«Mundial? Apontamos para cima e cá estarei para meter a cabeça no cepo» - TVI

«Mundial? Apontamos para cima e cá estarei para meter a cabeça no cepo»

Paulo Jorge Pereira

Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional de andebol, fala sobre o regresso de Portugal a um Mundial, 18 anos depois

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Um. Dois. Três. Quatro… Dezoito. Dezoito anos.

Desde 2003 que Portugal não marcava presença num Mundial de andebol.

A última vez que participou foi no ano em que organizou a competição.

Nesse sentido, para os mais distraídos, a próxima afirmação pode soar estranha, mas… nunca Portugal chegou a uma fase final de um Mundial com expectativas tão elevadas.

Isso mesmo confirma Paulo Jorge Pereira, selecionador português, após ser questionado pelo Maisfutebol, numa conferência dada desde o aeroporto de Copenhaga.

«Sim, são as maiores expectativas de sempre. Após o que fizemos no Europeu, não posso vir para aqui dizer que queremos melhorar o 12.º lugar de 2003. Não é possível ter esse discurso. Por isso, vamos atirar já para cima e depois logo se vê. Se eu tiver de meter a cabeça no cepo, cá estarei para o fazer», atira, sem receios.

O sonho maior passa pelas medalhas, mas esse é uma ambição não assumida com todas as letras. Afinal, 18 anos de ausência não são 18 dias.

«No nosso grupinho aqui da seleção há sempre coisas que podemos melhorar para poder chegar a competir pelas medalhas. Já não andávamos cá há 19 anos. Mas eu assumo que temos possibilidades, mas temos de fazer as coisas e não podemos ter dias maus como o de domingo [frente à Islândia] muitas vezes», começa por alertar.

Mas há uma outra meta da qual Paulo Jorge Pereira fala sem tantos rodeios.

«Se conseguíssemos entrar nos oito primeiros, já seria extraordinário. Porque temos de cruzar com o grupo da França e da Noruega. E daí, só passam duas equipas de um grupo de seis», realça.

Para explicar a complexidade de fazer previsões nos últimos anos, Paulo Jorge Pereira aponta para o que se passou há um ano, quando Portugal conseguiu o melhor resultado de sempre, um sexto lugar no Europeu.

«Hoje não há equipa fracas. Se jogarmos mal contra uma equipa considerada mais fraca, podemos perder. Arrisco dizer que ficar em primeiro ou em décimo, a diferença não é muito grande. Basta ver que no Europeu, a Islândia ficou em 11.º. A França [equipa mais titulada dos últimos anos] e a Dinamarca [campeã mundial em título] não passaram da fase de grupos», recorda.

Outra das razões apontadas por Paulo Jorge Pereira para um maior ‘resguardo’ na ambição prende-se com a falta de jogos da seleção que, em 2020, fez apenas dois jogos depois do Europeu, mas os dois que fez na última semana, frente à Islândia.

«Eu sinto que existe um deficit de competição, neste momento na nossa equipa. Não estamos muito estáveis nas rotinas, porque falta jogo. Ainda estamos um pouco longe disso. No ano passado tivemos muito mais jogos e dias para preparar o Europeu. Desta vez não tivemos. Até hoje, nunca tive todos a treinar. O Gilberto ainda não treinou connosco desde o início do estágio», exemplificou, sobre o lateral que é uma das figuras da equipa.

Certo é que Portugal vai ser olhado com muito mais respeito e desconfiança neste Mundial do que aquilo que aconteceu há um ano no Europeu. O estatuto é muito diferente e os jogadores vão ter de saber lidar com isso.

«Entrando com um estatuto diferente, tudo vai depender da forma como todos estivermos em termos de ambição. Porque isto não é para todos: isto é mesmo para quem pode. Mas nós temos gente muito valente e competitiva, temos guerreiros aqui, e essa capacidade de lutar de alguns dos nossos jogadores vai ter de fazer com todos se contagiem», deseja Paulo Jorge Pereira.

O regresso aos mundiais dos ‘Heróis do Mar’, cognome adotado pela seleção portuguesa, vai ter uma outra particularidade: a convivência com uma pandemia mundial. E por isso, não haverá público nas bancadas, algo que o selecionador português lamenta.

«É uma tristeza fazer um mundial sem público. Mas é o que tem de ser para todos estarem melhor protegidos», realça, antes de deixar um aviso.

«Quem conseguir ganhar este Mundial tem de ser especial. Agora na Islândia, fomos testados três vezes em quatro dias. No Mundial, vamos ser testados dia sim dia não. E aquilo ainda é um teste chato. Depois, além de não ser agradável, é a expectativa de não saber se estamos positivos. Por isso, quem conseguir ganhar, vão ser super-heróis. Não sei se serão ‘Heróis do mar’, mas têm de ser super-heróis», antecipa.

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