Barómetro da semana: “Não há uma sem duas, nem duas sem três, nem três sem quatro” - TVI

Barómetro da semana: “Não há uma sem duas, nem duas sem três, nem três sem quatro”

  • José Romano, Doutorando em Ciência Política no ISCTE-IUL
  • 1 dez 2018, 23:51
Governo no Parlamento

Uma parte de Portugal olha incrédula as desgraças que se sucedem no interior do pais como se fosse um estrangeiro longínquo ou um primo afastado que já não se reconhece como família

Diz o povo que não há uma sem duas, nem duas sem três. António Costa poderá agora acrescentar que não há três sem quatro. Esta foi a semana em que o Governo de Portugal comemorou os seus três anos em funções e o Parlamento aprovou o quarto Orçamento do Estado. Este quarto e último orçamento da legislatura do Governo do PS é apoiado na Assembleia da República por quatro partidos: PCP, PEV, BE e também, desta vez, pelo PAN. Quatro orçamentos seguidos a estabelecer a quadratura do círculo: cumprimento das metas do Tratado Orçamental, redução do défice para cerca de 0% do PIB, diminuição da dívida pública em percentagem do PIB, devolução de rendimentos ao trabalho e diminuição do desemprego. Quatro anos sem orçamentos retificativos. Quatro anos sem inconstitucionalidades. Bravo, direi eu!

Porém nem tudo são rosas para António Costa. Ao quarto ano, com as eleições já no horizonte, os partidos que o apoiam e os partidos da direita entendem-se para obrigar o governo a voltar a negociar com os professores a contagem do tempo de serviço. Seguir-se-ão militares e forças de segurança e talvez outras corporações. Podendo embora protelar para lá da legislatura alguma da fatura dessa renegociação, parece certo que Governo e Presidência da República não estarão pelos ajustes para comprometer o défice com aumentos significativos da despesa com pessoal na administração pública. Também preocupados com os seus próprios lugares, com os seus próprios eleitorados e com as eleições que ai vêm, vários deputados do PS entenderam oportuno vincar a sua própria posição, forçando o Governo, contra a vontade publicamente expressa da Ministra da Cultura e do primeiro-ministro, baixando o IVA da touradas. Bravo, dirão os aficionados geralmente dos meios rurais do interior. Lamentável dirão os dececionados urbanos do Litoral. O IVA das touradas é uma metáfora. O PS, que se comporta como o único grande partido de governo atualmente em Portugal, o “Catch all”, divide-se, assim, verdadeiramente representando o seu eleitorado e o país. Uma parte, cosmopolita, pós-materialista, acha que a barbárie e os maus tratos aos animais já não são compatíveis com os nossos valores civilizacionais. Outra parte, mais visceralmente ligada “à terra”, ainda os sente como a sua identidade. Ambos acham que têm razão.

Há um ano, o Governo e em particular o primeiro-ministro viviam o seu momento político mais baixo, agastados pelos incêndios de junho e outubro e quase em simultâneo pela notícia do desaparecimento das armas de guerra em Tancos. O PS e António Costa terão aí perdido a maioria absoluta de votos que haviam conquistado nas autárquicas umas semanas antes. Agora, como então, o Governo e a sua estrutura de Protecção Civil são chamados a reagir a uma catástrofe com grande impacte na sensação subjetiva de (in)segurança dos portugueses. Agora como então a mensagem otimista de que o país está melhor e mais próspero não cola com a impreparação e escassez de recursos para salvaguardar a vida destes portugueses. Então como agora a clivagem entre litoral e interior acentua-se. Desta vez a catástrofe foi o colapso de um talude de uma pedreira em Borba que terá arrastado para a morte cinco pessoas que estavam, ou passavam, numa estrada. Este foi um dos dois assuntos mais destacado da semana. Agora como então, percebe-se que o primeiro-ministro se resguarda para as boas notícias e para as acções de charme, protegendo-se das más notícias, escondendo-se nos momentos de dor. Talvez essa seja aliás uma das razões da popularidade do Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, que partilha afetos com as lágrimas dos portugueses enlutados.

O outro tema da semana foi o futebol. É tragicamente assim há décadas. Os portugueses estão preocupados e atentos ao que se passa no Reino Unido (que foi o terceiro tema mais destacado) onde aliás reside uma grande comunidade portuguesa. Porém nada que os impeça de dar maior atenção ao futebol. Com o Futebol Clube do Porto em alta, quer na liga Portuguesa, quer na Liga dos Campeões Europeus, com o Sporting a garantir também a passagem à fase seguinte, a semana da bola ficou marcada pelo afastamento do Benfica da Liga dos Campeões e pelo episódio da demissão anunciada e imediatamente revogada do seu treinador Rui Vitória. O Benfica teve a sua demissão irrevogável. Depois deste ato falhado, ambos os responsáveis, treinador e presidente, embora irrevogavelmente de costas voltadas, ficarão mais vinculados do que nunca e ambos serão responsabilizados pelos sócios e simpatizantes se e quando a equipa fracassar.

A chegada da sonda da NASA a Marte e as imagens impressionantes que de lá vieram não foram quanto baste para entusiasmar o povo que mostrou novos Mundos ao Mundo.

 

 

 

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho e a codificação das notícias é realizada por Carla Mendonça com o apoio de Leonor Cardoso. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

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