Esta é a conclusão dos analistas ouvidos esta terça-feira pela ag~encia «Lusa».
Pedro Pintassilgo, da gestora de fundos F&C, disse que a taxa de incumprimento dos créditos hipotecários está a ser superior ao esperado, pelo que as projecções das agências sobre a capacidade de pagar foram optimistas.
A complexidade dos produtos vendidos com esse risco de incumprimento pode justificar as dificuldades de avaliação de riscos por parte dessas agências, acrescentou, pois o histórico das projecções de incumprimento pode não ter sido suficiente, levando essas agências a subavaliarem o risco.
Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, é da mesma opinião: por este ser um produto novo, não havia histórico para o seu risco, pelo que em muitos modelos de avaliação das agências de rating se assumiu «o pior risco de incumprimento dos créditos tradicionais, o qual se está a descobrir agora ser insuficiente».
Pedro Almeida, da Associação dos Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM), considera que as agências de rating andaram a fazer «um mau trabalho», pois tinham obrigação de saber o risco dos produtos em causa.
Antes da colocação no mercado das obrigações ou outros instrumentos securitizados, as agências de rating avaliam os créditos em carteira e atribuem-lhes ratings, a que correspondem diferentes níveis de risco.
Muitas instituições que estavam a vender os créditos em operações de titularização tentaram mascará-los, misturando bons com maus créditos, acrescentou o especialista da ATM, mas cabia às agências de rating avaliar exactamente o risco do conjunto dos créditos.
No entanto, houve alguns instrumentos através dos quais foram vendidos os créditos que foram «mal avaliados», segundo Pedro Almeida.
Além disso, «interessava a todos (agências de ratings e empresas que securitizavam os créditos) dar bons ratings», acrescentou Pedro Almeida, porque todos queriam colocar mais crédito no mercado.
Algum tempo depois, as agências de rating começaram a fazer «revisões radicais» das suas avaliações, provocando uma «revolução» na avaliação desses instrumentos e ajudando a que os produtos deixassem de ser vendáveis no mercado.
Essa reavaliação ainda está hoje a ser feita no mercado e pode levar mais algum tempo, avisou Pedro Pintassilgo da F&C.
Para perceber como é que há produtos com exposição a esse segmento de mercado que têm uma qualificação de baixo risco de incumprimento é preciso recuar no tempo e lembrar que nos últimos anos as operações de securitização se multiplicaram.
O analista da ATM disse à «Lusa» que com a tendência de subida dos preços das casas nos EUA, a concessão de crédito foi incentivada nos últimos anos porque os bancos partiam do princípio que os preços iam continuar a subir.
Como essas instituições precisavam também de se financiar, efectuavam operações de securitização, em que vendiam o direito a cobrar os créditos a terceiros, transferindo parte ou a totalidade do risco associado ao empréstimo concedido.
Muitos desses investidores optaram por se endividar para comprarem esses títulos, agravando ainda mais os efeitos e o alastramento da actual crise do crédito hipotecário.
Foram feitas operações de securitização directas e outras em que havia agregação em produtos mais sofisticados, que incluíam créditos de várias qualidades, os quais depois foram vendidos a investidores em tranches, com diferentes ratings.
A economista do BPI recordou também que os EUA chegaram a uma altura em que o seu nível de endividamento era já muito elevado.
Assim, para as instituições continuarem a emprestar dinheiro tiveram que se virar para franjas de mercado e assumir mais risco, com a aposta no «sub prime» a aparecer como uma escapatória.
Agências «rating» avaliaram mal os riscos do crédito hipotecário
- Redação
- Lusa/RPV
- 28 ago 2007, 17:26
A crise do mercado hipotecário de alto risco mostrou que as agências de «rating» estavam a avaliar mal alguns riscos.
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