Revolta, alegria e ignomínia - TVI

Revolta, alegria e ignomínia

  • Redação
  • Gustavo Cardoso, Professor Catedrático do ISCTE-IUL
  • 16 jul 2016, 17:55
Atentado em Nice

Entre aquilo que parece impossível, por tão atroz e desumano que é, como o atentado de Nice no dia da Bastilha e aquilo que já se pensava não poder acontecer, um golpe de estado na Turquia, num país em negociação de adesão à Europa, a semana foi feita de surpresas - embora com uma atenção crescente nas notícias mas ainda não suficiente para entrarem no Top 10 de temas da semana

Como era expectável, por se tratar da nossa primeira vitória num Euro, a semana continuou dominada pelo jogo do passado domingo e pelo verdadeiro triunfo que foi a chegada a Lisboa, fazendo lembrar os festejos da Roma antiga perante o general romano regressado vitorioso da sua campanha. Foi também esse fenómeno, de vitória da seleção de futebol e a sua condecoração pelo Presidente da República, que criou a surpresa de, pela primeira vez, as vitórias de atletas nacionais no atletismo terem sido um dos temas da semana, chegando até à sexta posição.

Para além do choque, da surpresa e da alegria dos triunfos, a semana continuou com as preocupações Europeias em Portugal, com o Brexit que nos toca a todos, desde as discussões no conselho de estado até aos comentários dos “conselhos de estado” nas esplanadas deste verão.

Do ponto de vista dos portugueses foi também uma semana de justiças e injustiças, os desempregados deixaram de ter de fazer uma apresentação semanal, embora mantendo as restantes regras, e as sanções a Portugal no quadro do outro Euro, o do Eurogrupo e Ecofin, foram largamente percebidas pela maioria dos portugueses como um ataque direto ao seu quotidiano, demonstrando que não é apenas o futebol que une e que a Europa está a ficar, pouco a pouco, mais longe dos corações dos cidadãos e é, crescentemente, associada a injustiça.

A maior parte dos temas noticiosos da semana envolve acontecimentos, negativos na sua maioria, mas não se esgota aí. Dois nomes, Durão Barroso e António Guterres, foram também tema, mas por razões opostas. António Guterres por ter tido uma prestação excepcional no debate entre candidatos a secretário geral das Nações Unidas e Durão Barroso por ter aceite ser Chairman da Goldman Sachs. Claramente, a polémica está com Durão Barroso, com Presidentes de países e membros da Comissão Europeia a condenarem a aceitação desse cargo como um exemplo negativo e de ignomínia.

Durão Barroso é enquanto pessoa livre de fazer o que entender, mas enquanto político é incompreensível que decida ir para o sector financeiro depois da crise que, pessimamente, geriu na Europa. Por outro lado, o convite e aceitação não podiam acontecer em pior momento para Durão, visto que coincidiram com o momento de apresentação no Reino Unido do relatório sobre a invasão do Iraque, patrocinada também pelo ex-Primeiro Ministro português, e pela percepção de que a extensão à Europa da guerra no médio oriente, através do terrorismo, tem as suas raízes nessa invasão.

A pergunta, que terá resposta em breve, é saber se o negócio da Goldman Sachs com Durão não têm tudo para vir a ser ruinoso, pois a discrição, confiança e a credibilidade são os atributos centrais para a banca e a polêmica com seu novo Chairman é antítese de tudo o que a Goldman mais precisa hoje.

A semana que terminou foi, assim, uma semana de emoções ao rubro numa mistura do melhor e do pior que os indivíduos e as sociedades são capazes.

 

 

 

Ficha técnica:

O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.

Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.

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