Kocsis, Puskás, Hidegkuti e Czibor. Quatro dos nomes maiores da história do desporto húngaro e membros dessa geração dourada magiar de 1954. A caminho do derradeiro jogo do Mundial, em Berna (Suíça), a Hungria trucida rival atrás de rival: 9-0 à Coreia do Sul, 8-3 à Alemanha Ocidental, 4-2 ao Brasil e ao campeão em título Uruguai.
O adversário da final é novamente a Alemanha Ocidental. Um «pequeno» obstáculo no caminho para pôr as mãos pela primeira vez na Taça Jules Rimet.
Na baliza da Mannschaft está Toni Turek (35 anos), que ficou de fora duas semanas antes na pesada derrota contra os húngaros, o único jogo no qual não participou.
O mau tempo deixa o campo encharcado, o que desfavorece os jogadores húngaros, tecnicamente mais evoluídos. Ainda assim, aos 8 minutos o resultado já é de 2-0 para a Hungria, com golos de Puskás e Czibor.
Só que os alemães reagem. Max Morlock reduz aos 10 minutos e Helmut Rahn empata pouco depois.
Esse jogo perpetuar-se-á na história sob a designação de «milagre de Berna». O caudal ofensivo da seleção magiar é gigante. O poste, a barra e Toni Turek mantêm a Alemanha na discussão da final.
O guarda-redes da Alemanha, que até esteve mal no lance que originou o segundo golo da Hungria, faz defesas atrás de defesas, mas há uma que ainda hoje tem lugar cativo entre as melhores do desporto-rei.
Aos 24 minutos, Hidegkuti remata de primeira com o pé direito e Turek, com reflexos fantásticos, nega o 3-2. Um milagre no meio de tantos outros até Rahn desferir o golpe final aos 84 minutos e dar à Alemanha Ocidental o primeiro momento de glória de um país ainda em convalescença após a derrota na II Grande Guerra.
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Artigo original: 11/03; 23h50