A final do Euro nas redes sociais - TVI

A final do Euro nas redes sociais

  • Gustavo Cardoso, Professor Catedrático ISCTE-IUL
  • Décio Telo ISCTE-IUL
  • 15 jul 2016, 16:49
Fotos da vitória da Seleção Nacional.

Portugal pela mão de Ronaldo. Cristiano Ronaldo foi a estrela das redes sociais nos dias 10 e 11 de julho naquele que foi um jogo global no que diz respeito às redes sociais Twitter e Facebook.

A final do campeonato da Europa em futebol também se jogou nas redes sociais. Somos 11 milhões de portugueses mas o jogo entre Portugal e França produziu mais de 25 milhões de mensagens à escala planetária considerando apenas o Twitter e os comentários em páginas públicas do Facebook.

Nas redes sociais, Cristiano Ronaldo e Antoine Griezmann reataram o duelo Real Madrid vs. Atlético de Madrid. Sobretudo nos comentários do Facebook, onde os dois jogadores foram mais falados do que as suas seleções nacionais.

O Laboratório de Ciências da Comunicação do ISCTE-IUL procedeu a uma análise a todas as mensagens relacionadas com a final do Euro2016 e a vitória da seleção portuguesa, entre 10 e 11 de julho. Entre as conclusões possíveis da análise destaca-se a escala planetária da atenção dada à final do Euro 2016 na twittosfera e a centralidade de Cristiano Ronaldo tanto no Twitter como no Facebook.

Em geral, os dados sugerem que a discussão nas duas redes sociais foi diferenciada. Apesar de em ambas encontrarmos Cristiano Ronaldo no centro das atenções, no Twitter a discussão andou mais relacionada com as seleções nacionais e com aspetos do jogo em si, enquanto que nos comentários das páginas públicas do Facebook, a polarização contra ou a favor de Ronaldo e a considerável percentagem de notícias relacionadas com clubes de futebol, sobretudo espanhóis, sugerem que a discussão nesta rede foi, em parte, desviada da final do Euro 2016 para as rivalidades entre clubes espanhóis com a relação amor/ódio por Ronaldo no centro das atenções.

Por fim, relativamente a alguns episódios que marcaram a final do Euro2016, foi a invasão de traças e o episódio da criança portuguesa a consolar um adepto francês que provocaram maior número de reações, sobretudo no Twitter.

 

Em menor escala escreveu-se sobre a iluminação da Torre Eiffel após a vitória de Portugal e alguns memes com crítica política, a partir de montagem com uma imagem de Ricardo Quaresma durante a final, circularam também na rede embora com menor expressão.

 

Síntese dos resultados

Entre 10 e 11 de julho, foram publicados 17,860,382 milhões de mensagens no Twitter relacionadas com o Euro 2016, envolvendo Portugal e França mas também Cristiano Ronaldo e Antoine Griezmann (principais estrelas e rivais nas seleções e nos seus clubes) e 461,217 comentários em páginas públicas do Facebook. A conta oficial de Cristiano Ronaldo  no Twitter obteve 1,195,233 menções nesses dois dias enquanto que Griezmann ficou pelas 184,714 menções na sua conta oficial.

No dia da final, 10 de julho, o número de tweets atingiu o valor máximo às 22 horas (hora de Lisboa), com mais de 2,5 milhões de tweets.

O Twitter Handle (nome de utilizador) mais referido foi o da conta oficial de Cristiano Ronaldo (@Cristiano) seguido da conta oficial de Pepe, ambos jogadores da seleção nacional, mas também jogadores do Real Madrid. A conta oficial da Seleção nacional de futebol foi a terceira mais referida, seguida das contas de Antoine Griezmann e Bots for Brands.

No Twitter, as duas mensagens com maior número de retweets foram da conta oficial de Cristiano Ronaldo, com mais de 78 mil e 52 mil retweets, respetivamente.

 

As hashtags mais utilizadas foram #EURO2016, com mais de 2,6 milhões, #FRAPOR (mais de 2,1 milhões) e #POR com mais de 2 milhões.

“Portugal” e “Cristiano” foram os 2 tópicos mais tweetados e representaram 85% dos total de tópicos identificados, atingindo o ponto mais elevado entre as 21h e as 22h, com mais de 2,3 milhões e 1,2 milhões respetivamente.

A análise automática do sentimento no Twitter realizada pelo algoritmo ™Brightview  da Crimson Hexagon permite concluir que houve mais mensagens positivas, em geral (34%), do que negativas (17%).

Quando se consideram apenas as mensagens que contêm as expressões “Portugal” ou #POR o número de mensagens negativas desce para 9% e as positivas sobe ligeiramente para 38%.

Nas mensagens que contêm as expressões #CR7 ou “Cristiano” ou “Cristiano Ronaldo” ou “Ronaldo” a percentagem do tom negativo sobe para 22% e as mensagens positivas descem para 31%.

Por seu lado, nas mensagens relacionadas com França (#FRA ou “França” nas diversas línguas) obtemos 31% de mensagens positivas contra 16% de mensagens negativas, valores idênticos ao que se obtém numa análise às mensagens relacionadas com Griezmann.

