1-O: muito mais que um jogo - TVI

1-O: muito mais que um jogo

Barcelona-Las Palmas (Reuters)

Anatomia de uma foto

O Camp Nou despido de público, no marcador a palavra «Democràcia». A imagem é o legado do Barcelona para a história do 1-O, uma história que não terminou seguramente aqui. 1 de outubro de 2017, o dia em que a Catalunha foi a referendo pela independência à revelia do poder central espanhol, mais de dois milhões de pessoas na rua e uma resposta policial de que resultaram mais de 844 feridos.

Os incidentes começaram logo pela manhã e para o início da tarde estava marcado jogo do Barcelona. Em casa, com o Las Palmas. Nos últimos dias tinha havido dúvidas sobre a realização do jogo, mas a polícia disse que havia condições de segurança.

Mas ao início da tarde, quando as imagens de violência já corriam mundo, o Barcelona tomou mesmo uma posição. Chegou meia hora antes do pontapé de saída, quando já havia milhares de pessoas no exterior do estádio. «O Barcelona condena as ações levadas a cabo em muitas localidades da Catalunha para impedir o exercício do direito democrático e a livre expressão dos seus cidadãos», dizia um comunicado do clube, o mesmo onde se revelava que se iria jogar à porta fechada, «perante a recusa da Liga em adiar a partida».

Assim foi. Os jogadores do Barcelona aqueceram antes do jogo com a camisola da «Senyera», que replica as cores da bandeira da Catalunha.

Não terá significado o mesmo para todos, mas disse muito a alguns. Como Piqué, que deixara há muito clara a sua posição a favor do referendo e no fim da vitória do Barça não escondeu as lágrimas, a exteriorizar as emoções pelo que se estava a passar na Catalunha e admitindo de caminho vir mesmo a deixar a seleção espanhola, se a sua posição se tornar demasiado incómoda.

O Barcelona é talvez a mais simbólica instituição da Catalunha e fez há muito da identidade da região a sua bandeira e a sua força. Mais que um clube, é o lema que sustenta essa ideia. E quando a Catalunha chegou ao ponto que terá sido de não retorno, lá esteve o Barcelona.

Foi muito mais que um jogo. E foi o futebol no meio da História como muitas outras vezes, reflexo da vida e do mundo.

Mas o futebol não se uniu ao 1-O da Catalunha apenas neste gesto do Barcelona. Houve mais momentos em campo a amplificar divisões e feridas abertas no presente e no futuro de Espanha.

Como, em sentido contrário ao Barcelona, na manifestação pró-Espanha do próprio Las Palmas. O clube das Canárias entrou em campo com uma camisola especial, que tinha a bandeira de Espanha com a data de 1 de outubro gravada. «Com a bandeira de Espanha bordada no equipamento queremos votar de forma inequívoca numa consulta imaginária para que ninguém nos convocou: acreditamos na unidade da Espanha», disse o clube em comunicado.

Ou ainda no Bernabéu onde o Real Madrid defrontou o outro clube de Barcelona, um Espanhol historicamente mais aliado com o centralismo espanhol. Não houve manifestações por parte dos clubes, mas cá fora distribuiram-se cartazes com a bandeira de Espanha, a pedir que fossem levantados ao minuto 12. Representando, diziam, «o 12º jogador, por uma Espanha unida». E muitos desses cartazes foram levantados no Bernabéu, acompanhados do cântico «Viva Espanha».

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