.

Depois voltaste ao Ponferradina como um herói. Havia uma faixa no estádio que dizia «Muitos fazem parte da nossa história, poucos se convertem em lendas»…

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- Foi uma frase que me dedicaram, uma delas, em que tenho muito orgulho. Estava a voltar a casa, aqui sempre me trataram bem. Quando tive a oportunidade de voltar não pensei duas vezes.

Já subiste três vezes de divisão, em 2010, 2012 e 2019. O Ponferradina está no quarto lugar da II Divisão, é possível chegares à La Liga esta época?

- Seria o ponto mais alto da carreira, conseguir subir este ano. É muito difícil, porque é uma liga muito competitiva, com grandes clubes, mas é um sonho que tenho. Estes anos a equipa está a fazer um grande trabalho, estamos muito bem no campeonato [a cinco pontos do líder Eibar], quem sabe?

Em Ponferrada és mesmo visto como um ídolo, as pessoas reconhecem-te nas ruas?

- Sim, é uma cidade pequena e todos gostam muito de futebol. Vivem muito do futebol e na rua dão-me sempre apoio, carinho, pedem fotografias, o normal. Sempre que saio à rua recebo sempre muito carinho, vou estar sempre agradecido.

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Já este ano, o Ponferradina esteve à beira de fazer história na Taça do Rei, com um golo teu frente ao Espanhol…

- Tivemos muito perto de eliminar um clube de primeira, empatámos, mas depois fomos eliminados nos penáltis. Fizemos um grande jogo, numa grande competição. A Taça do Rei aqui é muito valorizada e fizemos um grande trabalho.

Tens 39 anos, renovaste contrato há seis meses, até quando tencionas jogar?

- Sinceramente, vou jogar até o corpo aguentar e enquanto tiver esta ilusão de poder treinar e de estar com os companheiros. Espero que ainda dure por muito tempo, mas claro que, com a idade que tenho, o fim está cada vez mais próximo.

O teu irmão Igor já tem 41 e continua a marcar golos no Maia Lidador…

- Sim, ele ainda joga, e eu também espero chegar, pelo menos, até aos 41 a jogar.

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Já és o jogador com mais golos da história do Ponferradina, mas este ano ainda podes passar a ser o jogador com mais jogos no clube (mais de 400). É uma meta que persegues?

- Estou muito perto, mas não é uma coisa que me preocupe. Vai acontecer naturalmente, claro que vou ficar contente e feliz, mas não é uma obsessão.

O Ponferradina comemora este ano cem anos…

- É o ano do centenário do clube, é um ano especial e, quem sabe, este ano conseguimos fazer algo nesse campeonato.

Há mais de trinta anos no futebol, quais os pontos mais altos da carreira?

- Em Portugal foi ter jogado no Boavista e poder jogar numa competição europeia, como a Liga Europa [o Boavista chegou à meia-final e foi afastado pelo Celtic, depois de ter deixado pelo caminho o Maccabi Tel Aviv, Anorthosis, PSG, Hertha Berlim e Málaga]. Aqui foi subir de divisão com o Ponferradina.

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Nasceste em Maceió, mas nunca jogaste no Brasil. Lamentas?

- Vim para Portugal com cinco anos, depois nunca mais voltei, sou vou lá de férias, ver a família. A minha família está toda em Maceió, os meus pais, os tios, os primos. Sempre que posso vou lá.

Nasceste no Brasil, começaste a jogar em Portugal, tens nacionalidade portuguesa, mas fizeste boa parte da carreira em Espanha. Sentes-te mais brasileiro, português ou espanhol?

- É uma mistura dos três. Tenho muito carinho pelos três países, sem dúvida, estão os três no meu coração. O Brasil por ser brasileiro. Portugal por ter sido o primeiro país que fui, vai ficar marcado para sempre, tenho nacionalidade portuguesa. A Espanha por estar aqui há tantos anos.

Para acabar, quando acabares a carreira, em qual dos três vais ficar a viver?

- Em princípio vou ficar aqui em Espanha, por ter os meus filhos aqui, pela carreira que já tenho aqui. Em princípio vou ficar a viver aqui.

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