Basileia, 35 anos: «Dava vontade de dar cabo da cabeça do árbitro» - TVI

Basileia, 35 anos: «Dava vontade de dar cabo da cabeça do árbitro»

Juve-FC Porto, 1984

As memórias de Jaime Magalhães e Eduardo Luís da primeira final europeia do FC Porto, perdida com contestação para a Juventus

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Há 35 anos, os portistas jogaram a primeira final de uma competição europeia: Basileia, cidade helvética, 16 de maio de 1984, final da Taça das Taças. Festa e troféu para a Juventus. Derrota, revolta e contestação dos dragões à arbitragem do alemão Adolf Prokop.

Da balança emocional pela doença que afastou o treinador José Maria Pedroto da final na Suíça à ira de Zé Beto com um árbitro assistente, o decisivo golo do polaco Zbigniew Boniek a intrigar o FC Porto.

Eduardo Luís e Jaime Magalhães foram dois dos nomes icónicos que alinharam no antigo St. Jakob Park, demolido em 1998. Do outro lado, uma equipa recheada de internacionais italianos, com dois estrangeiros a pautar: o francês Michel Platini e o já falado Boniek. No comando, Giovanni Trapattoni.

António Sousa ainda respondeu ao golo inicial de Vignola, mas Boniek fez o 2-1 final, ainda na primeira parte: tão polémico quão decisivo.

«O Boniek atropela toda a gente e o árbitro deixa passar uma falta que existiu sobre os nossos defesas. Fizemos todos os possíveis para ganhar o jogo dentro da normalidade. Não conseguimos por outros factos. Perdemos uma final, viríamos a ganhar outras a seguir», recorda Jaime Magalhães, ao Maisfutebol. «Estou convencido que se houvesse na altura o vídeo-árbitro, tinha seguido na mesma», completa Eduardo Luís.

As imagens do Juventus-FC Porto de 1984 (2-1):

«Foi das finais mais bem disputadas. A Juventus era o top das equipas, nós éramos principiantes. Fomos para uma final, praticamente sem nos conhecerem. Foi a partir daí que o FC Porto começou a ser conhecido», frisa Jaime Magalhães, que daria lugar ao único estrangeiro que jogou pelo FC Porto nessa final: o irlandês Mike Walsh, aos 64 minutos, quando os portistas já perdiam 2-1.

«Foi para tentarmos cruzamentos, o Walsh era excelente nesse capítulo, mas não deu frutos. Tínhamos uma equipa com portugueses, um grupo forte e conseguimos fazer com que o FC Porto viesse a vencer mais competições», afirma Jaime.

Eduardo Luís atesta que, se o FC Porto – que até esteve perto – conseguisse o 2-2 no marcador, algo mais poderia acontecer em prejuízo próprio. «Possivelmente, como as coisas se passaram, mesmo que marcássemos, algo poderia acontecer em favor da Juventus», defende.

Tudo por Pedroto

António Morais comandou o FC Porto na final de Basileia. Antes, o presidente, Pinto da Costa, colocou um incentivo de 500 contos [ndr: 2500 euros], pechincha na década de 80. Contudo, era, sobretudo, pelo «senhor Pedroto» que a equipa estava unida. Antes e depois.

«Tínhamos, no senhor Pedroto, uma pessoa que nos guiou e que nos levou àquela final. Era um desejo enorme dele ganhar um título europeu. Fizemos tudo para que acontecesse. No final, fomos a casa dele: dar-lhe uma palavra, num tributo ao trabalho que o senhor Pedroto tinha feito», ilustra Eduardo Luís, outrora defesa central, de barba rija.

Não houve vitória para dedicar a Pedroto, mas Jaime sublinha que o FC Porto fez «um jogo espetacular», colocando a Juventus à defesa e «como uma equipa vulgar». «Fez arrastar uma multidão de portistas a Basileia. A Juventus era a seleção nacional, a maior parte dos jogadores, com inclusão do Platini e Boniek. E, para uma equipa que dava os primeiros pontapés na Europa, a percentagem de resultado positivo era baixa. No final, ficou um amargo forte pela forma como perdemos», nota Eduardo.

«Estava tudo feito para a Juventus ser campeã»

Esse «amargo» consumou-se com a ira de Zé Beto, guardião do FC Porto. Encarou um dos árbitros auxiliares e acabou suspenso um ano das provas da UEFA, falhando o Europeu de 1984.

«Ficámos todos chateados e dava-nos vontade a todos de dar cabo da cabeça do árbitro. Estava tudo feito para a Juventus ser campeã. O poderio deles era mais forte e foi por causa disso que venceram», atira Jaime Magalhães.

Para recordar: A prece de Pedroto, a loucura de Zé Beto, «um roubo histórico»

«Fomos prejudicados por uma arbitragem parcial, que protegeu a equipa da Juventus. E numa reação a quente do nosso guarda-redes a um dos auxiliares», conclui Eduardo Luís, hoje com 63 anos e bem-disposto, pesem sequelas físicas que o futebol deixou.

«Devido ao futebol, acabei de ser operado a um joelho, coloquei uma prótese na quinta-feira. Sinto-me bem, estou porreiro, a recuperação vai ser boa, para a próxima época já estou pronto (risos)».

AS EQUIPAS DO JUVENTUS-FC PORTO (1984)

JUVENTUS: Stefano Tacconi; Claudio Gentile, Sergio Brio, Gaetano Scirea, Antonio Cabrini; Massimo Bonini, Michel Platini, Marco Tardelli, Beniamino Vignola (Caricola, 89’); Paolo Rossi, Zbigniew Boniek. Treinador, Giovanni Trapattoni.

FC PORTO: Zé Beto; João Pinto, Eduardo Luís (José Alberto Costa, 82’), Eurico Gomes, Lima Pereira; Jaime Magalhães (Mike Walsh, 64’), Jaime Pacheco, Frasco, António Sousa; Fernando Gomes, Vermelhinho. Treinador, António Morais.

(Artigo originalmente publicado às 23:52 de 15-05-2019)

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