Griezmann e não só: o que esperar desta França em crescendo - TVI

Griezmann e não só: o que esperar desta França em crescendo

França na final do Euro 2016 (Reuters)

Pela primeira vez desde o início do Euro, Portugal enfrenta um adversário que parte para a decisão como favorito. Será isso mau?

É a equipa com mais vitórias (cinco em seis jogos), com mais golos marcados (13) e com aquele que é, até ao momento, o melhor marcador e mais forte candidato a melhor jogador da competição, Antoine Griezmann - estatuto que só mesmo uma atuação brilhante de Cristiano Ronaldo na final poderá anular. A França joga em casa, e tem o ascendente psicológico de dez vitórias consecutivas e de 41 anos sem perder perante a seleção portuguesa, que derrotou por duas vezes já na era Fernando Santos.

Bastariam estes dados para percebermos que, pela primeira vez desde o início do Europeu, o adversário de Portugal vai partir para a final de domingo, no estádio Saint-Denis, com um claro estatuto de favorito - o que até pode nem ser mau, face às caraterísticas de jogo da equipa de Fernando Santos. O favoritismo francês é em parte sustentado pela história e noutra parte – bem mais relevante – pelo seu trajeto ascendente neste Europeu, que culminou com o enterrar de um borrego com 58 anos de idades: desde o Mundial de 1958 que a França não vencia a Alemanha num jogo de competições oficiais, com derrotas marcantes nos Mundiais de 1982, 1986 e 2014.

À semelhança de Portugal, a equipa treinada por Didier Deschamps teve um trajeto relativamente desbravado até as meias-finais – Roménia, Albânia, Suíça, Irlanda e Islândia não chegaram para acabar com as dúvidas acerca da solidez dos bleus. Porém, enquanto Portugal teve de desembaraçar-se do outsider País de Gales para chegar a Saint-Denis, a França teve de haver-se com a campeã mundial em título.

Mesmo debilitada pelas ausências de Hummels, Khedira e Gomez, durante a primeira parte a Alemanha foi Alemanha e colocou aos bleus dificuldades que ainda não tinham sentido. Mas um penalti tonto de Schweinsteiger – o segundo oferecido pelos alemães neste Europeu – fez inclinar a balança para o lado azul. E um segundo golo ainda mais tonto, se tal e possível, acabou de desorientar os homens de Joachim Löw e de pôr os franceses na quinta final da sua história – a terceira que vão jogar em casa.

Griezmann, sim, mas não só

Começando por aí, tem ideia quantas vezes, nos últimos 32 anos, uma seleção organizadora venceu um Europeu ou um Mundial? Não precisa de ir ao Google, a resposta é: só duas vezes, e em ambas a França, no Euro 1984 e no Mundial 1998. Da primeira vez, a referência era Platini, autor de nove golos em cinco jogos, um deles afastando Portugal na meia-final de Marselha. Da segunda, a referência foi Zidane, autor do bis que derrotou o Brasil na final de Saint-Denis. Agora, a referência está encontrada: depois de dois primeiros jogos em que a estrela de Payet brilhou com mais intensidade, Griezmann, que após um primeiro jogo infeliz, com a Roménia, chegou a ter uma breve passagem pelo banco, explodiu em toda a dimensão do seu talento, somando seis golos e duas assistências nesta caminhada.

O avançado do At. Madrid tem sido bem acompanhado por Payet e Giroud (ambos com três golos e duas assistências), mas o que também tem contribuído para a sensação de crescimento desta seleção francesa é a estabilização do seu meio-campo, que melhorou com a saída de Kanté, um trinco demasiado posicional.

Mudança-chave: a saída de Kanté

A passagem de um 4x3x3, em que Griezmann partia da ala direita, perdendo frescura na zona de decisão, para um 4x2x3x1, em que Pogba e Matuidi pegam no jogo e Sissoko fecha sobre a direita, permitiu ao avançado do At. Madrid ter um papel mais solto, nas costas da referência Giroud - que mesmo não sendo um prodigio de aproveitamento, tem vindo a subir de jogo para jogo, a exemplo da equipa. E as qualidades do duo exprimem-se ainda de forma mais evidente quando, à semelhança do que faz o At. Madrid, a França recua as linhas, dando espaços para Griezmann explorar, como fez nesta quinta-feira, com especial brilho, diante de uma Alemanha muito subida no terreno e aparentemente desgastada por lesões e cansaço.

Nesse sentido, parece crucial que Portugal disponha de um central rápido ao lado de José Fonte na decisão de domingo – se Pepe não recuperar, Ricardo Carvalho terá, em teoria, vantagem sobre Bruno Alves nesse particular. Mas, para além do trio desequilibrador, são os três médios de construção e transporte (Pogba, Matuidi e Sissoko) que garantem consistência e intensidade, como se viu, por exemplo, na forma como, depois de uma primeira parte sofrida, conseguiram anular a influência de Kroos no segundo tempo, dando-lhe pouco tempo e espaço para encontrar os habituais passes de rotura.

No resto, na estrutura defensiva, a França parece ter encontrado em Umtiti uma opção mais válida do que Rami para a dupla de centrais com Koscielny, e terá no veterano Evra, à esquerda, um potencial calcanhar de Aquiles, embora o seu rendimento tenha subido nos últimos jogos. Sagna compelta este quarteto, à frente de Lloris, um dos melhores guarda-redes do Europeu, como demonstrou com grande categoria diante da Alemanha, vencendo o duelo com Neuer.

Um dia a menos para descanso? Irrelevante

Em teoria, Portugal dispõe pelo menos de uma vantagem sobre a França – o facto de ter mais 24 horas para recuperar da meia-final. Mas essa vantagem não tem tido impacto prático: se olharmos para as oito finais de Europeus e Mundiais realizadas de 2000 para cá, quatro foram ganhas pela equipa com menos horas de recuperação e outras quatro pela mais repousada.

Eis os números das duas seleções após seis jogos neste Europeu.

FRANÇA

Jogos: 6 (5 V, 1 E)

Minutos: 540

Golos: 13-4

Marcadores: Griezmann (6), Payet (3), Giroud (3) e Pogba (1)

Assistências: Griezmann (2), Payet (2), Giroud (2), Rami, Gignac, Sagna, Matuidi

Jogadores utilizados: 18

Total de remates: 106 (18 por jogo)

Remates na baliza: 36 (6 por jogo)

Remates nos postes: 5

Total de passes: 2810

Eficácia de passe: 87%

Cantos: 39

Offsides: 7

Posse de bola: 53%

Jogos sem sofrer golos: 3

Média de idades: 27,43

Disciplina: 9 cartões amarelos

Faltas cometidas: 60 (10 por jogo)

Faltas sofridas: 58 (9,7 por jogo)

 

PORTUGAL

Jogos: 6 (2 V, 4 E)

Minutos: 600

Golos: 8-5

Marcadores: Cristiano Ronaldo (3), Nani (3), Quaresma (1) e Renato Sanches (1)

Assistências: Ronaldo (2), André Gomes, Quaresma, Nani, Raphael Guerreiro, João Mário

Jogadores utilizados: 21 (só Anthony Lopes e Eduardo ainda não jogaram)

Total de remates: 113 (19 por jogo)

Remates na baliza: 36 (6 por jogo)

Remates nos postes: 2

Total de passes: 3058

Eficácia de passe: 88%

Cantos: 45

Offsides: 16

Posse de bola: 53%

Jogos sem sofrer golos: 3

Média de idades: 27,96

Disciplina: 7 cartões amarelos

Faltas cometidas: 81 (13,5 por jogo)

Faltas sofridas: 82 (13,7 por jogo)

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