O ‘prodígio’ e o ‘miudinho’ estão prontos para estreia no palco de sonho - TVI

O ‘prodígio’ e o ‘miudinho’ estão prontos para estreia no palco de sonho

Martim e Daniel

Martim Costa e Daniel Vieira chegam ao Europeu de andebol sem qualquer internacionalização

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«Os exames de Martim Costa confirmam o pior cenário. O jogador de 18 anos fez uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito».

A 13 de fevereiro, a notícia da lesão do jogador, então no FC Porto, deixou o cenário nublado para uma das maiores promessas do andebol português. Um ‘prodígio’, como muitos se referem a Martim Costa no andebol português.

Depois de ter ajudado o Gaia a vencer a segunda divisão, sagrando-se melhor marcador do campeonato - com apenas 16 anos e idade júnior(!) -; depois de na época seguinte ter sido o segundo melhor marcador da primeira divisão, ainda no Gaia; após começar a jogar com regularidade no supercompetitivo FC Porto de Magnus Anderson, Martim Costa via a carreira interrompida de forma abrupta e dolorosa.

Mas uma das coisas que nos dizem sobre Martim é que «ninguém o consegue parar». E ele decidiu mostrá-lo, agora também fora de campo, com uma recuperação relâmpago da lesão do joelho.

Prova disso é que menos de um ano depois, e com uma mudança do FC Porto para o Sporting pelo meio, o primeira-linha integra a lista final de Paulo Jorge Pereira para o Europeu da Hungria e Eslováquia.

«Depois de me ter magoado, não pensei que fosse possível estar nesta convocatória. Mas a recuperação correu muito bem, sinto que estou num bom nível e o joelho está ótimo», assegura em conversa com o Maisfutebol.

Completamente restabelecido, Martim está, aos 19 anos, pronto para dar o passo que lhe falta no andebol: a estreia pela seleção principal.

Sim, porque o jogador do Sporting vai chegar ao Europeu sem qualquer internacionalização ‘A’. Mas pouco mais lhe falta fazer na modalidade em que nasceu. 

E não é exagero dizer que ansceu no andebol. Martim é filho de Cândida Mota e Ricardo Costa, dois antigos andebolistas internacionais e irmão de Francisco Costa, que vai repetindo a história de precocidade do irmão e tem sido um dos destaques do Sporting apesar dos 16 aninhos que o cartão de cidadão indica.

«Não me lembro da minha vida sem andebol. Desde pequeno ia ver os treinos do me pai e sempre estive no meio do andebol», reconhece, ele que até começou por experimentar ténis e basquetebol, antes de se render ao poder dos genes, lá para os sete anos.

Desde então, o percurso tem sido sempre a ultrapassar barreiras e a chegar mais cedo do que seria expectável aos pontos que poucos alcançam. Além dos feitos já referidos, podemos acrescentar a eleição para o sete ideal do Mundial de sub-19… aos 16 anos e numa posição onde nem costuma jogar.

Agora é o palco maior que o espera.

«Sinto alguma ansiedade para ir e jogar num Europeu. Não penso muito que não tenho internacionalizações ‘A’ e, sinceramente, a primeira ser num Europeu ou num torneio particular não é relevante. É sempre um privilégio jogar pela seleção, seja em que jogo for», define.

Pela frente, caso Portugal assegure a passagem à segunda fase da prova que arranca no dia 13, Martim Costa poderá ter pela frente aquele que considera «o melhor jogador de sempre» e aquele que mais admira desde miúdo, o francês Nikola Karabatic. Mas isso também não lhe faz palpitar mais o coração.

«Nunca fui de olhar muito para quem é o adversário. Seja um jogo contra o Paris Saint-Germain ou uma equipa da terceira divisão, a vontade é a mesma», sublinha.

É meter a bola a rolar, então!

O ‘miudinho’ que surpreendeu o Benfica… e o selecionador

Quando, em outubro de 2021, o Avanca recebeu o Benfica num jogo em atraso da primeira jornada, Daniel Vieira não imaginava que o seu percurso andebolístico podia estar prestes a dar um salto significativo.

