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Abel Pimenta: de Ponte da Barca a Sevilha, com um desvio de rota pelas Américas

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Técnico português de 28 anos está hoje na equipa B sevilhista, depois um primeiro passo no FC Porto e diferentes funções do Celta ao Cerro Porteño. Um emigrante minhoto na capital andaluza à conversa com o Maisfutebol

Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do Mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências. Sugestões e/ou opiniões para djmarques@mediacapital.pt ou rgouveia@mediacapital.pt

Analista, coordenador de observação, diretor desportivo adjunto, treinador adjunto: aos 28 anos, Abel Pimenta já conhece o futebol nas mais diversas perspetivas.

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Em menos de uma década, passou pelos escalões de formação do FC Porto, pelas equipas principais de Celta de Vigo e Sevilha e até teve uma incursão no futebol sul-americano, antes de voltar à capital da Andaluzia, onde agora é o braço direito de Paco Gallardo no Sevilha Atlético, equipa B sevilhista, que milita na II Divisão B – terceiro escalão do futebol espanhol.

Abel recebe o Maisfutebol em Sevilha, na cidade onde vive desde 2017 – com um pequeno intervalo de seis meses para trabalhar no Cerro Porteño, do Paraguai – e diz sentir-se bem a viver do futebol como emigrante ao pé de casa.

«Deixei-me contagiar pelo ambiente da Andaluzia, em que as pessoas encaram o seu dia a dia com alegria. Aqui, sinto-me feliz. Embora o meu quotidiano seja entre o centro de estágios e casa, Sevilha é monumental: a Praça de Espanha, a Catedral… É uma cidade muito bonita, com muitos pontos de interesse cultural e fundamental na história de Espanha. As pessoas vivem tudo aqui mais intensamente e isso reflete-se no futebol, é um ambiente mais latino, quase sul-americano, e a enorme rivalidade entre os dois grandes clubes tem influência», afirma este português de Ponte da Barca, que foi futebolista federado no clube da sua terra, antes de seguir os estudos na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

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A influência de José Guilherme e Eduardo Berizzo

É aí, nos bancos da faculdade, que o seu percurso começa verdadeiramente. Mais precisamente no mestrado em treino de alto rendimento, com especialização em futebol.

«Eu era um aluno curioso e o Prof. José Guilherme, que foi das pessoas mais importantes no meu percurso académico e profissional, deu-me as ferramentas para crescer e concedeu-me a possibilidade de fazer um estágio nos sub-17 do FC Porto, como analista. Aí, começou a minha história. Encontrei na equipa técnica o António Folha e o Mário Silva, que já tinham uma experiência incrível no futebol, e estava numa estrutura que tinha a coordenação metodológica do Professor Vítor Frade. Aprendi muito», começa por referir o português, que após a experiência no FC Porto, foi analista do Desp. Aves, na II Liga, com o técnico Fernando Valente, com quem diz ter aprendido muito organização ofensiva, até que a demissão da equipa técnica em dezembro de 2014 o fez pensar na vida.

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É aí que entra o técnico argentino Eduardo Berizzo.

«Houve um colega meu de mestrado que é chileno e que arranjou o contacto dele. Escrevemos-lhe a pedir para ver os treinos do Celta e ele disse que sim. Ao fim de uma semana, pediu-nos para analisar a equipa do Villarreal, que era o próximo adversário. Fizemos um trabalho detalhado, ele gostou e a partir daí convidou-nos para continuar. Passado duas ou três semanas ficámos a trabalhar na estrutura do Celta. Foi sorte e oportunidade. Eles não tinham departamento de análise de jogo e nós fizemos um bom trabalho», recorda.

Abel deixou Ponte da Barca e foi viver para Vigo – e nessa altura o Celta chegou à meia-final da Liga Europa, onde perdeu com o Man. United de Mourinho, em 2016/17 –, até que Berizzo o convidou para um novo desafio, como analista da equipa principal, quando foi substituir Jorge Sampaoli no comando técnico do Sevilha [2017/18].

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«Berizzo abriu-me uma porta muito grande. Se hoje estou aqui, devo-lhe muito a ele. É um treinador de topo, que tem uma forte influência do Marcelo Bielsa, até porque foi adjunto dele na seleção chilena.»

Abel Pimenta acabou por ficar, quando Berizzo saiu do comando técnico do Sevilha, e viria a trabalhar em Sevilha com os técnicos Vincenzo Montella e com Joaquín Caparrós.