Do ponto de vista geográfico, com base nos posts com localização identificável (ou seja, aproximadamente 11 milhões de tweets) verificamos a escala planetária da atenção dada à final do Euro 2016 na twittosfera, tanto do ponto de vista do volume de mensagens como no número de tweets per capita.

Volume de tweets per capita

Volume de tweets

Quanto à dimensão demográfica, só foi possível analisar os posts de utilizadores que permitiram identificação do género e idade (46% e 11% do total de posts, respetivamente). Com base nesta amostra, verificou-se que a maioria dos utilizadores são do sexo masculino (57%) e os menores de 18 e maiores de 35 anos são os que mais utilizaram o Twitter a propósito da final do Euro 2016.

Do ponto de vista temático, Cristiano Ronaldo foi o assunto que mais circulou nas redes sociais, tanto no Twitter como no Facebook. 

 

Cluster de tópicos no Twitter nos dias 10 e 11 de julho

 

A análise de conteúdo com recurso ao algoritmo ™Brightview da plataforma Crimson Hexagon permite concluir que o tema mais discutido nas redes sociais foi Cristiano Ronaldo. 38% dos mais de 17,8 milhões de tweets foram sobre o jogador, enquanto que no Facebook essa percentagem sobe para 55% (num total de 461,217 posts e comentários).

Ainda relativamente a Cristiano Ronaldo, no Twitter falou-se mais da lesão sofrida durante o jogo e no Facebook os comentários incidiram mais sobre elogios ao jogador.

Os comentários contra Ronaldo foram também mais representativos no Facebook, pelo que podemos sugerir, com alguma cautela, que no Facebook a discussão terá sido mais polarizada em torno do apoio ou reprovação do jogador.

Também relacionado com o ponto anterior, observou-se que um considerável número de posts e comentários se agrupavam numa categoria que estabelecia uma ligação com Lionel Messi e/ou referências à bola de ouro, Real Madrid e Barcelona. A percentagem de posts desta natureza foi mais expressiva no Facebook do que no Twitter: 16% no Facebook contra apenas 6% no Twitter.

Por outro lado, os comentários Pró-Portugal/Anti-França mereceram mais atenção no Twitter (28%) do que no Facebook (18%) assim como os comentários Pró-França/Anti-Portugal embora em menor escala (16% e 12% respetivamente).

Em suma, o estudo permitiu identificar diferenças nas discussões que ocorreram nas duas redes sociais. No Twitter, deu-se mais atenção às seleções e à final propriamente dita, assim como a Cristiano Ronaldo. Mas mesmo no que respeita o jogador português, no Twitter valorizou-se mais a lesão e aspetos do jogo, enquanto que no Facebook destacaram-se sobretudo os elogios ao jogador e a discussão em torno de clubes e rivalidade com Lionel Messi foi mais acentuada nos comentários de páginas no Facebook.

Twitter - Análise de opinião (tópicos)

Facebook - Análise de opinião (tópicos)

Metodologia

Neste estudo foi seguida a metodologia proposta pelo Pew Research na análise de enquadramentos de discussão nas redes sociais através da plataforma de codificação da Crimson-Hexagon. Este software permite analisar o conteúdo escrito de utilizadores ou páginas públicas. Explicado de forma muito abreviada, a plataforma classifica o conteúdo online através da identificação de padrões estatísticos das palavras de uma mensagem, através de um processo de treino efectuado por um codificador humano devidamente treinado para o efeito. Informação detalhada sobre o algoritmo que suporta a plataforma Crimson-Hexagon pode ser consultada no artigo A Method of Automated Nonparametric Content Analysis for Social Science (http://gking.harvard.edu/files/abs/words-abs.shtml).

Foram consideradas as redes Twitter e Facebook sendo que nesta última apenas é possível analisar o conteúdo das páginas públicas. Em contrapartida, no Twitter, dada a disponibilidade de toda a atividade pública, a análise cobre todo o universo de conversação. Em ambas as redes são consideradas apenas as línguas inglesa, francesa, espanhola, portuguesa e italiana, incluindo tweets, retweets, menções e comentários (no caso do Facebook) entre 10 e 11 de julho.

O estudo considerou 3 dimensões:

•   O Buzz criado em torno do jogo final do Euro 2016, ou seja, a análise das conversações mantidas no Twitter e páginas públicas do Facebook através da análise automática do algoritmo ™Brightview;

•   A opinião gerada nessas conversações, através da análise temática com recurso a categorias criadas pelo investigador.

•   A análise da conta de Cristiano Ronaldo no Twitter (handle da conta oficial).

Para incluir o maior número possível de artigos na análise foram consideradas as seguintes palavras-chave: #por Portugal "Cristiano Ronaldo" cr7 ronaldo cristiano #euro2016 "euro 2016" #fra #porfra euro2016 euro16 France griezmann #frapor #euro2016final eiffel fan tifoso adepto français francês french francés francese portuguese portoghese portugués português.

Gráficos adicionais

Análise sentimento: Cristiano Ronaldo

Análise sentimento: Antoine Griezmann

Análise sentimento: França

Análise sentimento: Portugal

Comparação Facebook - Twitter

 

 

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