Liga: no topo, o centro da defesa é de extremos - TVI

Liga: no topo, o centro da defesa é de extremos

Questões centrais

FC Porto tem a dupla mais veterana, Benfica uma das mais jovens, batida apenas pelo... Famalicão. Um olhar para as diferentes apostas, com a ajuda de quem andou lá dentro

No topo da Liga, o centro das defesas é de extremos. O FC Porto tem a dupla mais «velha», com Pepe e Marcano, o Benfica tem em Ferro e Rúben Dias uma dupla muito jovem, ainda que não tanto como a do Famalicão, que era líder à entrada para a 8ª jornada e segue em terceiro lugar. Caminhos bem diferentes num setor crucial em campo, ainda que dependa também muito da dinâmica de jogo da própria equipa. Há várias formas de chegar ao sucesso e o Maisfutebol foi olhar para essas diferentes apostas.

O Benfica tem nesta altura a melhor defesa do campeonato, com três golos sofridos. O FC Porto vem logo atrás, com quatro. O Famalicão tem 10 golos sofridos, tantos como o Sporting, por exemplo. O Boavista, que tem outra das duplas de centrais mais experientes da Liga, com Neris e o veteraníssimo Ricardo Costa (38 anos), leva apenas cinco golos sofridos, tal como o V. Setúbal, que tem uma dupla de centrais mais jovem e com idades mais próximas.  

Partindo dos extremos o Maisfutebol olhou para as outras duplas centrais de referência das equipas da Liga. O Sporting também aposta em dois centrais experientes, Mathieu (36 anos completados nesta terça-feira) e Coates (29 anos), mas há vários clubes com duplas de centrais mais jovens, e também vários em que a norma é uma mistura de experiência com maior juventude.  

Nuno André Coelho jogou no FC Porto, no Sporting e no Sp. Braga, teve várias experiências no estrangeiro e terminou no Desp. Chaves. O antigo defesa de 33 anos, que está a deixar o futebol para trás, olha com o Maisfutebol para as várias opções na Liga e começa por notar que ter uma referência experiente é uma boa forma de um central mais jovem crescer.

«Quando se joga ao lado de um jogador com uma certa experiência aprende-se a lidar com algumas situações. Principalmente num jogo grande, um clássico, um dérbi, um jogo da Liga dos Campeões ou da Liga Europa. É sempre mais fácil quando se tem uma pessoa experiente ao lado», observa.

Maior juventude, defende, pode envolver maior risco. Mas o antigo central também salienta que o que importa sempre, obviamente, é a qualidade: «De uma dupla de centrais como tem o Benfica, ou o Famalicão, pode-se esperar que trema em algumas situações. Mas isso é sempre relativo. O fundamental numa dupla é que se deem bem, que comuniquem bem um com o outro. E que tenham qualidade, naturalmente.»

Mas há situações em que a maior ou menor experiência pode fazer a diferença, continua Nuno André Coelho, dando o exemplo concreto do clássico da 3ª jornada na Luz, que o FC Porto venceu por 2-0: «Sinceramente, acho que no Benfica-FC Porto isso foi um bocado fundamental, não só pelos centrais mas também pelo facto de a defesa do Benfica ser toda muito jovem. O FC Porto tirou partido disso.» Nesse jogo, além de Rúben Dias e Ferro o Benfica teve ainda Nuno Tavares no lado direito da defesa, com Grimaldo à esquerda.

O que a experiência traz…

A experiência, considera Nuno André Coelho, começa por ajudar a ler o jogo, a antecipar situações. «A experiência é fundamental no posicionamento. Saber posicionar-se para o que pode vir a acontecer. A partir dos 25, 26 anos já estamos num patamar completamente diferente. A grande diferença é mesmo o posicionamento», afirma, para ressalvar: «Apesar de existirem muitos jogadores jovens que já sabem posicionar-se muito bem.» E a experiência, continua, traz também uma abordagem mais serena ao jogo: «Há muito mais tranquilidade. Mesmo quando se sofre um golo e estamos em desvantagem, um jogador mais experiente à partida tem muito mais condições para poder defender melhor.»

Mas essa experiência não se mede necessariamente apenas pela idade. «Quantos mais jogos nas pernas melhor», nota. «Às vezes um jogador de 21 ou 22, como o Rúben Dias ou o Ferro, já está desde os 18 a jogar regularmente e tem muita experiência acumulada. Vai chegar aos 23, 24 anos, com uma experiência completamente diferente de um central que não jogue», observa, para concluir aprovando a aposta das águias: «O Benfica está a arriscar, mas acho que vai compensar.»

… e o que se pode perder com o avançar da idade

Olhando pelo lado oposto, o que pode perder um defesa central com o avançar da idade? Varia muito, defende Nuno André Coelho: «Depende do jogador, de quão focado ele está. Mas com o desgaste vai faltar sempre um bocado da velocidade que o jogador tinha», nota, acrescentando outro dado: «O excesso de tranquilidade às vezes também pode ser fatal nalguns jogos. Demasiada autoconfiança pode acabar por prejudicar.»

No caso concreto do FC Porto, Nuno André Coelho diz que Marcano e Pepe se complementam, independentemente do Bilhete de Identidade: «Essa dupla fica bem junta, são bons jogadores e preenchem as lacunas um do outro. O Pepe para mim é um dos melhores centrais do mundo.»

Pepe e Marcano estão entre as duplas de utilização mais regular do campeonato. Ambos jogaram todas as partidas, ainda que o internacional português não seja totalista, por ter sido substituído em cima do intervalo, por lesão, no jogo da quarta jornada com o V. Guimarães.

Benfica e Famalicão, as duas duplas de centrais totalistas na Liga

No Benfica, Rúben Dias e Ferro fizeram todos os minutos dos oito jogos da Liga, tal como a dupla do Famalicão: o argentino Nehuén Pérez, que tem 19 anos, e o brasileiro Patrick, de 22 anos. Curiosamente, as duas duplas mais jovens.

Nenhuma outra dupla de centrais é totalista na Liga, ainda que o Sporting esteja perto: Mathieu jogou todos os minutos possíveis e Coates apenas falhou um jogo, por castigo. As outras duplas mais estáveis são de duas das defesas menos batidas: o Boavista, que tem Neris totalista e Ricardo Costa com seis jogos, e o V. Setúbal, com Artur Jorge (25 anos) como totalista e Bruno Pires (27 anos) também com oito jogos, mas apenas um minuto em campo num deles, quando rendeu Vasco Fernandes na primeira jornada.

Vários clubes têm um jogador mais experiente como referência, havendo maior variação no outro elemento do centro da defesa. Os outros centrais totalistas da Liga são os veteranos Yohan Tavares, no Tondela, Zainadine, no Marítimo, Iago Santos, no Moreirense e Marco Baixinho, no Paços Ferreira, mas também os mais jovens Dzwigala no Desp. Aves e Fábio Cardoso, no Santa Clara, que têm jogado também em sistema de três centrais.

Steven Vitória, no Moreirense, e Aderllan Santos, no Rio Ave, são os outros centrais «trintões» com utilização regular na Liga, onde também há outros casos de afirmação precoce, com destaque para o vimaranense Tapsoba, de 20 anos.

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