Sabemos que as notícias Brexit foram um terço do total das 413 diferentes peças noticiosas captadas por este barómetro. Isto é: hoje em dia o Brexit tornou-se uma indústria… a prova que quando uns choram outros aproveitam para vender lenços de papel (neste caso papel de jornal).
A maior parte destas notícias tem a ver com as consequências para a União Europeia, para a economia global e até para Portugal. Porém, das 136 notícias Brexit pelo menos um terço representam notícias sobre desenvolvimentos internos. Foquemo-nos nestas.
Na Inglaterra parecem haver dois tipos de políticos.
Por um lado, os que perderam o referendo mas que talvez não queriam ganhar: Cameron. Este tem parecido tão descontraído que nem parece ter-se demitido em função de ter desencadeado um mega-evento político sem dele ter tido necessidade. Pelo contrário, não se arrepende: culpou a Europa na sua última aparição numa cimeira.
Por outro lado, há os que ganharam o referendo e afinal não sabem o que fazer com ele: Boris Johnson nunca articulou um plano para o “day after” e retirou-se da corrida a chefe dos Conservadores e Primeiro Ministro.
E entre este dois tipos de políticos há ainda uma figura unidimensional: o líder trabalhista, o qual não convocou o referendo nem muito menos o ganhou e que tem sido metralhado pelos seus correligionários.
Enfim, para parafrasear Churchill (desde quando um comentário fica completo sem usar a retórica deste outro Conservador que ganhou a guerra só para em seguida ser recompensado com a perda do governo?!): o Reino Unido é um país dividido que está dissolvido pela novidade de um caos político cortado a meio por uma guerra civil dentro de cada um dos seus maiores partidos.
São surpresas em cima de choques por sobre disrupções. Não é todos os dias que a política rivaliza com as bolsas ao nível das suas incertas palpitações.
Ficha técnica:
O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho. A codificação das notícias é realizada por Rute Oliveira, João Lotra e Sofia Barrocas. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.
Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Em 2016 fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.