Mais dois graus, mais milhões de refugiados - TVI

Mais dois graus, mais milhões de refugiados

Alterações climáticas

Especialista em clima alerta para as mudanças climáticas inevitáveis

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Milhões de pessoas vão tornar-se refugiadas climáticas quando os gelos começarem a fundir e as inundações a aumentar, alerta um especialista em clima ouvido pela Lusa, para quem a subida da temperatura média em mais de dois graus é já inevitável.

Para o climatologista Filipe Duarte Santos, tendo em conta que a temperatura já subiu face à era pré-industrial e que muitos países ainda não atingiram os seus picos de emissão, « já não é possível dizer que não iremos ultrapassar os dois graus centígrados, tidos como o nível de segurança a partir do qual há consequências irreversíveis».

Essas consequências incidem em várias áreas, particularmente a criosfera, cujo exemplo máximo é a Gronelândia, onde o gelo derrete a um ritmo de 239 quilómetros cúbicos por ano: montanhas de gelo com uma altitude equivalente à distância entre Setúbal e Coimbra. «Esta quantidade vai aumentar e começar a fundir de forma quase irreversível», acrescentou.

O investigador português Gonçalo Vieira, especialista em gelo, sublinha igualmente o «estado de desequilíbrio climático» em que se encontra esta grande ilha, que constitui «uma das áreas que mais preocupa a comunidade científica». O problema não é apenas a massa que perde, mas também a velocidade a que esse gelo está a fluir.

Segundo Filipe Duarte Santos, a fusão do gelo da Gronelândia e de outros glaciares de montanha são o que mais contribui para a subida do nível do mar, que pode ir até mais de um metro, afectando directamente as populações que habitam perto de bacias hidrográficas.

«No Bangladesh seis milhões de pessoas vivem numa faixa costeira com a altitude máxima de um metro. Estas pessoas terão que se ir embora, serão refugiados climáticos», disse, lembrando que há regiões já inundadas, como o Delta do Nilo.

Em Portugal, esta situação ainda não existe, mas já se verificam problemas de erosão no estuário do Tejo e do Sado, na ria Formosa e na ria de Aveiro.

Outro risco é o da acidificação dos oceanos, causado pelo dióxido de carbono na atmosfera, que ao fim de algum tempo acaba por se dissolver nos oceanos, formando ácido carbónico. Esta alteração do PH da água vai ter impactos nos seres vivos, prejudicando os ecossistemas marinhos.

Segundo Alexandra Cunha, presidente da Liga para a Protecção da Natureza, também «já estão a aparecer algas que estavam relacionadas com a zona tropical e espécies de peixes ligados à zona de Cabo Verde ou do mediterrâneo».

Também se verificam mudanças no padrão de migração de aves, como a cegonha, o flamingo e os corvos marinhos, que migravam em determinada altura do ano para África e agora já ficam residentes em Portugal.
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