Barómetro da semana: Verde é também a cor da Esperança - TVI

Barómetro da semana: Verde é também a cor da Esperança

  • Abílio Oliveira, Professor Auxiliar no ISCTE-IUL
  • 29 jun 2018, 20:53
Alvalade

O país anda muito verde, e não é por inexperiência, pois somos uma Nação quase milenar, é que o Sporting continua na ordem do dia, e por razões desagradáveis. E há também uns traços de vermelho. Enquanto isso lá vai decorrendo o Mundial. O futebol domina. E no entretanto muitas pessoas fogem de locais de terror. Mas os presidentes de grandes países tentam encontrar soluções que nos aproximem, pensamos nós. Por cá, também se tentam sanar conflitos e desavenças. Haja esperança.

O meu primeiro contacto direto com o Sporting foi aos cinco anos. E aos oito já era atleta, envergando, com sentido orgulho, um leão que não só enfeitava uma camisola verde e branca, como me enchia o peito. Sporting, quer no sentido literal (entendendo-se como ‘praticar desporto’), quer simbólico, era e é uma paixão. Ou, mais que isso, representa para mim uma escola e um modo de estar na vida. No clube aprendi valores e referências fundamentais, vendo, nos grandes atletas, treinadores e funcionários, com quem privei e partilhei inesquecíveis momentos, grandes exemplos. Eram outros tempos, dirão alguns. Sim, mas cada tempo é o que dele fazemos. E se o Sporting Clube de Portugal é tão noticiado, é porque, por um lado, o futebol, os clubes e tudo o que gira à volta deles, com múltiplos interesses (e etc.), atrai a atenção de multidões, e por outro, o que se tem passado, em particular nos últimos meses, dá-nos o exemplo de que é possível uma Instituição (seja clube, associação, empresa, organização, câmara... ou governo) chegar a uma situação que parece insustentável, sem que nada pareça poder fazer-se para a resolver. Mas, afinal, algo ainda funciona. Ninguém fica infinitamente agarrado ao poder. Verificar isso, dá-nos a esperança de pensar que tantas situações que grassam por este mundo possam ter uma resolução. Um clube e o futebol, refletem e são reflexo da sociedade em que se integram, e de como as pessoas (e grupos) se movem e interagem, resultando daqui toda uma dinâmica social, cultural, política, judicial, civil, ..., governativa. Pelo entusiasmo que desperta, é claro que o que se passa com um grande clube é muito mais abrangente do que isso...

Enquanto o Sporting está em ebulição, o Benfica vai tentando ignorar mais uma avalancha de suspeitas e mais casos judiciais em curso. Repare-se que só depois do tema leonino, se destaca o Mundial de Futebol. Lá vamos nós pensando que o Ronaldo e restantes rapazes, apoiados por milhões, conseguirão vencer mais uma etapa na Rússia, país que tanto apostou, em todos os sentidos, neste evento que está entre os mais vistos em todo o mundo. Mais do que um Campeonato, há uma clara vontade de afirmação. Para ‘eles’ e para ‘nós’.

E depois há os ‘outros’, todos aqueles que tentam fugir de cenários (nome alternativo a dizer que alguém é expulso ou obrigado a fugir de casa, se a tiver...) de guerra, de miséria, de tortura. Escapando de ‘danos colaterais’, os refugiados embarcam na primeira barcaça onde conseguem entrar, procuram apoio, abrigo, uma mão que os receba em terra firme e ajude a sobreviver. “Every time the curtain falls on some forgotten life, It is because we all stood by silent and indifferent” (Roger Waters). E por isso devem continuar a ser ‘notícia’. Mas há vários ‘graus’ de refugiados. E alguns são-no, felizmente, no sentido figurado, por exemplo quando recorrem ao que têm ao seu alcance para lutar pelo que consideram como justo para as suas carreiras. Falamos neste caso dos professores, das suas reivindicações, que culminam na greve às avaliações. Independentemente da justiça da medida, que não questiono, há também aqui efeitos colaterais (bem mais pacíficos, é certo mas) que afetam milhares de pessoas (nomeadamente os estudantes). Depois há o encontro do Presidente Marcelo com Trump, numa tentativa mais ampla de aproximação entre a Europa e os E.U.A, onde, nem aí, faltou a alusão futebolística. No futebol, como na política, mais importante do que ver o que nos separa, será ter a noção do que nos une. Bom, talvez as taxas e sobretaxas, por exemplo no preço dos combustíveis, nos cuidados de saúde, ou nas questões salariais, nos unam, ao menos por uns dias. Enquanto isso, o tempo vai oscilando, imprevisivelmente, ao ritmo de um processo judicial que se arrasta (como o caso ‘Casa Pia’) ou de um festival, mais ou menos perto de um rio. Portugal sempre teve um papel importante no mundo, aventurando-se por novos rumos e estabelecendo pontes entre realidades diversas. Pois é, como canta a Sétima Legião, “Há mil anos de memórias a contar, ai cidade à beira-mar, ao Sul”. Haja esperança por um mundo melhor!

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