É verdade que o jovem lateral-direito já tinha um percurso de relevo nas seleções jovens de Portugal, mas aquele jogo em que marcou 11 golos ao Benfica teve uma particularidade que Daniel garante só ter sabido no final: Paulo Jorge Pereira estava na bancada do ‘velhinho’ pavilhão Adelino Dias Costa.

E esse jogo não saiu da memória do selecionador nacional de andebol. Foi, aliás, um dos argumentos que utilizou para justificar o nome do jogador de 21 anos na lista final para o Europeu, quando muitos se questionavam: ‘quem é o Daniel Vieira?’.

Essa foi também a primeira pergunta que fizemos ao jovem que está prestes a fazer o primeiro jogo pela seleção ‘A’, logo num Europeu: Quem é o Daniel Vieira?

«Não sei bem» foi a resposta que saiu de pronto. Mas compôs-se rapidamente.

«É um miudinho que veio de um clube pequeno de Lamego sozinho e que se conseguiu virar, depois de sair de casa aos 17 anos para correr atrás de um sonho», resumiu.

Esse ‘miudinho’ trocou Lamego por Avanca, aceitando o desafio de Carlos Martingo, então selecionador nacional de sub-18 e treinador do clube de Estarreja, e foi crescendo. Crescendo até chegar ao patamar máximo.

Na época passada, a segunda a tempo inteiro na primeira divisão, Daniel marcou cerca de 60 golos em 32 jogos. Mas foi crescendo. E esta época leva 85 golos em 14.

«Este ano sou o único lateral-direito da equipa e isso dá-me mais possibilidade de explorar o meu jogo e evoluir», justifica, admitindo que trabalhar com Ljubomir Obradovic, uma 'lenda' do andebol, também ajuda muito.

«É duro treinar com ele, mas é um grande treinador e sabe muito de andebol», concede, antes de recordar uma frase dita pelo técnico que o marcou.

«Há uma coisa que ele me disse no início da época e que me ajudou muito: disse que eu tinha de assumir mais o jogo, não ter receio, porque isso ia ajudar-me a evidenciar».

E Daniel evidenciou-se mesmo. Está a um passo de cumprir a aspiração daquele ‘miudinho’ que deixou Lamego aos 17 anos e que agora disputa o lugar a titular com Angel Hernández. E logo num Europeu, reforçamos.

«Sonho com isso. É por isto que tenho lutado e ficarei extremamente contente se isso acontecer num Europeu, onde a pressão é maior, sim, mas o gozo também. Ainda falta um toque de realidade nisto tudo e acho que a ficha só vai cair quando viajarmos», descreve.

«Metê-los na ordem? Temos é de os deixar livres…»

Se no Europeu vão estar três jogadores ainda sem internacionalizações – além de Martim e Daniel, também o guarda-redes Miguel Espinha -, a seleção conta também com jogadores experientes.

Entre eles, o mais internacional de todos é Fábio Magalhães, com 160 jogos ao serviço da seleção ‘A’. E o lateral-esquerdo só vê vantagens na juventude do grupo.

«Só nota a juventude no bom sentido. Porque eles dão mais vida, irreverência e alegria aos trabalhos, além da qualidade e vontade com que têm estado a treinar», começa por dizer, antes de falar dos dois estreantes.

«O Martim eu já conhecia porque joguei com ele no FC Porto e sei a qualidade que tem. É um jogador que não tem medo de nada, vai com tudo e está sempre pronto para a luta. O Daniel, eu não conhecia tão bem. É mais introvertido, mas tem um enorme potencial. Canhoto e com remate tão potente como ele tem é algo que não costumamos ver muito», detalha.

Certo é que Portugal parte para o Europeu com uma média de idades de 26,5 anos, mais baixa do que aquela com que se apresentou nas últimas três grandes competições - Europeu, Mundial e Jogos Olímpicos – mas isso está longe de preocupar Magalhães. Ele que não se incomoda muito a colocar ordem nos mais novos.

«É preciso manter um pouquinho a ordem, mas temos é de deixá-los livres para fazer o que fazem bem porque depois isso traz imprevisibilidade ao jogo», defende.

«Eu mantenho mais os pés no chão e penso mais nas coisas, mas eles podem ter uma dose de loucura. Tem de haver equilíbrio porque é esse equilíbrio que traz a sanidade», remata.

 

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