Barómetro da semana: “Começou a Campanha Eleitoral. Os mais fortes dominam. Os mais fracos sucumbem” - TVI

Barómetro da semana: “Começou a Campanha Eleitoral. Os mais fortes dominam. Os mais fracos sucumbem”

  • José Romano, Doutorando em Ciência Política no ISCTE IUL
  • 25 fev 2019, 11:24
Moção de censura do CDS chumbada

Em 2019 teremos eleições Europeias em Maio e legislativas em Outubro. Os diferentes agentes político-partidários e os parceiros sociais procuram consolidar posições e delimitar territórios eleitorais. Como duas partes beligerantes que se bombardeiam na véspera de uma cimeira para assim aumentarem a sua capacidade negocial, cada ator político procura neste momento critico e decisivo potenciar a sua importância e força negocial. Os mais fortes dominam. Os mais fracos sucumbem.

O top 10 desta semana foi liderado pelo assunto pendente da greve dos enfermeiros e das suas particularidades. Trata-se do confronto entre as questões marginais do seu peculiar método de financiamento digital, via um público anónimo sem escrutínio do sindicato que promove a greve, o parecer da PGR e a batalha jurídica, mas sobretudo a questão central da luta continuada de uma classe que defende os seus interesses particulares contra um governo que defende o interesse público, dai resultando sérios danos nos mais frágeis e desprotegidos, que são os doentes que não têm alternativas por incapacidade de recorrer aos sistemas de saúde privados. Tudo isto sobre o pano de fundo da discussão da alteração da Lei de Bases do Serviço Nacional de Saúde, o coração do Estado Social.

No 2.º lugar do top esteve a moção de censura do CDS ao governo, que num quadro de minoria parlamentar, só se justifica para afirmar um lugar na direita politica no confronto com as forças tradicionais como o PSD e as forças emergentes como a “Aliança” de Pedro Santana Lopes ou o “Chega” de André Ventura.

Antonio Costa resolveu mandar para a frente Europeia o seu ministro do planeamento transportes e infraestruturas, Pedro Marques e aproveitou a ocasião para remodelar o seu governo, assim constituindo o seu diretório de campanha eleitoral no Governo de Portugal. Nada a estranhar, é normal em democracia. Ao mesmo tempo lançou a corrida dos quadros políticos do PS que, no dia da sua saída de cena, disputarão a liderança do PS e do governo. Depois de há alguns anos ter chamado Fernando Medina para seu vice na Câmara de Lisboa, a quem entregaria a Presidência da Câmara dois anos mais tarde, dá agora palco politico a Pedro Nuno Santos e Mariana Vieira da Silva promovidos a Ministros e a Duarte Cordeiro promovido a Secretário de Estado. Todos ex-dirigentes da Juventude Socialista. Todos seus leais correligionários. Todos incapazes de constituírem qualquer ameaça à sua liderança.

À exceção de Jamila Madeira, apoiante de Antonio José Seguro, todos (as) os dirigentes da JS das últimas gerações ocupam lugares de destaque no aparelho do partido, e agora do estado.

O pais que se julga um pouco mais moderno, sofisticado e liberal é frequentemente confrontado com os esqueletos que saem dos armários. São ossos frágeis de crianças e mulheres indefesas que são brutal e continuadamente abusadas, maltratadas e por fim assassinadas pelos seus pais, companheiros ou maridos, no recato do seu lar, que deveria ser espaço de segurança e conforto, mas que entre nós ainda é bastante lugar de impunidade, humilhação e vergonha. O estado do país e do nosso povo mede-se bastante pela nossa capacidade coletiva de proteger e cuidar dos mais fracos. O estado nação, que Samuel Huntington, define como a circunscrição que confere o exclusivo do uso da violência às forças repressivas, (policiais e armadas) retirou a legitimidade do uso da violência aos civis para assim proteger os mais fracos. Entre nós, nos cerca de cinquenta dias que levamos desde que começou o ano já morreram onze mulheres. Uma a cada quatro dias. Este foi o 5º tema do top desta semana, o que apesar de tudo indica que há uma sensibilidade dos media para este assunto e que talvez por ai haja uma esperança de que a penalização social das práticas de violência doméstica mitiguem e reduzam substancialmente a sua ocorrência, nomeadamente entre os casais mais jovens, onde tragicamente parece haver uma certa tolerância à violência.   

O 7.º tema da semana são os abusos sexuais da Igreja católica. Uma vez mais, como no caso da greve dos enfermeiros, no caso da violência doméstica, também os mais fracos são vítimas dos mais fortes. Uma vez mais o agressor é que deveria proteger e cuidar. Uma vez mais tudo decorre no escuro, a coberto da miséria e da vergonha, com o silêncio cúmplice de familiares e vizinhos. Uma vez mais todos nós falhámos.

 

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho e a codificação das notícias é realizada por Carla Mendonça, Leonor Cardoso e António Lopes. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de aproximadamente 409 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Atualmente fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.

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