Até que em 2019, de novo por recomendação de Berizzo e da sua equipa técnica, lhe é colocado à frente um desvio curioso na rota: de Sevilha para Assunção, capital do Paraguai.

«Era um desafio diretor desportivo adjunto e responsável pelo departamento de análise num clube histórico na América do Sul, com a possibilidade de competir na Taça Libertadores. Foi um cargo importante, que me fez crescer e conhecer o lado político do futebol: da relação com os dirigentes a como contratar um jogador. Trabalhei, por exemplo, com o Miguel Ángel Russo, atual treinador do Boca Juniors [que já venceu a Libertadores]», sublinha o minhoto, destacando as diferenças que encontrou no futebol sul-americano:

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«É um jogo mais caótico, mais aleatório, menos organizado. O jogador não está tão condicionado pelas ideias do treinador ou do coletivo. Ele joga como é.»

Para lá desse aspeto, Abel destaca também a rivalidade na capital paraguaia, semelhante à que havia encontrado em Sevilha: «Assunção é Cerro Porteño e Olimpia. São rivais que competem pelo título e estão na Libertadores. É uma cidade dividida também, em que as pessoas organizam a semana em função de poderem ir ver o jogo e de acompanharem a equipa, em que usam no dia a dia a camisola do clube e têm orgulho nisso. Há uma paixão muito grande.»

Porque não uma volta ao mundo, como Fernão Magalhães?

Abel gosta de perceber as decisões no gabinete e de observar da bancada, porém, se lhe derem a escolher, prefere estar o mais perto possível do terreno de jogo. E foi isso que o fez regressar de uma experiência de seis meses no Cerro Porteño para a equipa técnica do Sevilha B.

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Voltou a convite de Paco Gallardo e de Carlos Marchena, ex-jogador do Benfica (2000/01), que pela seleção de Espanha se sagrou campeão da Europa (2008) e do mundo (2010).

Desde o início desta época, o antigo internacional espanhol é no Sevilha coordenador dos sub-19 e das equipas C e B com a equipa principal.

«Eles podiam escolher uns 500 treinadores espanhóis para trabalhar com eles, mas escolheram-me a mim, português, por entenderem que sou competente. Procuravam alguém como eu, que tivesse experiência como analista, mas também já a capacidade de pensar o jogo como treinador», diz, acrescentando: «Deram-me a possibilidade de estar no campo, de integrar o processo de treino, que era o que eu procurava. Além disso, voltar a estar mais perto da família era um fator também que pesava. Não podia ter feito melhor escolha: o Marchena jogava com o Xavi e o Iniesta e é alguém muito humilde, que tem vontade de ensinar e ajudar o outro, e o Paco Gallardo vai ser um treinador de topo.»

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O treinador português de 28 anos salienta que o terceiro escalão em Espanha é uma competição muito equilibrada, com equipas fortes. «Por exemplo, o Esteban Granero – que jogou no Real Madrid e noutros clubes da Liga Espanhola – está a jogar no Marbella.»

E o futuro, como será? Onde se imagina Abel daqui por 5 ou 10 anos?

«Faço essa pergunta a mim várias vezes, mas não quero pensar muito mais do que no dia de hoje. O futebol e a vida são muito imprevisíveis. As oportunidades surgirão ou não se eu estiver preparado para elas», responde, esclarecendo de seguida a sua intenção sobre um possível regresso a Portugal: «Não sei se acontecerá em breve ou não, mas um dia voltarei.»

Para já, estando a 700 quilómetros da sua Ponte da Barca, tenta regressar a casa em épocas festivas para estar com a família, porque é importante «regenerar para ganhar forças para o dia a dia do futebol».

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E é ao falar da sua vila que Abel se recorda de uma curiosidade, que até pode servir-lhe de inspiração.

«Dizem que Fernão de Magalhães é natural de Ponte da Barca – existe uma disputa com Sabrosa, Vila Real – e ele saiu daqui de Sevilha para a viagem de circum-navegação. Não tem nada que ver, mas aconteceu. É como eu, vim de Ponte da Barca e estou agora em Sevilha», sorri.

A vida tão é imprevisível que até já o colocou de um dia para o outro na rota das Américas.

Quem sabe se Abel Pimenta irá dar a volta ao mundo à boleia do futebol.

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