The New York Times elimina cartoons da edição internacional devido a polémica com cartoonista português - TVI

The New York Times elimina cartoons da edição internacional devido a polémica com cartoonista português

  • BM
  • 11 jun 2019, 14:40
The New York Times

Decisão surge depois de um cartoon do português António – em que o Presidente dos EUA, Donald Trump, aparece com um ‘kipá’ (símbolo judaico) e óculos escuros a ser conduzido por um cão-guia com a cara do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu – ter sido alvo de acusações de antissemitismo

O jornal norte-americano The New York Times anunciou segunda-feira que decidiu terminar com a prática de publicação de ‘cartoons’ na sua edição internacional, na sequência da polémica que envolveu um desenho do cartoonista português António, considerado antissemita.

A direção de informação do The New York Times, uma das mais prestigiadas publicações jornalísticas nos Estados Unidos, explicou que, a partir de 1 de julho, a edição internacional adotará a mesma estratégia editorial da edição nacional, que não publica qualquer desenho humorístico.

A decisão surgiu na sequência da polémica provocada pela divulgação de um ‘cartoon’ do português António – em que o Presidente dos EUA, Donald Trump, aparece com um ‘kipá’ (símbolo judaico) e óculos escuros a ser conduzido por um cão-guia com a cara do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu – divulgado há cerca de um mês e meio e que foi alvo de acusações de antissemitismo.

Na altura, a direção do jornal pediu desculpa pela publicação e justificou-se dizendo que tinha sido o resultado da decisão isolada de um editor, que não reconheceu o potencial de leitura antissemita, e rompeu o contrato com a empresa de serviço de distribuição de ‘cartoons’ que trabalhava com vários cartunistas internacionais, entre eles o português António (António Moreira Antunes).

Segunda-feira, o The New York Times tomou a decisão mais radical de terminar com toda e qualquer divulgação de ‘cartoons’ na edição internacional, seguindo a estratégia editorial da versão nacional do jornal diário.

Numa declaração, James Bennet, responsável pela página de artigos de opinião, disse que “há mais de um ano que considerava colocar a edição internacional em linha com a edição nacional, terminando com os ‘cartoons’ políticos”, o que acontecerá a partir do próximo dia 01 de julho.

Na mesma declaração, Bennet acrescentou que o jornal de Nova Iorque “continuará a investir em formatos de jornalismo opinativo, incluindo jornalismo visual, que expressem nuance, complexidade e vozes fortes a partir de uma diversidade de perspetivas”.

As reações a esta decisão do The New York Times não se fizeram esperar, em particular do lado de cartunistas, lamentando o desaparecimento desta forma de expressão visual das páginas do jornal.

Patrick Chappate, um dos cartunistas que colaborava com o The New York Times, escreveu no seu blogue que a decisão não tem apenas a ver com ‘cartoons’, “mas também com jornalismo e com a opinião em geral”, dizendo que se vive “num mundo em que a população moralista se junta nas redes sociais e ergue-se como uma tempestade, atacando as Redações dos ‘media’”.

Plantu, conhecido cartunista do diário francês Le Monde e fundador da associação Cartooning for Peace, considera decisão revela que o jornal “se encolheu perante as redes sociais”, lembrando que já antes o The New York Times tinha pedido desculpa pelo desenho do português António.

É tão estúpido como se pedíssemos às crianças no Dia das Mães para pararem de fazer desenhos para suas mães", disse o cartoonista, manifestando a sua solidariedade para com os cartunistas afetados pela decisão do jornal norte-americano.

“Humor e imagens perturbadoras fazem parte das nossas democracias", disse o cartunista do jornal Le Monde.

Na altura em que o seu ‘cartoon’ foi alvo de polémica, António já tinha denunciado a “vulnerabilidade” do jornal de Nova Iorque ao considerou ser “grupos de pressão” com grande influência na sua linha editorial.

Provavelmente, tem a ver com as suas linhas de financiamento. Não sei. É um espetáculo triste”, lamentou António.

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