O recorde amargo e doce de El Niño - TVI

O recorde amargo e doce de El Niño

Torres do Liverpool para o Chelsea (Foto Reuters)

Uma imagem com quatro anos, pose de circunstância à chegada ao Chelsea, com tanto por trás



É uma pose de circunstância e, se olharmos melhor, é difícil afastar a sensação de estarmos a ver expressões demasiado circunspectas para a dimensão do momento. 4 de fevereiro de 2011, faz quatro anos, esta era a imagem para a posteridade daquela que é até hoje a maior transferência de sempre no mercado de janeiro. O Chelsea tinha pago 58 milhões de euros ao Liverpool para contratar Fernando Torres.


O negócio só ficou fechado mesmo em cima do fecho da janela de transferências. Foram dias de grande tensão. Esta outra fotografia da Reuters ajuda ao contexto. Noite de 31 de janeiro de 2011, adeptos do Liverpool concentrados frente ao centro de treinos de Melwood, unidos no ódio a El Niño.



O Liverpool resistiu a várias propostas do Chelsea por Fernando Torres, um desejo antigo de Roman Abramovich, e também a um pedido formal de transferência apresentado pelo próprio, mas acabou por ceder. E «El Niño» deixou Anfield.


Viviam-se tempos difíceis no Liverpool, como se viviam no At. Madrid três anos e meio antes, quando Fernando Torres decidiu deixar o seu clube de sempre e rumar a Inglaterra. Uma derrota por 6-0 frente ao Barcelona, em maio de 2007, no final de mais uma época muito conturbada no Calderón, foi a gota de água para o menino que tinha crescido adepto «colchonero», que se tinha estreado na equipa principal aos 17 anos e cujo futebol e instinto goleador no Calderón encantaram o mundo.


Deixou o Calderón sete anos depois de se ter estreado pela equipa principal e em Liverpool a adaptação foi rápida, sob o comando do compatriota Rafa Benítez. Marcou 24 golos na Premier League logo na primeira época, antes de um verão de sonho para o futebol espanhol: a conquista do Euro 2008, o primeiro grande título da geração de ouro que havia de ser campeã do mundo em 2010 e bicampeã europeia em 2012. Foi dele o golo que deu o título à Espanha em Viena, na final frente à Alemanha.


No Liverpool a época seguinte foi menos exuberante, mas em 2009/10 voltou a crescer: 22 golos em 32 jogos, numa temporada que para ele acabou em abril, por causa de uma operação ao joelho.


O Liverpool foi sétimo na Premier League nessa época, a pior classificação do clube em mais de uma década, Benítez saiu no final da época e chegou Roy Hodgson. As coisas não melhoraram em Anfield e para Torres a situação já era insustentável.


Saiu, mas o Chelsea esteve longe de ser um destino de sonho para «El Niño». A pressão do valor da transferência e da «traição» ao rival, a dificuldade em adaptar-se a um estilo de jogo diferente, sequelas físicas associadas a perda de confiança? Será sempre difícil perceber causas e efeitos, mas «El Niño» perdeu o instinto matador, e com ele o sorriso, em Stamford Brige.


Nos seis meses que restaram da primeira época marcou apenas um golo em 18 jogos pelos «Blues». Foi em abril, ao fim de 903 minutos em campo. Havia muita gente a contá-los, as horas, os dias e os meses sem que Torres marcasse pelo Chelsea.


E no entanto, ganhou muito, nos três anos e meio de Stamford Bridge. Liga dos Campeões, Liga Europa, Taça de Inglaterra. E foi campeão do mundo, e de novo campeão da Europa. É outro dos paradoxos em redor de Torres. Mesmo que nos fique esta impressão de que tem sido menos do que podia ser, tem um dos currículos mais invejáveis do planeta. 


Continuou no Chelsea na primeira época de regresso de José Mourinho ao clube, mas o treinador português deixou claro que precisava de algo mais para o ataque, e procurou-o em Diego Costa. Torres saiu para o Milan, por empréstimo.


Fez 10 jogos na Serie A, apenas três deles a titular, marcou um golo. E depois, ligaram-lhe de casa. O At. Madrid chamava, os astros conjugaram-se para tornar possível o regresso, aos 30 anos. Uma transferência definitiva do Chelsea para o Milan, primeiro, dias depois o empréstimo ao Atlético.


A 4 de janeiro de 2015, 45 mil adeptos juntaram-se no Calderón para saudar o regresso de um dos seus. Estreou-se na Taça, frente ao Real Madrid. Ficou em branco na primeira mão, na segunda marcou no Bernabéu os dois golos da vitória «colchonera». 
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